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Brasília

Adoção: muito além de um perfil

Arquivo Geral

20/01/2013 9h40

Patrícia Fernandes

Especial para o Jornal de Brasília


A decisão de adotar uma criança transforma a vida dos envolvidos no processo. Os pais precisam se adaptar à chegada do filho que escolheram, e o adotado, ao novo universo. Ao longo dos anos, o cenário da adoção no DF vem passando por importantes mudanças. Embora não haja um estudo específico para o DF, é nítido o aumento da procura por crianças mais velhas, e a diminuição da preferência por raça e sexo. As informações são da Vara de Infância e Juventude (VIJ). 

Segundo a supervisora substituta de adoção da VIJ, Niva Campos, os desejos iniciais de quem pretende adotar podem mudar ao longo do processo. “No momento da apresentação da criança, ou durante a espera pela adoção, pode haver mudança do perfil desejado”, diz.

Em 2012, foram 68 crianças  entregues a inscritos para adoção no DF. Esse número não representa o número de processos finalizados, com sentença, mas de crianças que foram colocadas em família adotiva, com relatório da Seção de Colocação em Família Substituta – ou seja, ainda aguardam decisão definitiva da Justiça.

 Ainda no ano passado, foram proferidas 144 sentenças de adoção, sendo 26 casos por extensão do poder familiar e duas adoções internacionais. Ainda não houve registros em   2013.

 

A decisão


A história de Valéria,   50 anos, e Henrique (nomes fictícios), 61 anos, é exemplo disso. Casados há 20 anos, eles não tiveram filhos biológicos. No início do casamento, Henrique não desejava ter filhos. E ela, apesar de querer, optou por respeitar a decisão do marido. “Tinha a esperança de fazê-lo mudar de ideia. Como ele sempre teve uma índole maravilhosa, sabia que isso mudaria”, conta Valéria. 

Mas o destino separou uma surpresa desagradável para os dois, logo no momento em que os objetivos tornaram-se compatíveis e eles decidiram que era o momento de ter um filho. Valéria teve de retirar o útero em decorrência de problemas de saúde, agravados pela diabetes e obesidade. O momento delicado fortaleceu  a união   e eles decidiram adotar uma criança. “Pela primeira vez, cogitamos  a possibilidade e demos entrada ao processo”, relata.

 

Escolha por dois irmãos


A batalha de Valéria e Henrique pela adoção começou há três anos, mas somente há dois meses o sonho tornou-se realidade. Adotaram os irmãos Samuel, 7 anos, e Taís, 3, (nomes fictícios). Valéria conta que o objetivo era adotar apenas uma criança, com idade até 4 anos. A raça e a hereditariedade não eram relevantes para o casal. Mas, ao chegar ao abrigo, tudo mudou. “Encantei-me com o Samuel. Ele se isolou e ficou cuidando da irmã. Imediatamente, mudei meu perfil para crianças de três a sete anos”, conta. E ao  fazer a alteração,  a posição na fila  mudou. “Estava na 360ª posição, e fui para a 120ª”, afirma.

Ao escolherem Samuel, houve mais uma surpresa: a exigência do garoto era que sua irmã  fosse adotada junto a ele. “Ainda não tínhamos prestado atenção na Taís, então voltamos ao abrigo e ficamos admirados. A partir de então, decidimos que adotaríamos os dois”, diz.

 Hoje, a rotina  ganhou mais alegria com a chegada dos filhos. “Fico emocionada cada vez que os escuto me chamarem de mãe”.

 

Encontro de mãe e filha


A aposentada Eunice da Paz Guimarães, 66 anos, tem dois filhos biológicos. Ela não tinha o desejo ter mais filhos. Entretanto, há 20 anos, isso mudou. Ela conheceu uma moça que estava grávida e passava por necessidades, e decidiu ajudá-la. Quando a criança completou seis meses, a mãe quis oferecê-la a Eunice. A princípio, ela recusou, mas já estava apegada ao bebê e acatou a decisão. Um dia após a   troca da guarda,   a mulher morreu.

“Enfrentei o preconceito de muita gente e não tive apoio. Achavam que eu já estava velha para ter um filho, mas segui o coração”, conta.

Ainda bebê, Anna Karine foi vítima de uma infecção generalizada e correu risco de morte. “Os médicos diziam que bastava desligar os aparelhos para que ela morresse. Falavam que não havia mais o que esperar. Mas eu sabia que venceríamos essa”, diz.

Para a surpresa de todos, ela se recuperou e hoje é a melhor amiga da mãe. “Acho que Deus nos colocou na vida uma da outra para nos ajudarmos. Sem ela, não sei como seria quando fiquei viúva”, conta.

Emocionada, Anna afirma que é grata por ter sido escolhida: “Foi a mãe que Deus me enviou”.

 

Cadastro do DF

 

Crianças disponíveis para adoção

Segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção, o perfil das crianças disponíveis para adoção é variado. No momento, no DF, a lista conta com 45 meninas e 60 meninos.

Aproximadamente 70% têm entre oito e 17 anos, sendo que mais de 50% das crianças já completaram 17 anos. Em relação à raça, quase 70% das crianças são definidas como pardas, 15% como brancas e 15% como pretas.

 

Ponto de vista

 

De acordo com Soraia Rodrigues, presidente da instituição Aconchego, iniciativa que desenvolve programas de convivência familiar e comunitária, ao optar pela adoção, é preciso se preparar para o longo caminho a ser percorrido. “O processo passa por muitas etapas jurídicas e emocionais. O pretendente precisa estar ciente disso”, observa.

Já a psicóloga Érica Machado afirma que é essencial que todos os envolvidos no processo sejam acompanhados por um psicólogo.

 

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