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Brasília

Crianças se vestem e se comportam como se fossem adultas. Gostam de maquiagem e acessórios

Arquivo Geral

30/12/2012 10h55

Soraya Sobreira e Camila Maxi 

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Heloá já frequenta curso de modelo e escolhe sozinha as roupas que quer usar

 

  

Apesar da pouca idade, elas não escondem que são fascinadas pelo mundo adulto feminino. Em busca da beleza e da perfeição, meninas tendem a exagerar na vaidade, e a imitar o comportamento das mães. Mas, às vezes, vão além. Para frequentar esse mundo, lançam mão de tudo: bolsas, cintos, esmaltes e maquiagens. O assunto é polêmico. Enquanto alguns acreditam que esse comportamento não passa de mais uma brincadeira de criança, outros são categóricos em afirmar que vaidade é assunto restrito ao universo dos adultos.

 

Luise Machado, de nove anos, não quer nem saber. “Sou vaidosa assumida”, diz a menina que carrega os olhos de máscara para cílios, lápis e sombra rosa. Desde os sete anos, ela se maqueia sozinha. “Sempre mexi nas coisas da minha mãe, então ela passou a comprar as minhas”, explica. O batom preferido de Luise é o rosa puxado para o vermelho. Na bolsa, não pode faltar os batons, espelho, celular, carteira e outros acessórios. “Eu coleciono enfeites para cabelo também”, completa. As unhas são sempre bem feitas, também no tom rosa. “Tenho todas as novidades,  como o 3D, e gosto de colocar florzinha, coração e outros enfeites”, confessa a menina. 

 

O pai de Luise, Allan Medeiros, 40 anos, farmacêutico-bioquímico, garante que toma precaução com a vaidade da filha. “Temos o cuidado de ver se é um produto direcionado para crianças. Sabemos do risco exatamente por envolver regiões como olhos e boca”, explica.

 

Indústria emergente 

A entrada precoce no mundo dos adultos reflete na indústria afim. O comércio infantil tem apresentando crescimento. Para a indústria de higiene e beleza, a estimativa é crescer 12% este ano, informa a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Somente, no primeiro semestre, os fabricantes de produtos de higiene e beleza registraram faturamento de R$ 15,4 bilhões, um crescimento real (descontada a inflação) de 10,3% sobre o mesmo período do ano passado. Em todo o ano passado, a indústria brasileira do setor faturou R$ 29,4 bilhões. 

 

A dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Cristiane Dal Magro, avisa que criança deve evitar o uso de maquiagem porque a pele não é igual ao do adulto. “É sensível até mesmo a reações alérgicas com o contato de substâncias químicas que podem trazer problemas para o futuro”, afirma. Outro fator a ser considerado é o desenvolvimento psicológico. “É um consenso dos especialistas que o uso destes cosméticos leva a uma aceleração na maturidade”, garante Dal Magro.

 

Perigos químicos na maquiagem

 

 Há dois meses, Heloá, que tem apenas três anos de idade, foi matriculada em curso de modelo na agência de modelos Scouting, na Asa Sul. “São 14 anos trabalhando com este público e percebemos que elas gostam muito de ser arrumar. Então, muitas vêm por desejo próprio, porque podem se maquiar e escolher as roupas que vão vestir, além de desfilar”, explica Luanda Almeida, booker na agência. 

A mãe da menina, Michele Marques, 38 anos, coordenadora de eventos, não esconde que fica encantada com a vaidade da filha. “Ela já diz que quer ser atriz e está sempre pronta para ser fotografada ou filmada, afirma. As turmas, em média com 15 alunos, recebem crianças entre três e 12 anos de idade, que desembolsam R$ 500 para três meses de curso.

Um dos perigos desse comportamento prematuro é a sensibilidade aos componentes químicos presentes nos comésticos. 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autarquia vinculada ao Ministério da Saúde, é responsável pelo registro de produtos cosméticos, incluindo os infantis. O órgão recomenda que para se ter certeza da qualidade do produto, a primeira providência é procurar o número de registro na embalagem. 

 

A agência alerta que as crianças devem utilizar apenas produtos infantis, pois são elaborados de forma a manter as características da pele. Alguns desses produtos são dermatologicamente testados ou hipoalergênicos, o que significa que foram testados com relação ao risco de surgimento de manifestações alérgicas.

 

Um requisito essencial para a maquiagem infantil é ter baixo poder de fixação e ser facilmente removida da pele com água. Cada tonalidade de blush e rouge, por exemplo, deve ser testada antes de entrar na fase de comercialização, para que seja avaliado o potencial de irritação, sensibilização e toxicidade oral.

 

Título de Miss Brasil é do DF



Não muito distante existe um mundo onde crianças são representadas por outras crianças, que são portavoz de suas razões e donas de inigualável beleza. Dessa mágica mistura nasceu o Miss Brasil Infantil, onde misses de todos os estados brasileiros concorrem ao título nacional.

A pequena Camila Sales, de apenas oito anos, venceu o Miss Brasil Infantil Distrito Federal 2012.

Camila é carismática e muito inteligente. Sua mãe Roberta Sales conta que foi a pedido da filha que ela fez inscrição no concurso. Entre 18 participantes, Camila conquistou a faixa, sendo a mais nova entre todas. No concurso, competiam meninas de oito a 12 anos. O certame foi o primeiro realizado no DF.

“Camila sempre foi vaidosa, acredito que puxou a mim. A participação no Miss se deu em um processo natural, o incentivo dos amigos apenas ajudou. Quero que as coisas aconteçam em seu determinado tempo”, explica Roberta. 

Ela conta que se preocupa com a adultização precoce de Camila, e que cuida para que a filha não pule nenhuma etapa da infância. “Está tudo recente, mas tenho pensado muito sobre não ultrapassar os limites dela”, comenta.

A mãe de Camila afirma que o título calhou com a personalidade da filha. “Ela é comunicativa e se expressa bem”, elogia. 

O cuidado com a beleza de Camila vem de berço, a menina diz que se inspira na mãe para se arrumar. “Quando era mais nova pegava as roupas, sapatos e maquiagem dela para usar em casa”, revela Camila.

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