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Mundo

Mistérios saudistas. Entrou na Arábia, sumiu

Arquivo Geral

12/11/2018 8h11

REUTERS/Lucas Jackson

Eduardo Brito
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A Arábia Saudita ficou complicada. Na dúvida, é melhor evitar acesso a seus consulados. O último jornalista que fez isso saiu de lá aos pedaços, semi-dissolvido em ácido. Mas visitar o país também tem seus problemas. Que o diga o presidente do Gabão, Ali Bongo, que apareceu por lá para falar do principal produto dos dois países, o petróleo. Até hoje não retornou.

Como o Ali Bongo está? Perguntas sobre o estado de saúde de seu presidente têm intrigado os gaboneses há quase duas semanas. Nesse pequeno emirado petrolífero da África Central, quem sabe dizer o mínimo possível observa um silêncio cúmplice, enquanto todos os outros especulam.

O que se sabe é limitado: Ali Bongo sofreu um derrame pouco depois de chegar a Riad na quarta-feira, 24 de outubro. Qual é a gravidade? Quais serão as consequências? A Arábia Saudita não revela – a imprensa de lá não é exatamente investigativa, nem livre. O Gabão não revela e suas autoridades se dizem desinformadas.

“Ele foi operado para limpar o sangramento e mantido em coma artificial. Por enquanto, estamos à espera “, informa à imprensa local, sob condição de anonimato, um parente do presidente que, como vários outros, trabalha no Palácio do governo que fica no litoral de Libreville, a capital.

Domingo, 28 de outubro, quando todo tipo de rumor movimentava o Gabão, o porta-voz da Presidência quebrou o silêncio oficial. Parecia os tempos do marechal Costa e Silva no Brasil. Em um discurso pela TV, falou de um “mal-estar” que virou “fadiga severa devido à atividade muito forte nos últimos meses” .
O porta-voz Ike Ngouoni acrescentou que Bongo “está melhorando e descansando, agora mesmo, no hospital Rei Faisal, cercado por sua família e alguns de seus colaboradores”. A partir daí, só um silêncio rigoroso.

Apesar dos rumores de uma transferência médica para a Europa, Ali Bongo permanece hospitalizado na capital saudita, onde o poderoso príncipe Mohammed Ben Salman – conhecido por MBS e responsabilizado pelo assassinato do jornalista – visitou-o no dia seguinte ao ingresso no hospital.

Nesse momento, a segunda edição da conferência Iniciativa para o Investimento Futuro, em Riad, enfrentava onda de cancelamentos após as revelações sobre o caso do assassinato do jornalista Khashoggi , mas Ali Bongo tinha mantido a sua presença no encontro, apelidado de “Davos do deserto”. Era o único chefe de estado africano, ao lado de Macky Sall do Senegal. Oficialmente, queria “vender o destino Gabão e atrair mais investidores”.

Junta informal é criada

No Gabão, embora ninguém pareça ser capaz de determinar se o presidente retornará ao cargo e muito menos quando, já se cancelou uma viagem oficial à França, marcada para esta semana.

De modo informal, uma “troika ” foi criada para garantir a continuidade do Estado. Foi, aliás, justamente o que aconteceu no Brasil quando o presidente Costa e Silva sofreu um derrame. A junta seria composto pelo coronel Frederic Bongo, meio-irmão do presidente, Brice Laccruche Alihanga, chefe de gabinete presidencial, e Maria Madalena Mborantsuo, presidente da Tribunal Constitucional.

Frederic seria responsável por supervisionar a segurança do país e os interesses da família Bongo, Alihanga pela administração do governo e Maria Madalena desempenharia um papel vital. É ela quem tem o direito de declarar uma vaga de poder e, assim, abrir uma transição. Nesse caso assume o presidente do Senado. Ela se limita a afirmar que “como está, não há impedimento definitivo ou vácuo de poder”, afirma o presidente do Tribunal Constitucional.

Claro, o líder da oposição, Jean Ping, já fez “um discurso à nação” no qual ele convida seus compatriotas a “reunir-se” . Derrotado em eleição anterior, afirmou que ainda se considera “o presidente eleito” pelos gaboneses, sem mencionar a saúde de Ali Bongo.

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