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Responsabilidade e família estão no filme alemão ‘Jack’

Arquivo Geral

20/10/2014 17h37

Havia quatro filmes alemães na competição da Berlinale deste ano. Foram todos preteridos na disputa do Urso de Ouro. O que se saiu melhor foi “Kreuzweg – Stations of the Cross”, de Anna e Dietrich Bruggemann, que ganhou o Urso de Prata de roteiro. Um filme sensível como “Jack” terminou passando batido. Tem gente que gosta de dizer que Berlim, o mais politizado dos festivais, crê em lágrimas. Não funcionou, neste caso. “Jack” é muito bonito. Edward Berger, de alguma forma, (re)fez “Os Incompreendidos”, de François Truffaut, para o século 21.

O cinema já contou, e continua contando, muitas histórias de famílias disfuncionais, de pais e mães drogados. A mãe de Jack é trabalhadora, possui uma casa e existem momentos no filme em que ela é extremamente terna e calorosa com os filhos. Mas ela também é jovem, e ardente. Em vez dos filhos, prioriza a si mesma – seu desejo, sua necessidade. A família é separada. Jack vai para um albergue, sofre bullying, mas resiste. Neste fim de semana em particular, a mãe deverá buscá-lo. Mas ela não aparece Jack se envolve numa situação de violência, reagindo ao fortão que o oprime, e foge. Pega o irmão e, com ele, busca a mãe.

É curioso como o filme de Edward Berger se situa na contracorrente de outro filme que também concorreu em Berlim, em fevereiro – o brasileiro “Praia do Futuro”, de Karin Aïnouz. No filme brasileiro – parcialmente desenrolado na Alemanha -, um irmão (Jesuíta Barbosa) procura o outro (Wagner Moura) que foi se esconder na Europa para viver sua homossexualidade. Wagner, o seu personagem, abandona tudo – a mãe, o irmão – para viver sua história de amor. É um pouco como a mãe de Jack, que coloca seus desejos acima de tudo.

Jack, não. Tal como é interpretado por Ivo Pietzeker, ele evoca o inesquecível Enzo Staiola de “Ladrões de Bicicletas”, o clássico neorrealista de Vittorio De Sica. Embora criança, Enzo tinha aquela cara sofrida de quem tudo viu, e compreende. No final do filme de De Sica, é o aperto de mão do filho que dá força ao pai humilhado (Lamberto Maggiorani) para seguir em frente. Ivo Pietzeker soma um pouco da revolta do garoto Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud) de Truffaut à determinação do pequeno Staiola. Se a mãe é irresponsável e só pensa nela, Jack coloca o bem-estar do irmão acima do próprio. Sente-se responsável por ele.

É uma linda história de afeto – atravessada, irresolvida. Tem um forte subtexto político. Só para lembrar. No fim dos anos 1990, Edward Berger esteve no Brasil – no Festival do Rio – com “Gomez – Heads or Tails”. Já era sobre as descobertas de um adolescente numa Berlim de drogados e marginalizados.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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