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Livro infanto-juvenil com conteúdo controverso causa revolta entre mães nas redes sociais

Arquivo Geral

08/07/2014 9h00

A literatura nos leva a lugares inusitados, tem a liberdade de brincar com mensagens subliminares não captadas no primeiro olhar. No mundo da ficção, principalmente a infantil, esse “tempero” pode gerar polêmica e chamar a atenção de pais, professores e adultos. No clássico Cinderela, da Disney, por exemplo, a encantadora princesa é referência para meninas até hoje. No entanto, o encanto pode ser quebrado quando se descobre que Cinderela tem um gato chamado Lúcifer. Na história, a personagem defende o bichano em diálogo com seu cãozinho: “Lúcifer tem seu lado bom… Ora, ele não pode ser tão mau assim”.

Não podemos esquecer Satanás, nome escolhido por Dona Clotilde para batizar seu cão de estimação, que apavorava Chaves e cia. no clássico exibido pelo SBT, entre outros.

A polêmica em torno de conteúdos que mencionam conteúdos considerados inadequados em obras infantis tomou conta das páginas do Facebook recentemente. O motivo é o livro infanto-juvenil  A Máquina de Brincar (editora Bertrand), do escritor gaúcho Paulo Bentancur.

Poemas

A obra menciona a figura do diabo como “um bom parceiro”, com mensagens como “Sossega! Vão falar mal aqueles que não estão contigo. Que não foram convidados pelo diabo, meu grande amigo”. Os 25 poemas têm ainda desenhos de diabinhos, com cara de sapeca.

A Máquina de Brincar, no entanto, não aborda somente o “coisa ruim”. Dividido em duas partes, o livro fala também de Deus. Para Ler no Claro, com páginas brancas e poemas mais leves; e Para Ler no Escuro, em páginas pretas, mais pesado.

Mães acusam, mas autor nega apologia

A segunda parte do livro é justamente a que assustou algumas mães no Facebook. Janilda Prata, de Vitória, compartilhou uma mensagem em repúdio ao livro, que – segundo ela – teria causado espanto em sua filha de nove anos. Até o fechamento desta edição, o post condenando a obra chegava a seis mil compartilhamentos.

Para a advogada Tássia Goulart, que tem um filho de cinco anos, é inadmissível que crianças dessa idade tenham acesso a obras com conteúdo como esse. “Devemos ter muito cuidado com o que nossos filhos leem. A criança absorve as coisas. E ainda corre o risco de se traumatizar”, coloca.

Em entrevista ao JBr.,  o escritor Paulo Bentancur defende sua narrativa e seus personagens. “Quis fazer um livro diferente. As crianças de hoje são inteligentes, gostam de suspense, de figuras lendárias. E qual o problema de brincar com Deus e o diabo? Não faço apologia ao demônio, apenas brinco com o lado bom e o lado mau das coisas”, pontua.

Apenas brincadeira

 Paulo Betancur questiona o lugar da literatura, que deveria dar espaço para falar do “surreal”. Para o autor, a religião tem podado a liberdade dos artistas e escritores, que muitas vezes fazem  apenas uma “brincadeira”.  “Os pequenos sabem que existe esse mito em torno de Deus e do diabo. O que fiz foi jogar uma piada, de forma leve”, frisa. 

Pontos de vista
 
Doutora especializada em psicologia infantil, Raquel Manzini defende a liberdade dos escritores de mostrarem o lado “ruim” e o lado “ bom” das coisas, mesmo em obras feitas para crianças. Para ela, o ponto crucial está na forma em que os responsáveis orientam a criança em determinada leitura. “Não tem que jogar o livro na fogueira porque ele menciona o diabo, ou outras coisas. Minha orientação é que os pais avaliem o que o filho vai ler. E caso a criança leia, que eles mostrem o lado positivo, questionem o que acham de pesado. Abrem diálogo com a criança e o que poderia ser pesado, pode virar uma obra de orientação. De questionamento da própria criança para com o mundo”, analisa.

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