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Economia

Oportunidade para crianças aprenderem a consumir melhor

Arquivo Geral

12/10/2015 8h06

Com a crise econômica, refletida na disparada da inflação, no aumento do desemprego e do endividamento, muitos pais passaram a pensar duas vezes na hora de comprar os presentes tão desejados dos filhos nesse Dia das Crianças. Com isso, alguns pais aproveitam a oportunidade para ensinar as crianças sobre a importância do dinheiro e como economizar e comprar com consciência.

Na casa da servidora pública Patrícia Oliveira, de 40 anos, todo tipo de economia é válido. Ela e o marido, José Carlos de Oliveira, 53, também servidor público, sempre ensinaram os dois filhos a pouparem o máximo. Com isso, a família guarda dinheiro durante todo o ano para gastar em alguma viagem e, mesmo assim, cada um dos filhos tem um cofre para juntar dinheiro e comprar alguma coisa que desejam muito.

Mesada

O filho mais velho do casal, Marcos Paulo, de 11 anos, recebe uma mesada de R$ 40 desde quando tinha 9 anos de idade. “Repassamos o dinheiro para ele de forma dividida: cada semana ele recebe R$ 10. Com esse dinheiro ele pode comprar algum lanche na escola ou então guardar para comprar alguma coisa que ele queira. Geralmente, ele junta por vários meses para comprar os jogos de vídeo game que gosta”, explica a mãe do garoto. 

Patrícia conta que não costuma dar tudo que os filhos querem para eles saberem a importância de economizar.

Marcos Paulo já aprendeu a lição e guarda quase toda a mesada em um cofrinho. “Gosto de juntar minha mesada para comprar meus jogos e lanchar na escola. Acho que é uma recompensa muito boa guardar e depois gastar o dinheiro todo que juntei comprando o que eu quero”, afirma o menino. 

A outra filha do casal, Ana Carolina, de 7 anos, ainda não recebe mesada, mas também gosta de guardar dinheiro. Ela tem um cofrinho cheio de moedas.

A mãe explica que ainda não dá mesada para a garota porque ela não tem muita noção sobre dinheiro. Porém, Patrícia e o marido sempre incentivam Ana Carolina a poupar.

“Sempre tivemos o hábito de guardar dinheiro o ano inteiro e só abrir quando a gente vai viajar. Isso acontece desde que eles eram bem pequenos. Então, tudo isso faz com  que o Marcos e a Ana Carolina entendam que é bom guardar para depois gastar”, destaca José Carlos. Os filhos do casal estudam em uma escola onde também são ministradas aulas de educação financeira.

De acordo com Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), os pais devem implantar o método da mesada aos poucos, de acordo com a idade da criança. Além disso, não existe apenas a mesada financeira, como a maioria dos pais acreditam. Existem também as mesadas voluntária, econômica e de troca.

“A mesada financeira é mais praticada pelos pais. Ela deve ser implantada a partir dos 7 anos, mas é importante os pais observarem as necessidades dos filhos, pois nem todas as crianças gostam de mexer com dinheiro. Além disso, ela não deve ser implantada aleatoriamente”, explica.

A mesada como fator educacional

Em relação à mesada, o educador financeiro Reinaldo Domingos ressalta que os pais devem estabelecer um valor mensal, baseado nos gastos do filho no período de um mês.

Depois disso, Domingos orienta que os pais conversem com a criança e perguntem quais são os sonhos e os desejos dela e expliquem que o valor da mesada será dividido para o consumo habitual e a outra parte será guardada para a realização dos desejos. 

“Explicando dessa maneira, a criança não se tornará um adulto consumista e sempre vai querer guardar uma parte de seu dinheiro para seus desejos e sonhos, dessa forma será um adulto consciente. Também não é recomendável que os pais aconselhem a guardar o máximo do valor para que a criança não se torne avarenta. Deve-se estimular o consumo moderado”, destaca.

Voluntária

Segundo Domingos, a educação financeira não está atrelada às Ciências Exatas, mas sim, às Ciências Humanas, pois é uma questão ligada ao comportamento. Além disso, o educador financeiro destacou que a mesada é um valor que se dá para a outra pessoa a título de doação. Por isso, não pode ocorrer nem trocas ou penalidades.

Além da mesada financeira, que deve ser adotada com crianças a partir dos 7 anos, também há a mesada voluntária, voltada para crianças menores, a partir dos 4 anos. “A mesada voluntária é aquela que não existe valor estabelecido, mas que os pais começam a dar dinheiro seja para comprar um doce ou uma bala. A partir daí é o momento em que se deve incentivar a criança a juntar o dinheiro em um cofrinho para comprar um presente muito desejado”, explica.

Domingos lembrou que também há a mesada econômica, em que toda a família se junta para guardar dinheiro e reduzir custos. Além da mesada de troca, em que as crianças podem trocar os brinquedos que não brincam mais com outras crianças, assim, ambas terão coisas novas para brincar, mas sem a necessidade de gastos.

Presente não é prioridade

A administradora Ana Paula Leite, de 32 anos, tem três filhas: Maria Eduarda, de 9 anos, Ana Beatriz (8) e Ana Luiza, de 4 anos. Entretanto, ao contrário da maioria das famílias brasileiras, em datas comemorativas nenhuma das meninas ganha presente dos pais. Os brinquedos que elas possuem foram comprados por parentes e amigos.

“Eu e meu marido sempre criamos elas dessa forma, sem presentes em datas comemorativas, pois isso incentiva o consumismo. Tentamos mostrar para as meninas a importância do ser do que do ter. Não queremos que elas vejam que estão ganhando presentes como forma de recompensa porque são boas filhas ou boas alunas, isso é obrigação”, explica.

Apesar de não receberem presentes dos pais, as três irmãs são incentivadas por eles a juntarem dinheiro em um cofre para, no fim do ano, comprarem alguma coisa que querem muito. 

Educação

“Sempre ensinamos elas a pouparem. Todo mundo coloca moeda no cofre, é uma economia em família”, afirma Ana Paula. Ela destaca que a partir do ano que vem, a filha mais velha começará a receber uma mesada para aprender a administrar o dinheiro.

Maria Eduarda está animada com a mesada que receberá a partir de 2016 e conta que já sabe econo mizar. “Vejo meus colegas gastando as mesadas com sorvete e guloseimas, aqui em casa juntamos no cofrinho e todo ano gastamos com uma viagem e com algo que queremos e isso é mais legal”, avalia a garota. A mãe das meninas conta que mensalmente, ela, o marido e um irmão juntam dinheiro e depositam R$ 150 na conta de cada uma.

“Não costumamos dar presentes, mas depositamos dinheiro na conta de cada uma e investimos muito na educação delas. Ninguém mexe nesse dinheiro, nos preocupamos com o futuro delas e estamos poupando para isso. Como meu marido é bancário, ele sempre incentivou a criação de uma poupança individual para cada uma”, explica Ana Paula.

Limite de gastos

Antes de sair às compras de presentes, deve-se alertar os filhos para o limite de gastos. O estudante Vitor Costa, de 11 anos, conta que sempre ganha presentes dos avós e da mãe. Porém, ele é aconselhado a escolher algo dentro de um valor pré-estabelecido. 

“Eles me dizem até quanto posso gastar com o meu presente, aí pesquiso e escolho alguma coisa. Já venho na loja com o presente escolhido”, relata. 

O garoto diz preferir escolher o presente pessoalmente, ao invés de ganhar sem ter sido consultado anteriormente.

Também é preciso saber dizer “não”
O especialista em finanças e idealizador do blog Quero Ficar Rico, Rafael Seabra, assegura que o maior erro dos pais em relação à educação financeira dos filhos é não saber dizer “não” e não transferir responsabilidades financeiras para os filhos. 
“A educação financeira não deve ser algo que você escolhe uma idade e senta para conversar com seu filho. São boas práticas que você vai adotando ao longo da vida deles, que pode começar com mesada, passando depois para um cartão de crédito (com limite bem baixo), um caderno (ou planilha) para anotar os gastos e controlá-los e, principalmente, com bons hábitos praticados pelos próprios pais”, informa.
De acordo com Seabra, o principal conceito que qualquer pessoa precisa aprender é a importância da gratificação adiada (ou postergada). “Ao abrir mão de gastar agora, para gastar no futuro, você é premiado por isso. Seja por conseguir comprar algo de valor maior (por ter acumulado dinheiro para isso), seja por receber juros sobre o dinheiro poupado”, afirma.
 
Juros
Para que a criança veja o quanto é bom economizar, Seabra sugere que os pais façam um tipo de premiação sempre que o filho conseguir poupar uma parte da mesada. “Se ele recebe R$ 100 e consegue poupar R$ 20, por exemplo, você pode dar mais R$ 2 (10% sobre o valor poupado) como um prêmio, o que na “vida real” seria uma espécie de juros. Assim, ele aprende o conceito de gratificação postergada e alguma noção de investimentos, mesmo sem você precisar falar diretamente sobre termos técnicos”, sugere o especialista em finanças.
Seabra também sugere que os pais estabeleçam um “caderninho de presentes” para que o filho anote todos os presentes que ele quiser ganhar sempre que ver algo interessante. Quando chegar uma data especial (aniversário, Dia das Crianças ou Natal), os pais pedem para ele escolher um ou dois presentes daquela lista. “Dessa forma, a criança terá que fazer uma escolha e deixar o outro presente para depois, sem haver birras”, explica o especialista.
 

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