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Economia

Escolha de setor não faz sentido financeiro, dizem especialistas

Agência Estado

20/08/2017 9h21

Atualizada

Entre os especialistas da área econômica prevalece a análise de que canalizar quase R$ 12 bilhões de dinheiro público para globalizar frigoríficos foi um exagero. O economista Roberto Dumas Damas, professor de macroeconomia internacional do Insper, por exemplo, está entre os que questionam a estratégia pelo aspecto de investimento. Segundo ele, concentrar dinheiro num único setor ou em dois setores com alta relação não é prática em nenhum banco, fundo de investimento ou fundo de private equity (tipo de fundo que investe em empresas, de forma semelhante ao BNDESPar, tornando-se sócio para depois vender as ações com lucro

O motivo é simples, lembra ele: não se coloca todos os ovos na mesma cesta porque, se a cesta cai, muitos ovos quebram ao mesmo tempo. “Veja a própria J&F, controladora da JBS: investiu em sapato, celulose, logística, iogurte, produto de limpeza; se nem ela concentrou investimentos em carne, qual a lógica de o BNDESPar fazer isso ao promover a internacionalização de empresas brasileiras?”

Política pública

O esforço do BNDESPar em relação ao setor não faria sentido como política pública, na avaliação do economista Sérgio Lazzarini. Coautor do livro Reinventando o Capitalismo de Estado, ele fez estudos sobre a relação do BNDES com grandes empresas. Lazzarini é crítico da concentração de aportes do banco em grandes empresas, que teriam condições de buscar recursos no mercado de capitais. Também não vê sentido em gastar dinheiro para que empresas permaneçam sob controle de brasileiros.

“Empresas se globalizam para elevar produtividade, diversificar mercado e, se são grandes, não precisam de dinheiro público para crescer ainda mais. Esse tipo de política leva à concentração de mercado e o enriquecimento dos controladores”, diz. O mais grave, para Lazzarinni, é que o modelo pode dar margem a negociações escusas. “Toda política pública mal desenhada abre espaço para a corrupção.”

O mecanismo é simples, ele explica: quando o governo coloca recursos maciços à disposição das empresas, abre-se uma competição. Os empresários se movimentam. Foi assim com os irmãos Batista, diz ele. Abriram o capital, organizaram a empresa e se candidataram. “Mas, nessa corrida por recursos vultosos, você pode brigar oferecendo o melhor projeto ou acionando contatos políticos para ser a empresa da vez – a gente, infelizmente, está vendo que prevaleceu esse último movimento.”

No campo oposto, o economista José Roberto Afonso, que atuou no BNDES por quase 30 anos, afirma que a concentração de investimentos não é algo novo na história da instituição. “Nas exportações de aeronaves, se fizéssemos um cálculo atuarial em aviação, encontraríamos 100% de investimentos na Embraer, que foi um dos casos de exportação mais bem-sucedidos do BNDES ou mesmo do mundo, porque é difícil encontrar um país que exporte aviões.” Para ele, o importante é se as empresas têm tratamento igualitário e se os projetos, quando aprovados, foram rentáveis.

O fato é que o peso dos recursos públicos na globalização da JBS, quando comparado ao de outras estrelas globais brasileiras, destoa. No Ranking das Multinacionais Brasileiras da Fundação Dom Cabral não há como extrair um padrão de financiamento para a internacionalização. A maioria das listadas recebeu apoio do BNDES. Porém, à medida que foram se expandindo, focaram em outras formas de capitalização. É o caso da fabricante de geladeiras Metalfrio, que recebeu ajuda do BNDES quando começou a ganhar o mundo. No entanto, a rápida internacionalização foi bancada sobretudo por um sócio investidor.

Fonte: Estadao Conteudo

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