Lígia Vieira e Raphaella Sconetto
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Que os preços dos combustíveis estão altos, não é novidade. Mas, a partir de segunda-feira (24) quem for comprar o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), popularmente conhecido como gás de cozinha, poderá se assustar com o custo do botijão. As revendedoras irão aumentar 3,9%, em média, os preços ao usuário final e a unidade pode chegar a R$ 100. Consumidores, que já reclamavam do antigo preço, criticam o aumento. Em soma, motoristas também reprovam os valores do combustível. Nesta semana, o litro de gasolina pôde ser encontrado a mais de R$ 5 em postos da capital.
O preço médio do gás de cozinha era de R$ 73 em julho, conforme o último levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Nas ruas, a reportagem encontrou botijões de 13kg entre R$ 65 e R$ 95.
Segundo o presidente da Sindicato das Empresas Transportadoras e Revendedoras de GLP (Sindvargas), Sérgio Costa, o reajuste nos valores é devido à data-base dos trabalhadores de distribuição e revenda, que acontece no mês de setembro. “O reajuste foi definido no dissídio das companhias engarrafadoras. Repassaram para a gente essa média de 3,9% e, automaticamente, vamos repassar ao consumidor a partir de segunda-feira”, conta.
Questionado se haveria possibilidade de barrar esse aumento aos consumidores, Costa lamentou a situação. “Infelizmente, hoje, nossas revendas não suportam mais absorver esses reajustes salariais”, resume. No entanto, ele alega que cada revenda estará livre para definir o percentual que será alterado.
O Empório do Gás, em Taguatinga, recebe 380 botijões por dia e, atualmente, cada unidade de 13 kg custa R$ 65 – preço que não sofre aumento desde o fim da greve dos caminhoneiros. O estabelecimento garante que continuará com o mesmo valor. Na área central de Brasília, porém, a realidade é outra. A distribuidora Kero Gás, empresa que faz entregas no Plano Piloto, alegou que o valor deve subir, mas não informou quanto. Atualmente, cada unidade custa R$ 95, com o frete.
Outra distribuidora que não prevê aumento, mesmo com um acréscimo de 10% nos salários dos funcionários, é a Belo Gás, no Guará. Segundo o gerente Vinícius Farago, 27 anos, a decisão é ainda por conta da greve dos caminhoneiros. “Aqui a gente vai manter os R$ 70, porque desde a greve a venda está diminuindo. O pessoal estocou gás durante a paralisação e, se antes vendíamos 500 por dia, hoje só saem 380”.
A dona de casa Maria Auxiliadora Bueno de Freitas, 74 anos, reclama do valor. Apesar do preço alto, ela comenta que na última vez que comprou o preço era maior. “Foi na greve dos caminhoneiros. Um botijão custava cerca de R$ 70, hoje estou comprando por R$ 65”, afirma.
Combustível sob pressão
Além do preço do GLP, consumidores reclamam do valor do litro da gasolina. Em postos da capital, o preço passa de R$ 5 se o pagamento for no crédito. Conforme a ANP, a média do litro de gasolina no DF é de R$ 4,75, com mínimo de R$ 4,57 e máximo de R$ 5,08. Esses valores, porém, eram de 15 de setembro, e o último reajuste da Petrobras aconteceu em 12 de setembro. Depois, veio o reajuste das distribuidoras.
No posto Petrobras da saída do Guará, houve um aumento de R$ 0,40 nos últimos três dias. Não há como saber como será os próximos dias. “A gente só sabe na última hora, quando o caminhão chega e fala o valor“, explica o chefe de pista, Cláudio Costa, 26 anos.
Enquanto isso, os valores pesam no bolso dos consumidores. Moisés Carvalho, 21 anos, não tem carro flex, por isso é refém dos preços da gasolina. “Não tem nem como não vir de carro, o transporte público é muito ruim”, enfatiza. Já o motorista Alcione Alves, 40 anos, tirou o carro da rua e passou a usar metrô e ônibus.
Saiba Mais
Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do DF, Paulo Roberto Tavares, o lucro dos donos de postos tem ficado cada vez mais baixo. A cada litro o faturamento é até R$ 0,50. “O setor é visto como vilão, mas não é. Todos sabemos da altíssima carga tributária. O nosso lucro é de 10%, os outros 90% vão para distribuidoras, Petrobras e impostos”, argumenta.
Para ele, o aumento foi necessário. “Foram cerca de R$ 0,32 que não foram nos últimos dias”, aponta. “Estamos no limite. Nossa realidade está ficando insuportável, tanto que nos últimos dois anos mais de três mil frentistas precisaram ser demitidos”, finaliza.