Jéssica Antunes
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Com inovação, tecnologia e ciência, a capital federal prevê um novo vetor de desenvolvimento econômico e social, diversificando a estrutura produtiva com foco na tecnologia da informação e biotecnologia. Nesta quinta-feira (21), o Parque Tecnológico Biotic enfim foi inaugurado, saindo do papel após quase 30 anos de discussões e iniciativas. Ao custo de R$ 40 milhões, o prédio tem 1,2 milhão de metros quadrados e potencial para abrigar 1,2 mil empresas, com projeção de 25 mil empregos. O investimento é colocado como nova esperança para a capital.
O espaço fica entre a Granja do Torto e o Parque Nacional. Com dois blocos, o Edifício de Governança vai compreender as empresas de base tecnológica – consolidadas e startups – e órgãos, como a Fundação de Apoio à Pesquisa do DF (FAP), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-DF) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“Fincamos o pé de Brasília no futuro. A bioeconomia vai transformar esta cidade, aproveitar toda a inteligência e o fato de termos a maior concentração de doutores do País para produzir muita inovação e riqueza em benefício da população de Brasília”, afirmou o governador Rodrigo Rollemberg durante a solenidade de inauguração do parque. Resultados devem vir a curto, médio e longo prazos.
A previsão é que, em 2019, com um sistema já amadurecido, grandes empresas comecem a investir. Hoje, associações congregam mais de 4 mil startups na capital.
Menos terrenos, mais ideias
Ex-titular da Ciência, Tecnologia e Inovação do DF, Thiago Jarjour encabeçou a última fase da implementação do parque. Para ele, a inauguração significa a quebra de um paradigma. “Estamos criando um pilar, uma nova matriz de desenvolvimento econômico focado em inovação e tecnologia. A ideia da sede do parque é criar um grande centro de conexão de iniciativas empreendedoras. Vai gerar renda para as próximas gerações, empregos mais qualificados, que pagam mais e que tenham a ver com as profissões do futuro”, afirma.
De acordo com o secretário, governo, setor produtivo e academia precisam trabalhar juntos para que um parque tecnológico se desenvolva. A ideia é que a participação do Executivo seja cada vez menor, e o apoio financeiro permaneça enquanto for necessário. No entanto, “o objetivo agora é se associar a empresas privadas para que possam produzir aqui”.
O modelo econômico difere da lógica histórica da capital, focada, muitas vezes, na lógica patrimonialista do benefício econômico. Agora, não se fornece terreno, mas espaços a serem explorados mentalmente. É o que explica o Secretário de Economia, Desenvolvimento, Inovação, Ciência e Tecnologia do DF, Valdir Oliveira.
“O Biotic é baseado em criação, ideias, criatividade. A gente junta um ecossistema de inovação. São empresas que demandam soluções com base em tecnológica, são startups que desenvolvem essas soluções e suas aceleradoras, são entidades que buscam soluções. Nós estamos construindo um novo modelo de capital de esperança”, diz.
Ecossistema interligado
No local, já há cinco empresas em funcionamento. Entre elas, os datacenters do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, e uma subestação da Companhia Energética de Brasília (CEB). Há, ainda, espaço reservado para a instalação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o primeiro e maior Sebraelab dentro de um parque tecnológico do Brasil.
A articulação de acadêmicos, grandes, médias e pequenas empresas, startups, laboratórios de criação e inovação prevê soluções para problemas econômicos e sociais. Jamal Bittar, presidente da Federação das Indústrias do DF (Fibra), aponta que a novidade “gera uma perspectiva real de que estamos caminhando para aquilo que a cidade precisa e merece, que é o setor de vanguarda e tecnologia”.
Compartilha da opinião Luis Afonso Bermúdez, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-DF. Para ele, um parque científico deve ser pensado como um ambiente de integração baseado em desenvolvimento colaborativo, com empresas, infraestrutura, serviços e suportes inovadores e vínculo com unidades geradoras de conhecimento para que seja possível passar à sociedade resolvendo problemas econômicos e sociais. Nesse contexto, o Sebraelab é espaço de estímulo, erros e acertos para chegar ao empreendedorismo inovador.
Um Termo de Cooperação Técnica entre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB) e Biotic também garante a inovação a partir da academia. “Em geral, nas escolas, a gente produz muito. Estudos, teses, pesquisas. Tudo fica bem guardado no nosso estoque de conhecimentos. Temos que dar um novo passo, de chegar às empresas, de associar a pesquisa acadêmica ao setor produtivo”, diz Wilson Conciani, reitor do IFB.
Décadas de espera
O processo para tirar o Parque Tecnológico do papel e colocá-lo em prática demorou quase 30 anos. As discussões iniciaram em 1991, quando foi inaugurada a primeira pedra fundamental do Parque Tecnológico Bernardo Sayão, no Núcleo Bandeirante, que não teve a finalidade respeitada.
Em 2002, a União doou à Companhia da Nova Capital (Novacap) o terreno que hoje abriga o Biotic. Naquela época, o então governador Joaquim Roriz sancionou a lei que criava o Parque Tecnológico Capital Digital. Dez anos depois, o primeiro empreendimento no local foi inaugurado.
Em janeiro de 2017, o governador Rodrigo Rollemberg alterou a lei e ampliou o escopo. Se antes tratava somente de empresas ligadas a áreas de tecnologias da informação e telecomunicação, passou a incluir a possibilidade de desenvolvimento da biotecnologia.
“O Biotic representa uma mudança cultural, o estímulo ao desenvolvimento do setor produtivo e geração de produtos de alto valor agregado. Não inauguramos um prédio, mas o primeiro grande passo ao futuro tecnológico da nossa cidade”, considera o presidente da Terracap, Júlio César Reis.
Destinações
O Bloco A do prédio é destinado ao programa de aceleração, maturação, mentoria e incubação para startups. O prédio possui quatro andares e um subsolo, em que está instalado um auditório, e será gerido por uma entidade/organização.
Já o Bloco B, com quatro pavimentos de 900 m², tem , em cada andar, uma configuração diferente. No térreo vai funcionar um espaço de coworking público, de acesso gratuito. O primeiro andar será ocupado por empresas de base tecnológica. No segundo andar se instalarão entidades e instituições ligadas à Ciência, Tecnologia e Inovação. Uma área será destinada à Embrapa. Por último, o terceiro andar será a sede da FAP.
Saiba mais
Dados do Anuário do Distrito Federal indicam que a capital têm o 3º maior mercado de Tecnologia do Brasil. De acordo com a pesquisa, Brasília abriga 700 empresas que oferecem mais de 30 mil postos de trabalho. O volume de negócios do setor representa 3,5% do PIB local, e com a instalação do Parque Tecnológico, a perspectiva é de que haja um crescimento superior a 7% neste índice.
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