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Entretenimento

O universo de Clarice Lispector nos palcos

Colaborador JBr

01/03/2017 18h08

Atualizada 02/03/2017 18h08

Foto: Divulgação

Carioca radicada em Brasília, Jana Marques vai estar em cartaz com seus 16 bailarinos do grupo Azzo Dança para bailar Clarice nesta sexta (3) e sábado (4), às 20h, e no domingo (5), às 19h, no teatro da Caixa Cultural Brasília. Os ingressos custam R$ 10 a meia entrada e classificação indicativa é de 14 anos.

“E ela não passava de uma mulher…Inconstante e borboleta”. Nesta frase e em tantas outras,Clarice Lispector (1920 – 1977) conseguia passar a densidade de uma mulher que sentia e retratava o cotidiano, o feminino e tantos outros temas psicológicos de uma forma única. Temas estes tão imortais quanto ela e suas letras. Nascida na Ucrânia, mas naturalizada brasileira, mais especificamente pernambucana, Clarice tornou-se uma das mais importantes escritoras do século 20. Não à toa, continua a inspirar artistas, que buscam adentrar em seu misterioso e profundo universo.

Em homenagem à escritora e à todas que celebram aniversário no dia 8 de março – Dia Internacional das Mulheres – a bailarina e coreógrafa Jana Marques trará para a capital federal o espetáculo inédito Clarice Lispector em Movimentos, uma realização da Secretaria de Cultura do Distrito Federal com patrocínio do FAC – Fundo de Apoio à Cultura e Secretaria de Cultura do Distrito Federal. A atração também tem o apoio da Caixa Cultural.

Em dois atos, a diretora fará um tributo revivendo a grande representante do delicado e também brutal universo feminino. Lispector, revolucionária para sua época, será citada em textos, movimentos fortes e impactantes executados pelos dançarinos, objetos cenográficos, entrevista pessoal, poesias gravadas e em obras que não são tão famosas. A ideia é mostrar uma Clarice nem sempre acessível a todos. “Eu quis sair do comum. Quando comecei a pesquisar a escritora, vi que existem muitos contos seus ainda pouco conhecidos. Foram estes contos que quis trazer para a dança, para os palcos”, relata Jana Marques, que assina o espetáculo como diretora e coreógrafa.

Lispector em cena

Serão quase duas horas de espetáculo divididas em dois atos que buscam envolver quem está na plateia e também quem interpreta. Os bailarinos vão mostrar, por meio da dança contemporânea e de textos pontuais, um pouco da vida desta escritora tipicamente brasileira. No primeiro ato, estão presentes o feminino, as relações familiares nas décadas de 40 e 50 e a submissão da mulher perante a sociedade. Os temas serão encenados e mostrados em ações que valem-se, por exemplo, de objetos como uma mesa, pratos giratórios em analogia ao tempo e de outros accessórios que enaltecem os costumes da época. Na pele de Lispector, a atriz e bailarina Juana Miranda vai, além de dançar, recitar trechos de crônicas de Clarice.

Já no segundo ato, o foco serão três contos ainda pouco conhecidos da escritora. Um deles é Onde Estivestes de Noite, do livro homônimo, que aborda temas como prostituição, bigamia, homossexualidade e assassinato. Neste momento, uma dança andrógina tomará conta do palco. Já na sequência, a obra A Via Crucis do Corpo vai tomar forma através de interpretações de contos que englobam O Homem que Apareceu e Ele Me Bebeu.

De uma maneira densa, crítica e crua, o corpo em ação falará do bígamo e de sua aceitação seguida de punição pelas próprias mulheres. Ainda, o espelho, considerado por Lispector um reflexo da beleza natural das mulheres, terá um papel importante nos tablados. “Clarice gostava muito de trabalhar o espelho, neste sentido de se perceber, se ver, da aceitação como somos. Já no Ele Me Bebeu falamos da trapaça, do ato de passar a perna”, explica Jana Marques.

A peça contará ainda com trechos da emblemática entrevista que Clarice Lispector concedeu em 1977 e que só foi divulgada após sua morte, 10 meses depois da gravação.

Jana Marques e a cia Azzo Dança

Carioca radicada em Brasília desde os 11 anos, Jana Marques iniciou sua carreira na década de 1980, na capital federal. Foi bailarina profissional dos grupos Bossa e Atos Cia. de Dança. Em 1990, criou o grupo de dança contemporânea Azzo Dança, o qual dirige e coreografa há mais de 25 anos. Participou dos Festivais de Dança de Uberlândia (MG), Joinville (SC), Rio de Janeiro (RJ), Campo Grande (MS) e Bento Gonçalves (RS) obtendo, em todos, premiações.
Ministrou vários cursos de Dança Contemporânea em Brasília. Participou, como jurada, em eventos como Taguatinga Dança, Desfiles das Escolas de Samba de Brasília e audições de grupos de dança. Coreografou ainda espetáculos como Terra Vermelha – Tributo a Jorge Amado, para o Grupo Dançarte. Agora, ela estreia o inédito espetáculo Clarice Lispector em Movimentos.

Sobre Clarice Lispector

Clarice Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira — e declarava, quanto a sua brasilidade, ser pernambucana. Autora de romances, contos e ensaios, é considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, sendo considerada uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano.

Ela foi batizada de Haia, significado de vida. Dentre suas obras, os romances: Perto do Coração Selvagem (1943) , O Lustre (1946), A Cidade Sitiada (1949), A Maçã no Escuro (1961), A Paixão Segundo G. H. (1964), Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969), Água Viva (1973), Um Sopro de Vida (1978); Novela: A Hora da Estrela (1977).

Contos; Laços de Família (1960), A Legião Estrangeira (1964), Felicidade Clandestina (1971), Onde Estivestes de Noite? (1974), A Via Crucis do Corpo (1974), O Ovo e a Galinha (1977), A Bela e a Fera (1979); Literatura infantil: O Mistério do Coelho Pensante (1967), A Mulher que Matou os Peixes (1968), A Vida Íntima de Laura (1974), Quase de Verdade (1978), Como Nasceram as Estrelas (1987); Crônicas: Para Não Esquecer (1978), A Descoberta do Mundo (1984); Correspondências: Correspondências (2002), Minhas Queridas (2007); Entrevistas: Entrevistas (2007); Artigos de Jornais: Outros Escritos (2005), Correio Feminino (2006), Só Para Mulheres (2006). Clarice faleceu um dia antes de completar 57 anos, no dia 9 de dezembro de 1977, devido a um câncer de ovário.

SERVIÇO

Data: 3 e 4 de março
Hora: (sexta e sábado), às 20h, e 5 (domingo), às 19h.
Local: Teatro da Caixa Cultural Brasília (Setor Bancário Sul Qd 4)
Ingressos: R$ 10 (meia entrada)
Informações: (61) 3206-6456
Classificação Indicativa 14 anos

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