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Livro sobre Trump no poder escancara personalidade e despreparo de presidente americano

Arquivo Geral

22/01/2018 7h00

Atualizada 21/01/2018 22h36

Reuters/Kevin Lamarque

Eduardo Brito
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Jornalista que não é exatamente levado a sério, identificado como algo próximo dos colunistas sociais brasileiros das antigas revistas ilustradas, Michael Wolff soube dar a volta por cima ao escrever o já best-seller Fogo e Fúria. Apropriou-se aí de uma das expressões trovejantes de que Donald Trump tanto abusa. “Melhor não fazer mais ameaças aos Estados Unidos ou terão como resposta fogo e fúria como o mundo nunca viu”, reagiu em recado ao ditador norte-coreano Kim Jong-un.

Trump nem imaginaria estar cravando o título que pode estigmatizar o seu primeiro ano na Casa Branca. Michael Wolff, do The Hollywood Reporter, tomou a expressão e transformou-a num livro que voou das prateleiras, estreando em primeiro no top de vendas. Por aqui, ele chega em março.

Sim, Fogo e Fúria: Por dentro da Casa Branca de Trump é antes de mais nada uma coletânea de fofocas recolhidas de frequentadores da Casa Branca e de interlocutores esparsos de Trump. Menos do que retratar o primeiro ano da presidência de Trump, seu objetivo é reunir perfis, a começar, claro, pelo presidente. Ao fazer isso, mostra um cenário ainda mais caótico do que transmitido aos mortais que estão fora do prédio.

A desorganização interna, a teimosia e imprudência do presidente eram já conhecidas. Mas este livro, construído — alega Wooff — segundo mais de 200 entrevistas a membros da administração e até ao próprio presidente, mostra uma Casa Branca que praticamente só existe em função dele.

A marca maior de toda a história, porém, é o primarismo político, não só de Trump, mas de todo o seu núcleo de poder, desinformado e frequentemente provinciano. Começa por uma constatação que Wolff acha o máximo. Ao contrário do que acontece com todo grupo político eficaz, nenhum dos membros da campanha de Trump — nem sequer o próprio candidato e a sua família — acreditavam que ele se tornaria presidente.

Em busca de publicidade

O empresário queria apenas utilizar a exposição como publicidade grátis para engrandecer a sua marca. Entrou na briga por isso, embora seu faro permitisse conduzir uma das campanhas mais matreiras e focadas da história recente. Desde seu primeiro debate com Hillary Clinton buscou o voto dos brancos empobrecidos de estados que há 30 anos votam nos democratas, como Wisconsin, Michigan ou Pennsylvânia. Conseguiu e virou presidente, embora tivesse recebido menos de 63 milhões de votos contra quase 66 milhões da rival. Sim, três milhões a menos. Maravilhas do colégio eleitoral.

As ligações com a Rússia, as fofocas familiares e a relação com o poder são temas frequentes nos jornais e emissoras dos EUA. Mas Wolff faz mais que isso: reconstrói uma imagem do seu dia-a-dia na Casa Branca e no Salão Oval. Sabe que tem pouca credibilidade jornalística, após as críticas como as que marcaram seu livro sobre o magnata da mídia Rupert Murdoch. Portanto, apela para truques destinados a driblar os descrentes.

Por exemplo, logo na abertura do livro conta de forma minuciosa depoimentos de interlocutores de peso sobre Trump. Previa que os críticos se assanhariam a respeito. Mas tinha tudo nas mãos. Os diálogos ocorreram durante um jantar em sua casa – o único mérito que os rivais reconhecem em Wolff, aliás, é seu trânsito fácil entre celebridades e subcelebridades.

Passando a ser o homem mais poderoso do mundo, quem é eleito presidente dos Estados Unidos acaba por passar a maior parte do tempo em reuniões. Trump já chegou batendo o pé e afirmou que não precisava de briefings diários pois estes eram repetitivos. “Eu sou uma pessoa inteligente, não preciso ouvir as mesmas coisas todos os dias durante oito anos”, afirmou.

“Tem quem ache que é disléxico, mas certamente a sua compreensão é limitada. Outros concluem que ele não lê porque não é obrigado a isso. Ele está além da literacia — totalmente televisivo”. Ainda que a Casa Branca não tenha cedido em relação a estas reuniões, Trump também não recuou totalmente. “Trump não lê. Nem sequer passa os olhos”, escreve Wolff, em relação aos documentos que lhe são entregues. “Se está impresso, mais vale não existir”.

Wolff continua ainda: “Não só ele não lê como também não ouve. Prefere ser a pessoa a falar. E confia na sua própria sabedoria — não importa o quão insignificante ou irrelevante ela seja — mais do que na de qualquer pessoa”.

Serviço

Fogo e Fúria – Por Dentro da Casa Branca de Trump

Autor: Michael Wolff
Editora: Objetiva
Páginas: 384
Preço médio: R$ 44,90

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