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Festival de Brasília: negro e de periferia retratado na telona

Arquivo Geral

19/09/2018 12h00

Divulgação

Beatriz Castilho
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À margem do Recôncavo Baiano, em uma ilha nordestina, um jovem negro e de periferia decide contar a própria história em um filme. Insciente de técnicas cinematográficas, Emerson quer a ajuda do premiado cineasta Henrique – mesmo que, para isso, tenha que sequestrá-lo. Concorrente ao Candango de melhor longa na Mostra Competitiva do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Ilha (BA) chega nesta quarta (19) ao Cine Brasília.

O filme traz de volta à cidade, pelo segundo ano seguido, a dupla de diretores Ary Rosa e Glenda Nicácio. Falar sobre Ilha sem citar Café com Canela (2017) é deixar de lado parte da história dos cineastas. Há um ano, a dupla subia ao palco do Festival para estrear o primeiro longa juntos. Escolhido pelo Júri Popular, o título rendeu o prêmio de melhor atriz para Valdinéia Soriano e a estatueta do Prêmio Petrobras de Cinema de melhor filme da 50ª edição.

Enquanto Ilha se prepara para ser visto pelos espectadores do festival brasiliense esta quarta, Café com Canela está em cartaz no Espaço Itaú de Cinema do Casa Park, na sessão de 14h30.

Além da ligação cronológica, os títulos se assemelham pelo espaço geográfico e representatividade do elenco. “Café com Canela surgiu da vontade de contar uma história que passa pela tradição e costumes do Recôncavo, com força maior no dia a dia das pessoas comuns”, explica Ary Rosa, em entrevista ao Jornal de Brasília.

Puxando o gancho de seu antecessor, Ilha bebe das questões de encontros e afetividade. “Em comparação, (o segundo filme) é mais duro, porque estamos vivendo tempos mais duros. Então, reflete um pouco desse pouco entendimento e pouca expectativa do futuro”, diz o cineasta.

O longa também é formado majoritariamente por atores negros. O foco é representar o espaço que circunda a trama.
“O Recôncavo é formado por quase 80% de população negra. Se pretendemos incluir o local, é principalmente a partir da representação negra”, pontua Ary. “Em um país onde a maioria é negra não é possível que isso não seja refletido na tela. O que antes era uma carência, hoje vira exigência”, completa.

Personificação do local em que vive

Na arquitetura do personagem, a dupla destaca a apreensão em não se deixar mergulhar em estereótipos.

Ilhado socialmente, Emerson é uma personificação do local em que vive. “Ele é marginal, negro, utiliza arma e está nessa condição periférica. Não podíamos deixar om Emerson 2D, precisávamos dar subjetividade, possibilitando que ele tivesse complexidade e sensibilidade”.

Para além da questão sócio-cultural, a realidade permeia a ficção, contando com a participação da Ilha como um personagem subjetivo. “A textura do mundo atravessa o filme, desde sons às características das locações. No geral, a comunidade atravessa a trama”, revela Ary Rosa.

Com um pé no cinema documental, o filme cria uma ponte entre direção e filmagem. “Acompanhamos quase um making of do filme, como se ele fosse do próprio Emerson. Assistimos a tudo (…), e só no desfecho assumimos uma filmagem mais subjetiva”, explica.

Dupla dinâmica

Com 94 minutos, Ilha conta com Renan Motta como o protagonista Emerson, e Aldri Anunciação, na pele de Henrique. Arlete Dias, Valdinéia Soriano, Aline Brune, Sérgio Laurentino, Thacle de Souza e Ridson Reis completam o elenco.

Com roteiro escrito por Ary, a película é distribuída pela Rosza Filmes, criada por ele e Glenda em 2011, na Bahia.

Saiba Mais

Apesar da distância de 1,5 mil km entre as localidades, poucos minutos separam o filme baiano Ilha do curta que o antecede, às 21h, o brasiliense Aulas Que Matei – também dirigido por uma dupla: Amanda Devulsky e Pedro B. Garcia. Explorando a temática do título em 24 minutos de duração, é o único feito em Brasília concorrendo na categoria.

Antes disso, na Mostra Brasília, às 18h, o documentário O Outro Lado da Memória estreia a temporada de três longas da competição. Dirigido por André Luiz Oliveira, o filme rememora a tentativa de produção de uma adaptação de Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro. No dia, o curta ficcional Cabeças (Bruna Carolli) abre a sessão.

Às 15h, em Taguatinga, Riacho Fundo, Sobradinho e São Sebastião, acontece o Festivalzinho. Às 14h30, no Cine Brasília, tem na Mostra Paralela O Festival dos Festivais a exibição do documentário Lembro Mais dos Corvos (SP), de Gustavo Vinagre. Às 19h, acontece a reprise, no Museu Nacional da República.


Serviço

51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Até 23 de setembro. No Cine Brasília (106/107 Sul), Museu Nacional Da República (Eixo Monumental), Riacho Fundo e outros. Para programação completa, acesse: festivaldebrasilia.com.br.

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