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Cinema

Festival de Brasília: Greve dos caminhoneiros é tema do filme desta terça

Arquivo Geral

18/09/2018 15h03

Thais Vidal/Divulgação

Beatriz Castilho
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Seropédica, uma cidade a 50 km da capital carioca, engloba parte da região metropolitana do Rio de Janeiro. Há pouco mais de quatro meses, o local se transformou no coração da greve dos caminhoneiros. No centro da borbulha, Victória Álvares e Quentin Delaroche se lançaram em meio aos manifestantes à la Glauber Rocha – ‘com uma ideia na cabeça e uma câmera na mão’. A dupla acompanhou a movimentação dos grevistas durante três dias, gravando o suficiente para compor 75 minutos do longa-metragem que chega nesta terça (18) à telona do Cine Brasília. Com nome sugestivo, o documentário Bloqueio (PE/RJ) fecha a noite de terça da Mostra Competitiva do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O filme oficializa a parceria dos cineastas, que já dura 10 anos. Enquanto Quentin carrega três títulos na bagagem – sendo um deles o recente Camocim, atualmente em cartaz nos cinemas do País -, Victória tem Bloqueio como título de estreia. Destacando o misto de medo, esperança, tensão e afeto, a dupla revela os desafios e processos vividos com o longa em entrevista ao Jornal de Brasília.

A produção de Bloqueio foi muita rápida, confere? Como surgiu a ideia e quanto tempo demorou para ser colocada no papel?

Quentin Delaroche: Sim, o processo de produção foi extremamente rápido e pulamos a etapa de colocar no papel. Na verdade, filmamos em três dias e montamos em uma semana um primeiro corte do filme (corte bem próximo do corte definitivo). Foi um processo bem atípico.

Victória Álvares: Quando se iniciou a paralisação dos caminhoneiros, sentimos que aquele momento poderia entrar para a história. E, ao mesmo tempo, era tudo muito confuso, nós não entendíamos bem o emaranhado de narrativas que coexistiam ali: o que estava acontecendo, o que os caminhoneiros reivindicavam, como a população em geral reagia àquele movimento, o que a mídia tradicional e as redes sociais retratavam… Não tínhamos ideia do que poderia acontecer. E foi assim, guiados por uma intuição, muitas perguntas, sentimentos confusos e um grande desejo em ouvir o outro que decidimos ir até um ponto de bloqueio.

De forma geral, como aconteceram as gravações?

VÁ: Chegamos no 7° dia de paralisação. Quando explicávamos que trabalhávamos com audiovisual, mas éramos independentes, e que gostaríamos de estar ali para registrar o dia a dia deles porque achávamos que aquele movimento poderia ficar na história, o pessoal começou a aceitar a presença da câmera. Claro que tinha um ou outro mais desconfiado, mas depois que eles viam a gente ali, o dia todo, andando para cima e para baixo, conversando com um e com outro, comendo, tomando banho e dormindo lá, nos aproximamos mais. No final, acho que a grande maioria das pessoas já nos conhecia e aceitava nossa presença.

QD: A gente dormiu lá uma noite, no baú de um caminhão. Um caminhoneiro emprestou uma coberta, um outro emprestou uma pilha de papelão que serviu de colchão. Foi um momento importante para eles entenderem que a gente estava ali para escutar, não para demonizar a greve, ou deturpar os discursoss. Ao mesmo tempo não escondíamos nossas dúvidas sobre certos objetivos do movimento, como os pedidos de intervenção militar.

A própria sinopse do filme aponta os muitos pedidos de intervenção militar que a paralisação colocou. Isso surpreendeu? O filme aborda isso?

VÁ: Sem dúvida, era inevitável não abordar. A maioria dos trabalhadores ali pediam de fato uma intervenção militar – ou não contradiziam os colegas que verbalizavam o desejo de forma explícita. Nós já sabíamos disso antes de chegar lá, então não ficamos surpresos. Mas aquilo nos interpelava de algum modo, não ficávamos indiferentes, era quase um enigma. Depois de poucas conversas com alguns caminhoneiros, percebemos que as pessoas clamavam por uma intervenção como um grito de socorro de um trabalhador que está exaurido, sem forças, que se sente subjugado, explorado, abandonado e que não sabe mais a quem recorrer. Então o Exército era reverenciado como “salvador da Pátria”. Mas o que percebemos é que, para muitos, o pedido de intervenção era um meio para alcançar uma democracia, uma vida com menos desigualdade. Isso é algo que perpassa todo o filme.

Qual foi a maior dificuldade da gravação?

VÁ: O maior desafio foi estabelecer uma relação de confiança [com os manifestantes] em tão pouco tempo. Porque muitos ali ficavam desconfiados quando viam a câmera, achando que éramos jornalistas de emissoras tradicionais. Essa questão foi solucionada na base da conversa.

Após a greve dos caminhoneiros, em meio ao cenário político eleitoral, qual a importância de Bloqueio?

VÁ: Diante do atual cenário, cada vez mais polarizado, esperamos que Bloqueio alimente o debate político e ajude, quem sabe, a desbloquear o diálogo.

 

SAIBA MAIS

Terça-feira é dia de documentário! Antes de Bloqueio, o curta Conte Isso Àqueles Que Dizem Que Fomos Derrotados (2018) abre a sessão competitiva da noite, a parir das 21h. A produção mineiro-pernambucana é assinada por Aiano Bemfica, Camila Bastos, Cristiano Araújo e Pedro Maia de Brito, tendo trabalhos noturnos como protagonista.

Além disso, a noite é marcada pela inauguração da Mostra Brasília, realizada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal. Até o fim do festival, passam mais de 21 títulos na competição, concorrendo a um total de R$ 240 mil.

Na programação de hoje apenas curtas, abrindo com o documentário Entre Parentes (Tiago de Aragão), seguido das ficções Monstros (Douro Moura), A Roda da Fortuna (Luciano Porto), A Praga do Cinema Brasileiro (Willian Alves e Zefel Coff), Brasilha (Rafael Morbeck) e Me Deixe Não Ser (Kleber Machado). Às 18h, no Cine Brasília, e às 18h30 em Taguatinga, Sobradinho, São Sebastião e Riacho Fundo.

www.festivaldebrasilia.com.br

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