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Cinema

Festival de Brasília: Documentário Bixa Travesty questiona padrões

Arquivo Geral

21/09/2018 14h15

Divulgação

Eu já cansei de falar/ Já perdi a paciência/ Você finge não escutar/ Abusa da minha inteligência”. Assim, ao som de um suspense eletrônico, Linn da Quebrada instiga a proclamação do sexto manifesto de seu disco inaugural, Pajubá (2017). A faixa, batizada de Bixa Travesty, também dá nome ao documentário sobre a vida da artista, dirigido por Claudia Priscilla e Kiko Goifmann, e é responsável pela última sessão da Mostra Competitiva do festival, neste sábado (22).

“Conheci a Linn há três anos, quando fazia apresentações na rua. Ela estava acabando de editar o primeiro videoclipe e, na hora, pensei ‘nossa, aí tem um pessoa muito interessante’”, relembra Cláudia. Kiko foi apresentado depois, em um show da artista. “Na hora, fiquei pensando se valia a pena fazer um filme com só uma personagem, mas depois vi que, sim, Linn tem muita coisa para contar”, conta o diretor.

Não por acaso, a cantora assina o documentário como co-roteirista. “É uma questão do lugar de fala. Não somos trans ou negros. Então, precisamos que essas pessoas sejam núcleos criativos, não apenas um objeto”, destaca Kiko. Além do texto, foram disponibilizadas gravações pessoais – feitas pela própria MC -, somando ao longa imagens de arquivo.

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Durante 75 minutos um misto de excitação e sensibilidade é entregue ao público. Costurada com apresentações da cantora, Bixa é colocada pela dupla como um documentário com pé no musical. Dentre momentos mais intimistas, a amizade entre Linn e a cantora Liniker – vocalista da banda Liniker e os Caramelows -, é um dos destaques, para os diretores.

“Tem uma cena de almoço na casa da Liniker que quebra a estrutura de shows. Lá estão também as mães e, assim, vemos uma mesa de mulheres inteligentíssimas falando. Aliás, tem muito humor, também”, adianta Kiko.

Mulher, negra, periférica e trans

Permeando todos os momentos está a personalidade transgressora de Linn. Mulher, negra, periférica e trans, a artista grita sua luta para além das canções. “É discussão de uma geração que pensa no corpo fora da caixa, que discute binariedade (…) repensando a cultura que foi imposta do que é homem e o que é mulher”, frisa Cláudia; e Kiko completa: “O filme tem uma postura bem clara anti-machismo. E é contra a ideia de macho, branco, classe média-alta que quer dominar o mundo”.

Trabalhar com gênero não é inédito para a dupla, e nem o Festival de Brasília. Em 2012, em sua 45ª edição, o curta Vestido de Laerte (2012) concorreu ao Candango. No ano seguinte, lançaram o longa Olhe Para Mim De Novo (2013), documentário que retrata a vida de Silvyio Luccio, um transsexual buscando as possibilidades de ter um filho, juntamente com a esposa. Além de parceiros na direção, Cláudia e Kiko são casados há mais de 20 anos. Em fevereiro, a dupla arrebatou o Prêmio Teddy – medalha LGBTQ do Festival Internacional de Berlim (Alemanha).

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