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Escritora brasiliense organiza e-book com textos de mais de 40 autores da população trans

Arquivo Geral

21/06/2017 7h00

Atualizada 20/06/2017 22h26

Travesti Maria Léo Araruna estuda Direito na UnB e faz parte da coletiva LGBT Corpolítica. Foto: Paulo Trindade / Mídia Ninja

Larissa Galli
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Vidas trans colocadas no papel, sem censura e sem silenciamento. “Explicar a pluralidade da transgeneridade e da travestilidade. Explicar o que é aquele outro que não é a gente. Explicar como funciona a organização do mundo para que corpos como os nossos sejam excluídos”. Essa é a ideia do e-book Nós, Trans – Escrevivências de Resistência, nas palavras da escritora e organizadora Maria Léo Araruna.

Escrito por mais de 40 autores trans – incluindo pessoas famosas da comunidade trans como Laerte, MC Xuxú e Anyky Gonçalves –, o livro foi lançado com a proposta de trazer vivências e relatos de homens trans, mulheres trans negras, travestis idosas e pessoas não binárias. A publicação traz a experiência de ser trans através dos olhos de quem é e convive com a transfobia e a marginalização no dia a dia.

“Eu acredito que as pessoas trans carecem de linguagem para que elas possam falar por elas mesmas. Dentro dos espaços culturais a gente consegue produzir algumas linguagens que podem transmitir mensagens que são importantes para gente enquanto pessoas trans”, defende Maria Léo, que é travesti, estuda Direito na Universidade de Brasília e faz parte da coletiva LGBT Corpolítica, que ocupa as periferias do Distrito Federal para realizar atividades culturais e rodas de conversa.

Coletivo

Segundo Maria Léo, ainda há a ideia de que as pessoas trans são poucas e estão escondidas. “A gente é uma multidão, a gente é plural e a gente existe de diversas formas”, afirma. Para ela, o impasse é que a “única representatividade das pessoas trans é aquela forma que aparece na mídia, feita por homens cisgênero e de forma caricata”, aponta.

A Academia TransLiterária é um coletivo de artistas da população T (travestis, transsexuais e transgêneros) e pessoas cisgêneras próximas à pauta, que investiga estratégias, estéticas e linguagens artísticas para difusão e protagonismo da arte e cultura trans e periférica. “Somos a poesia/ de corpo subversivo/ e força de luta/ que ousa fazer do dia a dia/ resistência/ nossa existência/ e a nossa face/ é toda parte/ Arte”, resume, em poesia, o coletivo.

Visibilidade também nas artes plásticas e no mundo da música

“Eu acredito que a produção cultural, seja pelas escritas, pelas artes plásticas ou pelas cênicas é uma forma de transmitir essa mensagem e causar algumas rupturas e transformações”, define Maria Léo.

Prova disso é Babi Macedo: travesti, artista plástica, ilustradora independente e professora de desenho e aquarela. Na Semana da Visibilidade Trans 2016, que acontece em janeiro, a mineira de Belo Horizonte, de apenas 23 anos, fez sua primeira exposição, com retratos de suas amigas travestis. Foi aí que começou a levar a arte como profissão. “Mas eu desenho desde criança”, garante.

A maior parte de seus trabalhos são pinturas de aquarela e nanquim, geralmente dentro da temática trans. “Eu nunca tive a intenção de estar nesse lugar, mas fiquei muito feliz de conseguir criar um diálogo com pessoas iguais a mim e me apoderei desse espaço para dar visibilidade para nós”, afirma. E completa: “é uma arte militante, mas não é só isso”.
“Objetivo é fazer arte”

A diversidade também está invadindo o espaço da música. Eles e elas podem ser vistos – e ouvidos – na internet, claro, mas também na TV, nas rádios e nas festas Brasil afora. MC Xuxú é funkeira, travesti e feminista, um fenômeno na internet, com papel importante no combate ao preconceito.

Em dose dupla, a banda As Bahias e a Cozinha Mineira é formada por vocalistas trans e um grupo de amigos. Tendo Gal Costa como “musa inspiradora”, segundo Raquel Virgínia, de 28 anos, que é cantora, compositora e uma das fundadoras, a banda está sempre sintonizada nas discussões do feminismo e na luta contra a homofobia e o machismo.

Ano passado, a banda se apresentou na capital federal durante o festival Satélite 061, do qual Gal Costa também foi atração. Na ocasião, Raquel declarou que “Gal é nossa maior inspiração e participar do mesmo festival que ela – digo mais, fazer o show que antecede o dela – é uma honra”.

Vocalista de As Bahias e a Cozinha Mineira, a baiana Assucena Assucena, de 27 anos, adotou o nome inspirada na flor vermelha, rosa e branca da Caatinga. Compositora, ela afirma que a banda tem a liberdade como princípio.

“Somos 2 travestis que cantam música popular brasileira, nossa produção artística é uma manifestação política. A política permeia nossa obra, mas a gente trata das questões de gênero de uma forma musical, poética. O objetivo é fazer arte”, declara.

Serviço

Nós, Trans – Escrevivências de Resistência
E-book disponível apenas em formato digital, organizado pelo coletivo Transcritos Coletivos. Editora: LiteraTrans. Preço: R$ 20.

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