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Editora Abril. Do sucesso à (quase) ruína

Arquivo Geral

14/01/2019 7h00

Atualizada 13/01/2019 18h53

Foto: Divulgação

Eduardo Brito
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Compreende-se melhor o sentido de República dos Editores, escrito pelo jornalista Adriano Silva Rocco, por meio do subtítulo As Histórias de Uma Década Vertiginosa na Editora Abril. Põe vertiginoso nisso. Nesse período, um dos maiores impérios industriais de comunicação do País começou a declinar, entrou na UTI, reinventou-se, teve os dois anos mais lucrativos de sua existência para, enfim, dar um mergulho fatal rumo à irrelevância.

Adriano Silva teve uma escalada rápida na Abril: ingressou na empresa após período em que mandava contribuições voluntárias quando estudante no Japão, virou editor de Exame e foi catapultado para Superinteressante, à frente de equipe que transformou a linha editorial de modo a torná-la acessível e informal. Colocou-a em segundo lugar no ranking das publicações mais lidas da Abril, perdendo apenas para a Veja. Mostra, assim, não apenas suas trajetória pessoal, exposta de forma minuciosa, mas também a fenomenal cultura revisteira da empresa.

Mesclando essas recordações da vida particular com o que vivenciou na Abril, Adriano faz uma análise objetiva de um meio cuja estrutura de produção se manteve quase intocada durante quase 100 anos. Entre 2012 e 2018, porém, houve 7,8 mil demissões nos veículos de comunicação brasileiros. Entre os demitidos, 2.327 eram jornalistas, sendo 45% de jornais, 25% de emissoras de rádio e televisão e 22% de revistas. Vagas foram suprimidas e funções aglutinadas.

República dos Editores é um relato meticuloso dos erros e acertos de um importante grupo jornalístico, escrito por quem viveu os bastidores da corporação em seus dias áureos, na emergência e no início do terremoto. Complementa o excelente O Dono da Banca, biografia de Roberto Civita por Carlos Maranhão, escrito antes do despenhadeiro.

Silva mostra, em seu livro, como a Abril, ainda que se aventurasse em áreas como as edições didáticas e paradidáticas, era mesmo a indústria das revistas. É possível encontrar nele diálogos altamente instrutivos. É o caso do veterano dirigente Thomaz Souto Corrêa, que costumava transformar cada edição de suas revistas favoritas em murais temporários feitos com a colagem de suas páginas.

Participando de uma discussão sobre a revista adolescente Capricho, que estava sendo mais uma vez redesenhada, Thomaz observou: “se tudo aponta para a importância que nosso público-alvo dá para o tema cabelos, não seria recomendável que toda edição tenha isso em chamada de capa?” Lá foram os cabelos para a capa. E lá foi a circulação para cima.

Cronologia minuciosa

Não foi apenas a mudança disruptiva do meio editorial que acabou com a Abril. E, sim, a vontade de seus donos. República dos Editores termina com minuciosa cronologia da debacle, listando mês a mês, por cinco anos, o fechamento de revistas, a saída de profissionais e a sucessão de passaralhos.

A venda da área educacional por mais de R$ 3 bilhões teria sido mais do que suficiente para cobrir a dívida da Abril, que foi a R$ 1,6 bilhão. Mas não era isso o que os acionistas queriam. A empresa foi à recuperação judicial sem ajuda do dinheiro que seguiu para as contas privadas dos herdeiros de Roberto. Os Civita remanescentes não são obrigados a responder pelas dívidas da empresa, uma vez que a Abril é uma sociedade anônima.

O processo para se livrar do negócio culminou com a decisão, por um valor simbólico de R$ 100 mil, de vender a Abril a Fabio Carvalho, advogado especializado em desintegrar empresas quebradas, o que está para os negócios como os desmanches estão para a indústria de veículos.

A venda para o ferro-velho não foi concretizada, pois depende da aceitação pelos credores da proposta da família de somente pagar pouco mais de R$ 200 milhões.

Adriano Silva mostra que no mercado editorial, mais até do que em qualquer empreendimento, o equilíbrio entre o que se deseja fazer e o que as pessoas desejam comprar é o fator que carrega mais chances de definir entre sobrevivência ou morte.

“Talvez as melhores chances de fazer coisas que os outros queiram comprar estejam justamente na invenção de coisas que você gostaria de ter. Ou de ler ou de assistir ou de ouvir. Talvez, no fundo, a gente sempre crie produtos para nós mesmos. Algumas dessas coisas dão certo. Outras, não. Ponto”, diz.

Um dos altos executivos da Abril, vindo de fora da indústria da mídia (algo que se acelerou após a virada do milênio), e que não compreendia bem o que se fazia ali, uma vez questionou, exasperado, com seu pensamento cartesiano: “Se vocês publicam uma capa que vende muito num determinado mês, como pode não serem capazes de reproduzir o mesmo sucesso no mês seguinte?” Não é a lógica do setor.

É curioso, registra República dos Editores, como vários executivos simplesmente não conseguiam entender a Abril – qual era o negócio, como ele rodava, quais eram os fatores críticos de sucesso no ramo editorial. Havia um componente artístico no métier de revisteiro, a alma de Victor e Roberto Civita, e isso desnorteava executivos de fora, por mais competentes que fossem e por mais que se esforçassem em decupar o gingado da Abr

A República dos Editores: As histórias de uma década vertiginosa na editora Abril
Autor: Adriano Silva
Editora: Rocco
Páginas: 464
Preço médio: R$ 54,90

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