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Brasília

Vídeo: motorista de empresa de ônibus que deixou 9 mortos na BR-020 denuncia más condições de trabalho

Arquivo Geral

16/02/2018 22h39

Atualizada 17/02/2018 9h31

Reprodução

Um vídeo em que aparece um motorista da Expresso Guanabara — empresa que esteve envolvida no acidente que deixou nove mortos na BR-020 — reclamando das condições de trabalho na companhia levanta questionamentos sobre a tragédia da última quinta-feira (15). Nas imagens, publicadas no YouTube em dezembro do ano passado, o condutor, identificado como Décio Ferreira, denuncia que os funcionários são submetidos a jornadas excessivas, apontando “falta de comprometimento” por parte da empresa.

“Eu estou desde 20 horas aqui esperando esse carro. Chegou agora quase uma hora da manhã. Guanabara não está tendo compromisso com seus passageiros nem com seus motoristas. Porque eu vou pegar esse carro agora, vou dirigir oito horas pra Barreiras. Já vai fazer 14 horas que eu vou estar acordado. Eu cheguei essa madrugada, eu estou voltando no mesmo dia. Aqui em Goiânia e Brasília, nós estamos jogados a Deus dará”, diz Décio, que trabalha na mesma empresa que o motorista Edson Lopes Lima, de 47 anos, morto no acidente dessa quinta.

Procurada pelo JBr., a empresa afirmou que respeita rigorosamente a lei da jornada de trabalho dos motoristas e que o motorista envolvido no acidente da BR-020 havia cumprido 20 horas de descanso antes de assumir o volante na viagem, quando a lei a assegura 11 horas de descanso.

Após a publicação do vídeo, segundo a Guanabara, Décio foi convidado à matriz, em Fortaleza, para ser ouvido. “Foi verificado que o atraso relatado foi pontual, motivado pelas chuvas que acometeram a região e a interdição na Marginal Botafogo, que sobrecarregou o entorno da rodoviária e provocou engarrafamentos, afetando a saída do ônibus”, alegou. Em janeiro, Décio publicou outro vídeo, no Facebook, esclarecendo suas declarações e elogiando a atuação da empresa.

Zigue-zague

As reais causas do acidente entre um ônibus e duas carretas ocorrido na manhã de ontem ainda são desconhecidas. A principal suspeita, porém, é que o motorista do coletivo interestadual que percorreu mais de 1,5 mil quilômetros da Paraíba ao Cerrado tenha dormido ao volante e invadido a pista contrária. Sobreviventes falam em zigue-zague na pista e familiares ainda buscam informações oficiais.

Às 16h35 de terça-feira, o ônibus da Expresso Guanabara com 44 pessoas a bordo deixou a rodoviária de Cajazeiras, na Paraíba, com destino a Goiânia (GO), dois mil quilômetros distante. A viagem foi brutalmente interrompida 12 horas mais tarde, quando faltavam apenas 300 quilômetros para o destino final. Na BR-020, em um trecho simples com ultrapassagem proibida e sinalizada, o veículo colidiu frontalmente com uma carreta carregada com adubo.

Uma vítima garante que o ônibus patinava na pista. Paulo Jorge de Lima Silva, 29 anos, vinha de Pombal (PB) para trabalhar com o irmão. “Ele andava em zigue-zague de vez em quando. Por certo, quando cochilava”, acredita. A empresa responsável pelo ônibus garante que o condutor, Edson Lopes Lima, 47 anos, teve 20 horas de descanso antes da viagem.

Paulo Jorge teve ferimentos nas mãos, pernas e coluna. Levado ao Hospital Regional do Paranoá, o vendedor foi medicado, fez exames e passa bem, apesar das dores. “Para quem sobreviveu foi um milagre”, acredita. Ele estava na poltrona 20, do lado oposto ao do motorista. Depois da pancada, cheio de cacos de vidro, ele pulou a janela pensando que o ônibus pegaria fogo. Uma mulher também foi levada à unidade e, na tarde de ontem, passou por cirurgia ortopédica.

Saiba mais

Conforme a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o ônibus envolvido no acidente é um veículo novo, fabricado em 2017, com licenciamento em dia e seguia todas as exigências para operar naquela linha. A suspeita é de que o condutor tenha dormido ao volante.

A Viação Guanabara afirma que prestará assistência às vítimas. Para tanto, a empresa disponibilizou o telefone do SAC 0800-7281992 para atendimento aos familiares dos passageiros que porventura não tenham tido contato com a equipe da força-tarefa.

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