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Brasília

Vídeo. Repórter do JBr. se consulta com médico denunciado por pacientes

Arquivo Geral

05/12/2018 7h00

Médico Wesley Murakami. Foto: Jornal de Brasília

Ana Lúcia Ferreira
Raphaella Sconetto
[email protected]

O Jornal de Brasília contabilizou queixas de pelo menos 40 pacientes, que se uniram para compartilhar as experiências ruins e buscar soluções. Depois de receber as reclamações, a reportagem marcou uma consulta com o médico Wesley Murakami. A intenção era conhecer a forma de atuação do profissional, uma vez que muitos pacientes relataram tê-lo procurado para procedimentos simples, mas ele acabava os convencendo de fazer a bioplastia.

Leia Mais: Pacientes acusam médico de deformar rostos e provocar danos irreversíveis

Em uma sala do Taguatinga Shopping, o médico cobra entre R$ 80 e R$ 130, em espécie, para avaliar cada paciente. Antes mesmo de nossa equipe entrar no consultório, uma jovem também caminhava em direção à sala de Murakami. Em suas mãos estava um celular com fotos de pacientes insatisfeitas. No rosto, era possível perceber que ela também havia passado pela bioplastia. Revoltada, a jovem dizia que “iria fazer um barraco”, caso o médico não a atendesse. Ao entrar na clínica de estética, Beauté Corps, a garota conversou com uma das funcionárias, que dizia que o inchaço poderia acontecer em algumas pessoas. Antes de ir embora, a garota olhou fixamente nos olhos da repórter, como se quisesse dar algum sinal.

Dentro do consultório, Murakami recebeu a repórter com música. Ela disse que sua intenção era fazer limpeza de pele e tratar marcas de espinha. Na primeira conversa, porém, o médico logo disse que o que mais lhe incomodava eram os lábios dela, e não pele. Por isso, indicou a aplicação do PMMA (usado na bioplastia). Para atestar os bons resultados, ele mostrava fotos comparativas de antes e depois de pacientes. Em um caso, ele citou que trabalhou apenas o preenchimento para solucionar marcas de espinha de um homem.

Durante a consulta, Murakami pediu que a repórter ficasse de pé e segurasse um espelho na sua frente. Olhando para o objeto, ele citava imperfeições e como poderia melhorá-las. Em outros momentos, o médico disparava frases sobre a aparência da repórter, como “você é bonita, mas vai ficar ainda mais perfeita” e “seu rosto não é gordo, só precisa de harmonização”.

Ao final da consulta, ele apresentou o orçamento: R$ 4,5 mil para fazer a aplicação do PMMA nos lábios e no nariz, indicados como prioridade. Porém, o motivo inicial da consulta – a limpeza de pele – ele só orçou após insistência da reportagem. Para esse último tratamento, ele recomendou peeling e sessões de laser, além de prescrever medicação: ômega 3, antioxidante e lactobacilos. Sobre as formas de pagamento, foi proposto o parcelamento em até 4 vezes.

Registrado nos conselhos de Medicina, mas sem especialidade

Wesley Murakami tem dois registros ativos nos conselhos regionais de Medicina do DF (CRM-DF) e de Goiás (Cremego). No entanto, em ambos não há qualquer indicação de qual é a sua especialidade médica. Caso a especialização existisse, deveria constar ali. Nas redes sociais e nos prontuários, sua assinatura é apenas “médico”.

Em outubro, Wesley Murakami, recebeu uma “Censura Pública em Publicação Oficial” pelo Cremego. Na publicação, feita no dia 23, o conselho ressalta que a penalidade ocorreu por infração aos artigos 1º, 34 e 115 do Código de Ética Médica, que dizem respeito a danos ao paciente, deixar de informar os riscos do tratamento e anunciar títulos científicos que não possa comprovar a especialidade ou área de atuação.

Censura Pública pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás. Foto: Divulgação

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Cremego confirmou a inscrição ativa de Wesley Noryuki Murakami da Silva desde 2003, além de que ele não possui o registro de especialidade médica. Ao ser questionada sobre o andamento dos processos, a assessoria destacou que as apurações ocorrem sob sigilo judicial.

No Distrito Federal, o CRM possui uma sindicância instaurada e um processo ético em andamento. Assim como em Goiás, as informações correm em sigilo, conforme a legislação. Caso seja punido, ele poderá sofrer desde uma advertência confidencial até a cassação definitiva do registro profissional. “O Conselho julga apenas no âmbito ético. Para responder judicialmente, o médico deverá ser denunciado na Justiça”, aponta, em nota.

Médico tem registro ativo nos Conselhos do Distrito Federal e Goiás. / Foto: Reprodução

Saiba Mais

Uma das vítimas de Wesley Murakami é o apresentador do Balanço Geral da Record de Goiás, Oloares Ferreira. Na semana passada, a emissora veiculou uma reportagem com outras vítimas. No mesmo dia, o médico postou em suas redes sociais relatos de pacientes que dizem estar satisfeitos com os resultados.

Procurada, a Divisão de Comunicação da Polícia Civil do DF informou que é orientada a não informar antecedentes criminais ou investigações em aberto. Por isso, não é possível saber se há boletins de ocorrência contra o médico em Brasília.

Leia mais na edição de amanhã.

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