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Brasília

Vice-diretor é detido após humilhar aluno de 12 anos em Planaltina

Arquivo Geral

06/12/2016 7h00

Menino vai receber acompanhamento psicológico. Estatuto da Criança prevê que “Nenhuma criança pode ser submetida a constrangimento ou vexame”. Foto: Myke Sena

Manuela Rolim
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“Nem doeu tanto. O pior foi a vergonha que senti. Comecei a chorar e fui para a sala, descalço, como ele mandou”. O relato é de um aluno de 12 anos após ter o pé pisoteado, aparentemente de propósito, pelo vice-diretor do local onde estuda, o Centro de Ensino Fundamental Arapoanga (Cefa), em Planaltina, no início da tarde de ontem. Depois do episódio, Jordenes Ferreira da Silva, 45 anos, recebeu voz de prisão do Conselho Tutelar da cidade e foi levado para 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina).

O motivo para o menino ter sido humilhado e agredido perante todos os colegas é que o estudante foi pego calçando um chinelo em vez de tênis durante o intervalo, por volta das 13h. “Eu estava jogando futebol com os meus amigos no pátio. Começou uma confusão por causa da bolinha de papel que estávamos usando para brincar, e o diretor apareceu. Eu estava com a sandália nas mãos para não escorregar. Ele tomou meu chinelo, pisou no meu pé e disse ‘já que você quer tanto ficar descalço, agora vai para a sala assim’. Todo mundo ficou rindo de mim. Eu pedi licença depois que ele pisou e fui para a sala”, contou o garoto, que está no sexto ano.

Saiba mais

  • Atual vice-diretor do Centro de Ensino Fundamental Arapoanga (Cefa), Jordenes Ferreira da Silva foi escolhido nas últimas eleições para ocupar o cargo de diretor em 2017, segundo o Conselho Tutelar.
  • Jordenes foi candidato a deputado distrital pelo PPS – mesmo partido do senador Cristovam Buarque – e recebeu 10.924 votos, mas não foi eleito.

Depois de uma denúncia anônima e outra feita pelo Disque 100, um representante do Conselho Tutelar foi até o colégio e encontrou o aluno sentado de cabeça baixa, descalço e chorando muito na sala de aula, por volta das 15h.

“Demos voz de prisão em flagrante. Já fomos acompanhados da Polícia Militar. Depois, pegamos a vítima, passamos em sua casa para comunicar a família e seguimos para a delegacia. Antes disso, porém, pedimos para a diretora passar os dados da criança e assim facilitar o contato com os pais, mais foi negado”, contou um conselheiro, que encontrou o chinelo apreendido na direção.

Segundo ele, o estudante vai receber acompanhamento psicológico. “Ele está muito abalado. Toda vez que alguém toca no assunto, ele chora”, completou o conselheiro, que destacou o artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Nenhuma criança pode ser submetida a constrangimento ou vexame”, acrescentou. Em cumprimento ao ECA, o Jornal de Brasília decidiu não divulgar o nome da vítima e de seus familiares.

Apelidos

Essa não teria sido a primeira vez que o vice-diretor humilhou um aluno. “Ele coloca apelido em todo mundo. Já chamou um amigo de antena parabólica. Nunca tinha acontecido nada comigo. Eu senti muita raiva e ele nem me pediu desculpa”, ressaltou o aluno.

Em nota, a Secretaria de Educação informa que a corregedoria da pasta tomou conhecimento e vai apurar os fatos. “Caso o vice-diretor tenha se excedido, vai responder a Processo Administrativo Disciplinar (PAD)”, concluiu. O Jornal de Brasília procurou o advogado de Jordenes Ferreira da Silva, mas ele não quis se manifestar sobre o ocorrido.

“Eu fiquei sem acreditar”

No meio da tarde, a mãe da vítima foi pega de surpresa pela visita do Conselho Tutelar. “Eu fiquei sem acreditar. Meu filho nunca teve nenhum problema na escola, sempre foi um excelente aluno”, declarou a dona de casa, de 32 anos. Ela contou que havia três dias que o menino ia de chinelo para o colégio. “Normalmente, ele vai de tênis, mas estava com vontade de ir de sandália. Não vi tanto problema nisso”, ressaltou.

Chateada, a dona de casa questionou a atitude do vice-diretor. “Eu sempre tive uma boa relação com todos da escola. Nesse tipo de situação, gostaria que ele me ligasse, e não pisasse no pé do meu filho. Eu não gostei disso mesmo. No máximo, ele poderia ter tomado o chinelo dele e me chamado para conversar, mas jamais machucá-lo”, afirmou ela, que também é mãe de uma menina de 15 anos.

No próximo ano, o garoto, que faz aniversário amanhã, vai sair do centro educacional onde tudo aconteceu, assegurou a mãe. “Eu já ia mudá-lo de escola antes disso, mas essa decisão ganhou ainda mais força agora. Como já estamos no fim do ano, ele vai voltar para o colégio normalmente”, acrescentou.

Apesar do episódio, a dona de casa não almejava a prisão do vice-diretor. “Só queria que ele repensasse a atitude dele. Vou registrar ocorrência para que isso não aconteça com nenhuma outra criança. Meu filho já chegou em casa contando que ele tinha colocado apelido nos colegas. Isso não pode acontecer”, observou.

Até dois anos de detenção

Foi a primeira vez que o Conselho Tutelar de Planaltina presenciou esse tipo de caso. “É uma situação inacreditável. O delegado pode optar pela não elaboração da ocorrência ou registrar o ocorrido. Caso isso aconteça, o vice-diretor ainda pode pagar fiança e ser liberado”, explicou o conselheiro, detalhando que o Artigo 232 do ECA prevê pena de seis meses a dois anos de detenção.

O Jornal de Brasília procurou a comunicação da Polícia Civil, mas, até o fechamento desta edição, não recebeu resposta a respeito da prisão de Jordenes Ferreira da Silva.

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