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Brasil

Vaqueiros e defensores da vaquejada fazem manifestação na Esplanada dos Ministérios

Arquivo Geral

25/10/2016 10h35

Atualizada 26/10/2016 11h28

Hugo Barreto

Douver Barros
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Uma mobilização em favor da vaquejada reuniu cerca de seis mil pessoas na Esplanada dos Ministérios nessa terça-feira (25). Cavalos, vaqueiros e organizadores de vaquejadas de todo o Brasil se concentraram no Parque Leão, no Recanto das Emas, de onde partiram em um comboio na noite de segunda para a região central de Brasília.

O grupo protesta contra uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que derrubou por seis votos a cinco uma lei do Ceará que regulamente a prática no estado. Os ministros entenderam que a vaquejada impõe maus-tratos aos animais e fere princípios constitucionais de preservação ao meio ambiente.

O movimento é apoiado pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM), que garante atenção às normas de segurança dos animais durante as competições. Segundo Paulo Farha, presidente da entidade, “ao contrário do que muita gente pensa, a prática preza muito pelo cuidado aos animais. Temos um manual de bem-estar e regras que, se não seguidas à risca, levam à desclassificação sumária dos praticantes”.

Hugo Barreto

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De acordo com uma das organizadoras do ato e proprietária do Parque de Vaquejada Leão, Stefania Leão, o principal objetivo do movimento é mostrar a cultura de origem nordestina e exaltar a importância da vaquejada para a economia brasileira. “Respeitamos a decisão do STF, mas queremos mostrar que o universo da vaquejada movimenta a economia do Brasil”, ressalta.

Segundo ela, eventos com o envolvimento de bois e cavalos geram cerca de 700 mil empregos diretos e indiretos e uma eventual proibição da prática acarretaria em um agravo no desemprego nacional. “A vaquejada evoluiu. Existe um equipamento que protege a cauda do animal de possíveis danos. Também há preocupação com a quantidade de areia na pista para que se forme um colchão, a fim de evitar lesões aos bois e cavalos”, detalhou Stefania.

Hugo Barreto

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Bate-boca na Câmara

Enquanto vaqueiros protestavam do lado de fora, a audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir a proposta de regulamentação da vaquejada foi marcada por tumulto e briga entre os defensores da prática difundida no Nordeste e os defensores da causa animal. Deputados bateram boca na reunião conjunta das comissões de Esporte e Meio Ambiente.

Um dos embates envolveu os deputados Ricardo Tripoli (PSDB-SP) e Vitor Valim (PMDB-CE). Durante sua participação na audiência, o tucano disse que a decisão do STF que tornou inconstitucional a lei cearense que regulamentava a vaquejada naquele Estado não podia ser contestada e sim cumprida. Tripoli destacou que a medida foi necessária “para que não se chegue no rodeio”, por isso era bom “que se pare por aqui”. “Vamos parar por aqui para não chegar no rodeio. É para defender o rodeio, é isso? Seja homem, rapaz”, interrompeu o peemedebista.

Enfurecido, Tripoli – conhecido por defender a bandeira da proteção animal – deixou a mesa de trabalhos e foi em direção a Valim tomar satisfação. “Seja homem”, provocava Valim, que é defensor da vaquejada. “Eu dou na sua cara, seu moleque”, retrucou Tripoli fora do microfone. A sessão foi suspensa para que os ânimos fossem acalmados.

Saiba mais

– Segundo a Polícia Militar, além das seis mil pessoas que circularam pela Esplanada, o movimento contou com 410 caminhões, 1,2 mil cavalos, 53 ônibus e 114 carros.

– A vaquejada ocorre da seguinte forma: uma dupla de vaqueiros conduz um boi dentro da arena, com o objetivo de derrubá-lo puxando-o pelo rabo, dentro de uma área demarcada.

– A lei federal nº 10.220/01 regulamenta a profissão de atleta profissional de peão de rodeio e reconhece a vaquejada como modalidade esportiva equiparada ao rodeio.

– A lei 12.870/13 regulamenta a profissão de vaqueiro, estabelecendo-o como profissional responsável pela preparação de animais para eventos culturais e sócio-esportivos.

– São realizadas cerca de quatro mil vaquejadas por ano, a maioria no nordeste.

Atrações artísticas

A programação do protesto incluiu um ato político em frente ao Congresso Nacional, com presença de deputados estaduais de diversos estados nordestinos; missa do vaqueiro na Catedral Metropolitana de Brasília; e cavalgada pelo Eixo Monumental. Ainda houve show do cantor Luan Estilizado e manifestação cultural de artistas musicais do nordeste, como os cantores Tony Guerra, Rita de Cássia, Sirano, Mano Walter e a banda Mastruz com Leite.

No Distrito Federal, a vaquejada é apoiada pelo deputado distrital Juarezão (PRTB), autor do PL 225/2015. O governador Rodrigo Rollemberg chegou a vetar o projeto sob o argumento de que a proposta era inconstitucional por resultar em práticas cruéis contra animais. O veto, no entanto, foi derrubado pelos parlamentares por 13 votos a dois, além de nove ausências.

A vaquejada enfrenta forte resistência de ONGs protetoras de animais. A “ProAnima” promoveu uma mobilização nacional nas redes sociais para barrar a prática, que considerou uma “tortura”. A reportagem do Jornal de Brasília procurou representantes da entidade, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

Em fevereiro do ano passado, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) suspendeu a realização de uma vaquejada do parque de vaquejada Maria Luiza, em Planaltina, depois de uma ação movida pela ONG BSB Animal, por suspeita maus-tratos. O juiz ainda determinou a proibição de eventos semelhantes sob pena de multa de R$ 1 milhão de reais para o caso de descumprimento da decisão.

Hugo Barreto

Hugo Barreto

 

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