Menu
Brasília

Uber vira o alvo favorito dos assaltos no DF

Arquivo Geral

11/01/2017 7h00

Atualizada 10/01/2017 21h48

Vítimas preferem não se identificar por medo de serem desligadas da Uber. Todas falam sobre a sensação de insegurança. Foto Sandro Araujo

Eric Zambon
[email protected]

“Eu puxei a passageira para dentro do carro e arranquei com ela pendurada, com metade do corpo para fora”, relata o motorista da Uber Marcelo de Sousa Faria, 29. A cena ocorreu há cinco meses, em Ceilândia, pouco após ele parar em frente à casa da cliente. Conforme o rapaz, três homens armados surgiram da esquina e ele precisou pensar rápido.

O susto passou, mas a sensação de insegurança permanece. Faria é apenas um dentre dezenas de motoristas da Uber que contaram ao Jornal de Brasília sobre experiências parecidas nos últimos meses. A empresa afirma não ter à disposição dados sobre a quantidade de crimes sofridos por seus parceiros, mas a sensação generalizada é que os homens e mulheres de roupa social e carro sedã se tornaram alvos comuns de criminosos.

Marcelo sugere que Uber cobre mais informações dos usuários. Foto Sandro Araujo

Marcelo sugere que Uber cobre mais informações dos usuários. Foto Sandro Araujo

Faria sugere que os motoristas estão mais vulneráveis desde agosto do último ano, quando, por determinação do aplicativo, eles passaram a aceitar pagamentos em dinheiro. “Quem optasse por dinheiro deveria se cadastrar pessoalmente em algum centro e dar RG, CPF, comprovante de residência. Eu não tenho que fazer isso? Então por que o passageiro não pode?”, critica, e prossegue. “Hoje o cara compra um celular e faz um cadastro falso com um chip qualquer.”

A Uber se defende das críticas e afirma que, ao aceitar pagamentos em dinheiro, “milhares de pessoas puderam usar o app pela primeira vez”. Segundo nota da empresa, ela “trabalha ativamente com as autoridades para colaborar nas investigações”. O aplicativo também promete “aumentar a segurança da plataforma”, sem especificar como e quando.

Especialista em segurança pública, a delegada da Polícia Civil Eneida Taquary acredita que o fato de os motoristas poderem receber em dinheiro aumenta a vulnerabilidade deles. Para ela, a segurança proporcionada pelo pagamento por cartão de crédito tornou os parceiros do aplicativo tão suscetíveis a crimes quanto os taxistas.

“Poderia haver monitoramento da Uber a respeito do deslocamento do veículo. É algo que poderia ser checado pela própria empresa”, opina. É o mesmo sistema de caminhões de carga e até comerciantes do DF. “Para se ter segurança, é preciso investimento”, alfineta.

O bandido por trás do consumidor

Funcionário do aplicativo desde 2015, Will – como prefere ser identificado – critica a atuação e o suporte prestados às vítimas. “Eles abriram essa possibilidade (de pagar em dinheiro) só para receber mais clientes, mas parecem não saber que, por trás daquele cliente, pode existir um bandido”, problematiza o homem, que prefere não se identificar por medo de ser desligado da Uber – seu único sustento no momento, conforme o próprio.

Ele relata ter sido vítima de roubo há menos de um mês. Segundo o motorista, depois de pegar passageiros em Santa Maria, com destino para a cidade vizinha, Gama, foi rendido e obrigado a parar próximo a uma oficina. Seu carro foi localizado dias depois sem aparelho de som e estepe, e os documentos pessoais do homem não foram encontrados.

“A Uber não ajudou a encontrar meu carro, fiz tudo sozinho. Eles falam que não existe vínculo empregatício conosco, mas a gente presta serviço para eles!”, esbraveja. “Eles chamam a gente de parceiro, mas esses parceiros estão correndo risco de vida, a ponto de gente não querer mais rodar. De parceiros vamos acabar virando inimigos”, ameaça.

Memória

  • Na última quinta-feira, um motorista da Uber foi rendido e teve o carro levado por dois criminosos em Águas Claras, às 19h20, conforme mostrou o JBr.. Segundo seu sobrinho, a vítima tinha acabado de ajudar um passageiro a desembarcar e parou para se alimentar em uma barraca de comida na Rua 35 Sul, uma via residencial relativamente movimentada.
  • Na noite seguinte, em São Paulo, um parceiro do aplicativo foi morto a facadas por dois travestis, conforme a Polícia Civil paulista. O rapaz, Lucas Rafael Silvério Land, teria sido atingido no pescoço após discutir com um dos agressores em uma rua do bairro Vila Clementino, na Zona Sul de São Paulo. Sobre esse caso, a Uber afirmou que o motorista não estava em serviço no instante do crime.
  • Em 2 de dezembro, outro motorista da Uber foi morto, desta vez em Aparecida de Goiânia (GO). Lindimar Ferreira Santos, de 38 anos, teria tentado reagir a uma tentativa de assalto e foi morto a facadas. Parceiros do aplicativo na cidade fizeram protestos pedindo por mais segurança.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado