Ana Clara Arantes
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Brasília tem um dos dez piores sistemas de transporte público do mundo. A constatação está em um estudo realizado pelo Expert Market, instituto de pesquisa americano. O levantamento foi feito com base em dados coletados em 74 dos principais centros urbanos do planeta. Questionada pelo Jornal de Brasília, a Secretaria de Mobilidade considerou a pesquisa “superficial, imprecisa e ineficaz”.
Perdendo apenas para Salvador, a capital do País apresenta o pior tempo de espera por transporte público: 28 minutos. Na capital baiana, o tempo de espera é de 33 minutos. Já a média de deslocamento diário equivale a 1 hora e 36 minutos. Com relação ao valor gasto em passagens, 5,77% da renda mensal do usuário é comprometida com transporte público. Situação pior somente em Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ).
O instituto afirma que a pesquisa foi realizada com base em indicadores como tempo de espera para embarque, tempo de viagem, custo mensal para transporte com base no salário médio da população, baldeações e distância total.
Espera interminável
Moradora de Ceilândia Norte, Thainara Cristina Batista Ribeiro, 22 anos, é jovem aprendiz de um posto de combustíveis em Taguatinga Sul. Ela sai de casa para pegar ônibus às 5h40, mas só consegue embarcar por volta das 6h20. “Para ir a qualquer lugar precisamos ficar esperando”, reclama.
No período de férias, segundo ela, os ônibus estão passando uma hora após o horário normal. “Tem muito atraso e descaso com a população. Às vezes eles não param e passam direto. Falta mais preparo e não há frota suficiente para todos”, completa.
Usuários reprovam qualidade
A diarista Magnólia Longo, 64, utiliza o transporte público com frequência: “Pego ônibus do Núcleo Bandeirante para o Plano Piloto, Ceilândia e Guará. Utilizo para ir ao trabalho e para fazer tudo que preciso, como consultas médicas, por exemplo”, conta.
A idosa diz que é preciso saber o horário exato dos ônibus para que o usuário não espere durante muito tempo nas paradas. “Senão você vai ficar até uma hora esperando”, avisa.
Magnólia reclama da qualidade dos coletivos e da sujeira. Para ela, é necessário um olhar criterioso do governo perante as empresas. “Elas têm de cumprir requisitos básicos. Afinal, estamos pagando pelo serviço”, destaca.
Lucas Alvarenga, de 20 anos, é estudante e utiliza tanto ônibus quanto metrô para ir à faculdade. Ele considera absurdo o valor cobrado se levar em consideração o tempo de espera, a qualidade e, no caso do metrô, a distância.
“Os ônibus são caros e não têm qualidade. Não possuem ar-condicionado, são sujos e em época de chuva estão sempre molhados. . Já o metrô, você paga um valor alto, mas ele não leva o cidadão para vários pontos da cidade. Na Asa Norte, por exemplo, não existe sequer uma linha”.
Lucas acredita que o governo deveria dar mais atenção à população que necessita de transporte público: “Quem precisa passa grande parte do seu dia em função da espera e gasta igualmente o mesmo tempo para chegar ao destino. Poderiam criar uma solução para que o deslocamento fique mais acessível e confortável”, opina.
Versão Oficial
Em nota, a Secretaria de Mobilidade considerou a pesquisa do instituto americano Expert Market “superficial, imprecisa e ineficaz, além de conter distorções graves em relação ao transporte público das cidades”.
Para a pasta, a pesquisa não leva em consideração elementos importantes para se avaliar o sistema de transporte público de uma região, como por exemplo, a densidade demográfica de cada localidade, o processo de urbanização, a qualidade da frota, entre outros.
“Brasília, por exemplo, tem uma série de peculiaridades que a diferenciam de outras cidades do País, mas principalmente do mundo. A começar pelas grandes distâncias entre as regiões administrativas da cidade, o que faz com que os usuários passem mais tempo dentro dos ônibus e, que portanto, não torna o sistema de transporte da capital ruim, mas demonstra que no Distrito Federal o esforço que tem sido realizado pelo governo é muito maior do que em outras cidades/países para promover uma melhor mobilidade pra cidade”, diz.
“Além disso, não foi levado em conta o processo de integração entre os modos de transporte, onde em Brasília, o usuário, desde a implantação do bilhete único, passou a ganhar mais rapidez, agilidade e economia Não foi realizada ainda uma avaliação da frota de cada cidade. Brasília por exemplo, possui uma das mais novas do mundo, que, inclusive utiliza combustível renovável. A qualidade dos terminais rodoviários, a implantação de faixas exclusivas e do BRT também não foram considerados”, defende a pasta. A reportagem do Jornal de Brasília entrou em contato com o DFTrans, mas, até o fechamento desta edição, a demanda não havia sido atendida.