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Brasília

Telma Cristina mentiu sobre quatro cânceres, diz Polícia Civil

Arquivo Geral

12/03/2019 12h37

Telma deu uma entrevista ao Jornal de Brasília em setembro contando sobre sua luta contra o câncer. Guará. Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília.

Tácio Lorran
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Coordenador de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf), o delegado Wisllei Salomão prestou esclarecimentos sobre o caso que envolve Telma Cristina Saraiva Franco, suspeita de aplicar golpe contra uma ONG de ajuda a pacientes com câncer.

Segundo o delegado, Telma mentiu sobre os quatro cânceres (um em cada mama, um no intestino e um no reto) e um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Com a farsa, ela recebeu, por solidariedade, doações em dinheiro e em depósito, além de roupas e eventos para ajudar no suposto tratamento.

“Nenhuma doença foi comprovada. Ela raspou a cabeça, fez com que familiares e pessoas solidárias também cortassem o cabelo; e alegou que precisava de dinheiro para fazer a quimioterapia, diante da necessidade de remédios manipulados – o que não existe”, disse Salomão.

Leia também: “Nunca a vi com sintomas”, diz familiar de mulher que teria mentido sobre câncer

Telma ainda citou que era paciente de um oncologista, que também não existe, e alegava que fazia tratamento no Hospital Santa Helena, que não faz esse tipo de atendimento.

A mulher também participou de concursos, foi nomeada miss superação, integrou uma ONG no final do ano passado, realizou palestras e fez campanhas para arrecadação de dinheiro para seu suposto tratamento.

Segundo o delegado, Telma começou a mentir sobre a doença entre cerca de três e quatro anos atrás, quando o marido anunciou que se separaria dela.

Em fevereiro, a Polícia Civil do Distrito Federal foi procurada por membros da ONG, que desconfiaram da queda de cabelos e das atividades físicas que a mulher praticava, uma vez que tais exercícios não eram realizados por pessoas com a mesma doença.

Delegado Wislei Salomão investiga caso de falso câncer. Foto: Tácio Lorran/Jornal de Brasília

Punição

Telma Cristina está sendo investigada pelo crime de estelionato continuado, com pena de um a cinco anos de prisão – que pode aumentar de acordo com o surgimento de novas vítimas. Ela ainda não foi ouvida pela PCDF e a investigação segue em andamento.

Até o momento, três vítimas já prestaram depoimento à PCDF. Segundo o delegado, elas doaram quantias de cerca de R$ 100 e R$ 200, roupas, vestidos e festas de aniversário. Ainda não se sabe o total de quanto Telma adquiriu com doações.

Quem é Telma Cristina

Telma Cristina, 44 anos, é massoterapeuta e possui três filhos, entre 15 e 22 anos. Segundo o delegado, ninguém – nem mesmo a família ou os filhos – sabia da farsa. No final do ano passado, ela deixou de receber doações, e apagou suas redes sociais. Ela, inclusive, saiu de um grupo no WhatsApp chamado “Amigos de Telminha”.

Apesar do crime, o delegado Wisllei Salomão pede para que as pessoas não deixem de doar e ajudar o próximo. “Só porque alguém abusou da solidariedade das outras pessoas, os doadores não devem deixar de oferecer ajuda”, conscientiza.

O delegado aconselha que as doações sejam realizadas para instituições conhecidas, como ONGs, e evitar depósitos em contas individuais.

Telma Cristina é investigada pela PCDF. Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília.

“Nunca a vi com sintomas”

Na segunda-feira (11), o Jornal de Brasília informou, com exclusividade, que um familiar de Telma Cristina disse nunca tê-la visto com sintomas de câncer. “Eu sabia que ela mentia para a família, mas quando eu soube que tomou essa dimensão eu fiquei abismada. Não esperava que ela teria essa coragem de envolver tantas pessoas em um assunto tão sério. Fiquei com muita raiva”, disse a familiar da mulher que não quis ser identificada.

Médica veterinária, a familiar teve acesso a um dos supostos exames de mama de Telma, quando a mesma teria descoberto a doença. “Uma pessoa me mostrou o resultado de um exame dela e eu vi que não era câncer, porque sou veterinária, então entendo. Havia uma alteração, mas não era câncer”, avaliou.

Além disso, a familiar confirmou ao Jornal de Brasília que, sempre que perguntava sobre tratamento, médicos e exames, Telma ficava nervosa e mudava de assunto.

A reportagem tentou contato com Telma, mas não houve resposta. Em 2017, o Jornal de Brasília havia feito uma entrevista com Telma Cristina sobre o tratamento do câncer. Em outra reportagem feita no Natal do ano passado, ela afirmou que estava vivendo, apesar de um ano difícil.

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