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Brasília

Só neste ano, 365 motoristas foram multados por obstruir a passagem em atendimento de urgência

Arquivo Geral

24/08/2017 7h00

Atualizada 23/08/2017 22h33

Foto: Breno Esaki

Matheus Venzi
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Minutos, segundos e até décimos de segundo: qualquer detalhe pode ser crucial em um atendimento de emergência onde a rapidez é obrigatória. Uma obstrução no caminho pode ser decisiva para salvar a vida de uma pessoa, mas, na prática, parece que muita gente ainda não sabe disso.

Segundo dados do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), só neste ano 365 condutores foram autuados por obstruir a passagem de veículos em atendimento de urgência. E o problema não é só esse: automóveis estacionados em locais inapropriados dificultam o trabalho dos bombeiros e atrapalham a chegada das viaturas ao local adequado. A reportagem do Jornal de Brasília presenciou a dificuldade de uma equipe do Corpo de Bombeiros em atender uma ocorrência na Feira dos Importados.

Impedir a passagem de ambulâncias, veículos de socorro de incêndio e salvamento, da polícia e da fiscalização, em situações de emergência, é uma infração gravíssima. O condutor tem que pagar uma multa de R$ 293,47, além de perder sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Mas esse não é o único prejuízo. Segundo o tenente dos bombeiros Souza Mendes, o cidadão pode até responder criminalmente pelo ato.

“Se uma infração desse tipo custar a vida de uma pessoa, por exemplo, quem impediu a passagem pode ser responsabilizado criminalmente. Inclusive responder por homicídio doloso, já que tinha ciência de que uma atitude dessa pode custar a vida de um ser humano”, diz o tenente.

Ele também reforça que as viaturas têm alto custo de deslocamento. “É caro manter estes carros. Ninguém vai sair para a rua à toa, é como queimar dinheiro. Não ligamos o sinal de urgência sem motivo”, destaca Souza Mendes.

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, quando um veículo se aproximar com os dispositivos de emergência acionados, todos os condutores deverão deixar a faixa da esquerda livre. Os automóveis devem ir para o lado direito da via e até parar se necessário. Segundo o diretor-geral do Detran-DF, Silvain Fonseca, os motoristas devem procurar sempre andar à direita.

“As faixas da esquerda são destinadas à ultrapassagem e ao deslocamento dos veículos de maior velocidade. É importante elas estarem livres para facilitar o trânsito de viaturas em situações críticas”, explica.

Os “espertinhos” também podem ser multados. O condutor não pode aproveitar o espaço deixado pelos automóveis de emergência e segui-los, já que isso caracteriza infração grave, com multa de R$ 195,23 e cinco pontos na CNH.

O gerente de lojas Yago de Melo, 20 anos, trabalha como motorista do aplicativo Uber nas horas vagas e garante que sempre dá passagem quando vê uma sirene ligada. “Meu pai é bombeiro, então desde pequeno eu sei a importância de uma ocorrência. Se precisar, eu subo até na calçada”, conta. Porém, Yago declara ter visto várias vezes condutores deixando de dar a preferência.

Código de Trânsito

  • A infração por estacionar em local inapropriado pode variar de leve até gravíssima, dependendo do tipo da área onde o veículo foi deixado.

A agonia diária dos bombeiros

Imagine o socorro estar a poucos metros de distância de uma vítima de acidente ou crime, mas separado por um bloqueio imprudente. A reportagem do Jornal de Brasília foi até a Feira dos Importados, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), no fim da manhã de ontem, e presenciou a dificuldade dos bombeiros em concluir um trajeto.

O caminhão do Corpo de Bombeiros foi ao local fazer uma vistoria de captura de insetos, mas não conseguiu passar pela fila de carros no estacionamento da feira. Os veículos em fila dupla estreitaram o corredor de passagem, e o caminhão só conseguiu seguir até certo ponto. Depois, teve que dar meia volta e o estacionou onde deu.

O sargento dos bombeiros Leonardo Gomes explica que essa situação ocorre com frequência. “Principalmente aqui nas proximidades da feira. A sorte é que a ocorrência não envolvia a vida de uma pessoa”, observa. Ele também destaca que o Corpo de Bombeiros pode acionar o guincho em casos assim. No entanto, como a ocorrência de ontem não era tão grave, a medida não foi necessária.

Irresponsabilidade

O garçom Fernando Gonçalves viu toda a cena e fixou perplexo. “Se fosse um incêndio, como fariam? Vários danos graves poderiam acontecer enquanto os bombeiros tentam chegar ao local. O tempo que eles perdem é crucial”, desabafa. Fernando acredita que se tivesse mais estacionamentos públicos esse problema poderia ser resolvido. “Já ajudaria muito. Não dá para a gente ficar contando com a sorte sempre. Um dia pode ocorrer fatalidade por causa disso”, completa.

O policial militar Ely Souza também já viu cenas parecidas, inclusive quando motoristas deixam de dar passagem na faixa da esquerda. “Acontece várias vezes de a gente presenciar veículos fechando os carros de emergência”, diz. Ele acredita que, em alguns casos, a pessoa fica nervosa e não consegue reagir, entretanto, na maioria das vezes isso acontece por falta de educação no trânsito.

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