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Brasília

Saúde da Família quase dobra a cobertura

Arquivo Geral

24/11/2017 7h00

Evani com Riquelme: apesar dos elogios aos enfermeiros, cobrança de atendimento pelo Núcleo Regional de Atendimento Domiciliar, que garante atenção secundária, inclusive com médicos. Foto: Francisco Dutra

Francisco Dutra
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Apontado por especialistas como um dos principais remédios para a crise na Saúde Pública, o programa Saúde da Família teve a cobertura ampliada de 28% para 44% no Distrito Federal, nos últimos 11 meses. Com a contratação de novos médicos da família e a capacitação de outros profissionais, o governo Rollemberg projeta pisar em 2018 com 65% da população brasiliense com pleno atendimento primário. Se o cronograma for seguido à risca, em julho do próximo ano 70% da população terá o modelo diferenciado pela prevenção, junto com o cuidado familiar e social.

Segundo a Secretaria de Saúde, algumas regiões, afligidas pela vulnerabilidade social, terão cobertura próxima a 100% em janeiro de 2018. A lista inclui Samambaia, Sol Nascente, Sobradinho, Planaltina, Estrutural, São Sebastião, Itapoã, Brazlândia e Gama. Em linhas gerais, o projeto tem fôlego para resolver 85% dos problemas de saúde das comunidades, desafogando as emergências dos hospitais da rede pública. O foco na prevenção também poupa o erário de gastos com operações, medicamentos de alta complexidade e internações.

Ao contrário da polêmica proposta do Instituto Hospital de Base, a ampliação do programa é uma praticamente uma unanimidade entre servidores, especialistas e políticos. Neste cenário, caso cumpra a promessa, Rollemberg terá duas vitórias em 2018. Administrativamente, terá um avanço real na qualidade da rede pública. Politicamente, terá em mãos um ativo concreto no projeto de reeleição ou formação de um sucessor ou sucessora.

“Tínhamos um modelo tradicional até o ano passado. Com a publicação das portarias 77 e 78, em fevereiro deste ano, conseguimos as condições para ampliar o modelo do Saúde da Família em curto espaço de tempo. Um modelo praticado em vários locais do País, estimulado e financiado pelo Ministério da Saúde”, comenta a coordenadora de Atenção Primária, Alexandra Miranda Moura. A base dos atendimentos são as unidades da Clínica da Família. Extra-muros, as equipes vão até domicílios, escolas, igrejas e pontos comunitários. Cada time cuida de 3.750 pessoas.

Ponto de vista

“Os números do governo são verdadeiros. Neste caso a Secretaria de Saúde está sendo muito corajosa ao correr atrás de 20 anos de desvalorização da atenção primária”, argumenta a professora Carla Pintas, do departamento médico de saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB). Na avaliação da especialista, a gestão acertou com a publicação das portarias para garantir estabilidade ao programa e com o processo de capacitação voluntária de servidores do quadro atual. “O modelo avalia a linha de cuidado de cada paciente. Uma gestante não tem apenas o bebê. A equipe acompanha a gestação, o pré-natal e o pós-parto”, argumenta. As Clínicas da Família também desenvolvem atendimento personalizado para cada paciente e com linhas de ação macro norteadas pela realidade de cada comunidade.

População ainda cobra atendimento por médico

Apesar dos números expressivos do programa Saúde da Família, a população ainda amarga as falhas na rede pública. É o caso de Riquelme Rodrigues, 14 anos, portador de paralisia cerebral e morador de Samambaia. Segundo a mãe do adolescente, a dona de casa Evani Barbosa, 46 anos, ele está inscrito no Saúde da Família, mas não está assistido pelo Núcleo Regional de Atendimento Domiciliar (Nrad), fundamental para o atendimento completo do filho.

“O Riquelme era para ser atendido pelo Nrad, mas não é. Aí mandaram ele para essa Clínica (da Família). Só que o atendimento para ele não é bom. Porque ele tem que ser visitado todos os dias, avaliado por médicos, enfermeiros (em casa). E, entre aspas: não está sendo”, afirma Evani. Conforme o relato da dona de casa, o filho teria iniciado o tratamento do Nrad, para atenção secundária especializada, em 2011. Contudo foi transferido, sem explicação, para a Clínica da Família.

“Médico? tem muito tempo que o Riquelme não é atendido. Muito, muito tempo”, crava. O estado do menino é preocupante, tendo inclusive pneumonia. Riquelme necessita de oxigênio, sonda e outros cuidados.

“Quero deixar bem claro que na parte dos enfermeiros (do Saúde da Família) não tenho do que reclamar”, frisa Evani. A dona de casa também conta que recentemente foi até a Clínica da Família da região à procura de itens para o cuidado do filho. De uma lista de nove produtos, faltaram quatro.

Em busca de ajuda, Evani espera conseguir apoio da Defensoria Pública do DF. A reportagem do Jornal de Brasília testemunhou o desabafo da mãe em uma visita junto com a equipe do Saúde da Família. Com o marido desempregado, Evani desabafa que a família se desdobra para sobreviver dando qualidade de vida para Riquelme.

Versão oficial

Por nota a secretaria de Saúde alega que Riquelme foi assistido em domicílio até o ano de 2013, através do Programa de Internação Domiciliar (PID). Naquele ano, ele teria sido avaliado pela equipe multidisciplinar, que entendeu que, a partir daquele momento, ele deveria permanecer em acompanhamento domiciliar, porém pela equipe do Programa de Oxigenioterapia Domiciliar e pela Equipe de Saúde da Família da Unidade Básica de Saúde nº 7 de Samambaia. Desde então, no discurso do governo, o adolescente recebe assistência, frequente e regularmente, pelas equipes de Saúde da Família. A Oxigenioterapia Domiciliar prevê que o paciente receba cilindros de oxigênio, continuamente. A família passa por treinamento e capacitação para oferecer os cuidados necessários ao paciente, tendo a equipe de Estratégia de Saúde da Família sempre à disposição para orientações, ou situações de urgência. A família do paciente passou por treinamento também para ajudar na assistência. Por outro lado, a equipe do Saúde da Família realiza coleta de sangue para exames laboratoriais e demais procedimentos médicos, como aferição de pressão arterial. Segundo a pasta, a equipe é composta por médico da Família, enfermeiro, técnico de enfermagem e agente comunitário de Saúde. Conforme a versão do governo, Riquelme hoje não tem indicação para assistência pela Equipe de Atenção Domiciliar (antigo NRAD), devido ao seu atual quadro de saúde, o qual é avaliado com frequência.

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