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Brasília

Saúde bucal no DF: um dentista para cada 6,3 mil habitantes

Arquivo Geral

15/05/2017 7h23

Myke Sena/Jornal de Brasília

Manuela Rolim
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Um dentista para 6.385 moradores. Essa é a realidade de quem precisa de atendimento odontológico na rede pública do DF. São 476 profissionais da área para um total de 3.039.444 habitantes, conforme estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Secretaria de Saúde admite que o número é insuficiente, mas garante que, ao conseguir assistência, o paciente recebe um serviço com “grau de qualidade máxima”. Mais do que isso, desde o início do ano, a pasta testa uma forma nova de suporte. Na prática, porém, aqueles que carecem de tratamento discordam do órgão.

É o caso das irmãs Luiza Nascimento Lima, 49 anos, lavradora, e Ivanilde Conceição de Lima, 42, dona de casa. Moradoras da Estrutural, elas cansaram de esperar por atendimento. “Tenho vários problemas de saúde, inclusive diabetes. Por causa da doença, os meus dentes estragaram. Alguns amoleceram e outros inflamaram. A médica que me acompanha disse que eu preciso extrair tudo, mas nem marcar uma consulta eu consigo”, lamenta Luiza.

Saiba mais

  • Segundo a Secretaria de Saúde, 35% da população tem cobertura odontológica. Com o novo modelo de conversão da atenção primária, a pasta espera elevar a cobertura para 75% da população.
  • Ainda de acordo com a pasta, tendo em vista que a população dependente do Sistema Único de Saúde (SUS) gira em torno de 80%, a secretaria espera fazer a cobertura de praticamente 100% da população que não tem assistência particular.

Enquanto isso, a lavradora segue com dificuldade para mastigar. “Sinto muita dor. Às vezes, meu rosto amanhece inchado. Minha filha até pagou um tratamento particular uma vez, mas é caro demais. Não tivemos condições de arrancar todos os dentes. No posto da Estrutural, só recebo porta na cara. A desculpa é sempre a mesma: não tem médico, não tem vaga, não tem agenda disponível”, afirma.

Ivanilde está na mesma situação. Há um ano e meio, ela conseguiu extrair três dentes no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), mas não deu continuidade ao tratamento. “Tenho problema de coração, Doença de Chagas e anemia. Faço acompanhamento no Hran há bastante tempo. Minha médica se comoveu com a minha situação e a da minha irmã e pediu ajuda a um dentista do hospital pessoalmente. Na época, ele extraiu três dentes meus e três da Luiza. O problema é que nunca mais conseguimos atendimento”, declara.

A dona de casa lamenta não poder contar com o serviço oferecido no posto da Estrutural. “Nunca consegui fazer uma limpeza, nem os meus filhos. Meu sonho é ter um sorriso bonito. Quando eu era criança, não tinha nem creme dental em casa”, lembra.
Ivanilde ressalta que não é só questão de estética. “Tenho vergonha de tirar foto, sempre coloco a mão na boca ou fico séria. Além disso, fico preocupada com mau hálito. É revoltante. Pago meus impostos em dia e, às vezes, não tenho nem o dinheiro da passagem, mas vou ao posto com a esperança de resolver o problema. Sempre volto para casa sem nada”, conclui.

Verba federal de R$ 3,5 mi

Em resposta, a Secretaria de Saúde assegura que a população encontra atendimento nas 172 Unidades Básicas de Saúde, nos hospitais e nos Centros de Especialidades Odontológicas, o que custa ao órgão R$ 3,5 milhões por ano, repassados do Ministério da Saúde, exclusivamente, para o setor. A pasta ressalta o projeto de conversão da atenção primária, ainda em fase instalação. A ideia é que a comunidade conte com uma equipe de saúde bucal para cada uma ou até duas equipes de Saúde da Família.

“Dessa forma, conseguiremos ter uma noção real da demanda. Além disso, os profissionais criam uma relação mais íntima com os pacientes, o que contribui para o acompanhamento. É como se fosse o dentista da família. O modelo é extremamente mais eficaz que o tradicional. Não ficamos mais parados esperando o paciente nos procurar”, afirma o diretor multidisciplinar, Paulo Queiroga.

Com isso, a pasta espera levar alguma cobertura odontológica a 75% da população do DF. Cada equipe será composta por um dentista e um técnico em higiene bucal. A dupla será vinculada a um ou dois grupos de Saúde da Família, que já é formado por um médico, um enfermeiro, técnicos de enfermagem e auxiliares gerais. “Portanto, teremos 3,5 mil pessoas assistidas ou 7,5 mil, no caso do atendimento prestado por dois grupos simultaneamente. Nas áreas de maior vulnerabilidade, adotamos a proporção de um para um. No futuro, a intenção é que essa seja a realidade para todas as regiões”, explica.

Queiroga ressalta que já são 92 equipes em todo o DF. Até o fim de 2017, a expectativa é de que o número chegue a 300 na questão da cobertura odontológica. “Hoje, temos dentistas trabalhando em toda a atenção primária. A média de atendimentos por período é praticamente a mesma em todas as unidades: cinco pacientes marcados mais as emergências”, completa.

O número de consultas aumentou em 2016, quando comparado com o ano anterior. O atendimento nos dois primeiros meses de 2017 também cresceu em relação ao mesmo período do ano passado. Em ambos os casos, a pasta associa a evolução do serviço à inserção maior de dados no sistema. “Ampliamos a qualidade do monitoramento das consultas. Hoje, temos um sistema mais fiel e atualizado. Seja por falta de computador ou de rede, não conseguíamos registrar todos os procedimentos. Claro, também houve maior esforço das equipes”, diz.

O aumento na contratação de técnicos em higiene bucal impactou no resultado. Atualmente, são cerca de 360. No início do mês, o governo anunciou a convocação de 20 cirurgiões dentistas e 148 técnicos de higiene bucal, mas ainda não é possível saber quantos, de fato, tomarão posse.

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