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Brasília

Prostituição alavanca crimes em Taguatinga Sul

Arquivo Geral

10/01/2019 7h00

Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília.

Manuela Rolim
Especial para o Jornal de Brasília

O problema da violência relacionada à prostituição no Setor G Sul, em Taguatinga, teria um motivo maior: a suposta liderança de um casal de meia idade, responsável por comandar um esquema na região. Entre outras atividades, eles seriam conhecidos por cobrar das garotas de programa uma quantia pelo ponto. O valor seria de cerca de R$ 80 por dia. A falta do pagamento, portanto, seria uma das principais motivações para os crimes registrados no local. A Polícia Civil já tem ciência do negócio.

O suposto líder foi preso uma vez, mas já está em liberdade e, ao que tudo indica, assumiu a liderança de novo. Na ausência dele, a esposa teria chefiado a cobrança pelos pontos de programa. A rotatividade na região é grande. São cerca de cinco repúblicas com mulheres e homens de todas as idades. A maioria das garotas de programa e das travestis que chegam de outros estados é apresentada ao casal logo nos primeiros dias. “Se não tomar a bênção para ficar no local, a pessoa é expulsa. Se insistir, é punida”, conta uma testemunha.

Tentativa de execução

Na madrugada dessa quarta-feira, mais uma ocorrência foi registrada no setor. Alda Aparecida Marques, de 42 anos, foi vítima de tentativa de homicídio por volta das 2h na CSG 10, em Taguatinga Sul. Segundo a polícia, ela era garota de programa. A mulher foi baleada no rosto ao entrar no carro de um suposto cliente, mas conseguiu fugir e pedir socorro. Ela foi atendida pelos médicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no local e, em seguida, levada para o hospital, onde passou por cirurgia. Não há informações sobre o estado de saúde da vítima.

Segundo o delegado Raimundo Vanderly de Melo, chefe da 21ª DP, em Taguatinga Sul, as investigações já começaram. “O suposto cliente não estava em busca de programa. Assim que a vítima entrou no carro, ele disse ‘eu vim te executar’ e puxou a arma. Os dois, então, começaram a brigar e ele acertou o rosto dela. Testemunhas nos relataram que foram três disparos, mas somente um atingiu a mulher”, conta.

Até o momento, ninguém foi preso. Se o suspeito de ter disparado contra a garota de programa for identificado e preso, vai responder por tentativa de homicídio. A pena é de seis a 20 anos de reclusão. A polícia também trabalha na tentativa de localizar o carro do suspeito.

O delegado alerta para a violência na região. “No ano passado, registramos casos de homicídios. Além disso, com frequência temos ocorrências de furtos, assaltos e extorsões”, acrescenta.

No local do crime onde a garota de programa foi baleada, os comerciantes são obrigados a conviver com a insegurança. “Quando cheguei para trabalhar, vi que a calçada estava suja de sangue”, afirma o funcionário de um quiosque na CSG 10. Já a supervisora de um motel conta que uma colega de trabalho ouviu os disparos. “A supervisora da noite escreveu no relatório. Ela ouviu os tiros. Depois, o delegado apareceu pedindo as imagens do circuito interno, mas nossas câmeras não flagraram nada”, diz.

Medo é constante

A supervisora do motel próximo ao local do crime lamenta a violência na região e ressalta que os funcionários do estabelecimento trabalham com medo.

“Alguns saem tarde, pegam ônibus sozinhos. Eles têm razão de terem medo. Não tem muito tempo que mataram uma travesti aqui perto. Até a nossa gerente foi assaltada vindo para o trabalho. A prostituição é intensa o dia todo”, completa.

Ninguém sabe, ninguém viu

A reportagem do Jornal de Brasília conversou com três garotas de programa que atuam próximo ao local da tentativa de homicídio, mas nenhuma quis ser identificada. Duas vieram de Goiânia (GO) e uma de Salvador (BA). “Eu cheguei a Brasília ontem. Essa é a segunda vez que venho trabalhar aqui. Não fiquei sabendo e nem ouvi os tiros”, conta uma delas. Sobre o possível esquema de cobrança pelo ponto de prostituição, ela garante não conhecer os supostos líderes. “Nunca paguei nada”, acrescenta ela.

Outra garota também nega a situação. “Não sei de nada disso. Chegamos aqui, fazemos o nosso trabalho e vamos embora em poucos dias. O negócio é mudar de lugar com frequência e atender sempre pela manhã, porque, além de ser menos cansativo, também é menos perigoso”, conclui.

 

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