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Brasília

Professor comemora eleição de Bolsonaro com churrasco em escola do DF

Arquivo Geral

02/11/2018 0h10

Professor Emerson Teixeira, em churrasco dentro de sala de aula. Foto: Reprodução de vídeo

Douver Barros e João Paulo Mariano
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Um vídeo gravado por um professor, dentro de uma escola pública no Guará I, está provocando desconforto entre a comunidade escolar. Junto a alunos do ensino médio, o docente aparece comemorando a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República. As imagens foram registradas na segunda-feira (29), um dia após o segundo turno da corrida ao Palácio do Planalto.

Até um churrasco foi feito dentro de uma sala do Centro Educacional 4. Educadores se dizem chocados com o ocorrido e pedem punição ao professor. A Secretaria de Educação apura o caso. Em entrevista ao Jornal de Brasília, o servidor defendeu seu posicionamento, mas admitiu excessos no tratamento aos colegas de profissão (leia abaixo).

O docente em questão é Emerson Teixeira. Além de lecionar matemática na rede pública de ensino do Distrito Federal, ele mantém um canal no YouTube, onde publica conteúdo de cunho político e deixa claro o apoio ao capitão reformado.

O vídeo que está irritando colegas de profissão começa com o professor gravando seu trajeto a bordo de uma moto, na EPTG. Depois, ele aparece em uma banca de jornal e mostra as capas dos principais veículos impressos do DF, entre os quais, o Jornal de Brasília. Os diários registram a vitória de Jair Bolsonaro sobre Fernando Haddad (PT).

Logo depois, Emerson surge na frente de um grupo de alunos: “Bolsonaro ganhou”, vibram jovens e professor. Ele e alguns estudantes vestem camisa do presidente eleito e simulam uma arma com as mãos – o gesto virou símbolo da carreira política do militar.

Em outro trecho do vídeo, Emerson está numa sala onde é realizado um churrasco. Ali, há uma churrasqueira elétrica com linguiças, além de refrigerantes. “Pessoal, hoje a matemática não é importante. O importante hoje na sala de aula é churrascão”, diz Emerson ao filmar os alunos, que também comemoram. O Jornal de Brasília não vai divulgar o vídeo para preservar a identidade dos estudantes.

“Ultrajada”

Uma educadora, que preferiu não se identificar, diz ter ficado estarrecida com o vídeo. Ela critica a gravação com os alunos e cobra posição firme tanto da Regional de Ensino quanto da Secretaria de Educação. “Eu me senti ultrajada. Acho que é uma coisa que não se pode deixar passar”, afirmou. Segundo ela, houve uma reunião com a direção e um pedido de desculpas por parte do professor, mas nada além disso.

“O que percebo é uma falta de gestão em relação aos deveres do servidor. A gente não pode ter esse proselitismo político ou religioso no ambiente escolar”, afirma.”Esse professor merece sanção administrativa, sim.  A gente precisa moralizar, sim, as nossas instituições. Foi uma atitude que denigre a nossa imagem de professor. É preciso mostrar que a escola pública não é essa bagunça que algumas pessoas pensam”, rebateu a educadora.

“Ele já fez outros vídeos aleatórios com os alunos. São adolescentes, não podem ser expostos dessa forma. Até em evento da própria Secretaria de Educação, a gente precisa de autorização dos pais para registro de imagens”, emenda a mulher.

Versão oficial

Em nota, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) informou que está reunindo as informações sobre o caso para encaminhar à Corregedoria da pasta. Segundo disse, o objetivo é a “instauração de processo, apuração e indicação das medidas cabíveis ao fato.”. A direção do Centro Educacional 4 foi procurada, mas as ligações não foram atendidas.

Perguntas para Emerson:

Com 19 anos de serviço à Secretaria de Educação do DF, Emerson Teixeira afirmou ao Jornal de Brasília que é dever do professor não fazer campanha, mas alertar os alunos sobre questões importantes e citar fatos do cotidiano de alguma forma. Ele explica que resolveu gravar o vídeo devido à alegria de ter visto Bolsonaro ser eleito. E, apesar de ter defendido publicamente um político em sala de aula, informou que seu próximo vídeo será sobre a proposição da “escola sem partido”.

Quando o vídeo foi gravado e o por quê?

– Gravei o vídeo na segunda-feira. Resolvi gravar do caminho de Taguatinga para o Guará. De lá, fui falando da alegria e ter visto Bolsonaro ser eleito. Só que eu extrapolei um pouco com essa fala. Falei que os professores são ‘esquerdopatas’. Eu não agi certo por usar um termo inadequado para me dirigir aos meus colegas. Peço desculpas a eles por isso.

Houve uma repercussão negativa entre os docentes da escola, pois a festa não teria sido autorizada. O que o senhor tem a responder sobre isso?

– Quando eu cheguei à escola, durante o intervalo, vi que estava uma euforia danada por causa da vitória do Bolsonaro e resolvi fazer o vídeo, já que tinha levado a câmera. Fizemos o vídeo e depois uma aluna me chamou. Ela falou que estava tendo um churrasco numa sala de aula. Não era a minha. Cheguei lá, fiquei surpreso e resolvi ir à lanchonete buscar uma coca-cola. Nesse momento, conversei com a diretora, que não autorizou o churrasco. Ela nos tratou muito bem, explicou que não poderia fazer aquilo e os alunos encerraram.

Houve prejuízo à aula dos alunos que participaram da atividade?

– Paramos tudo na hora, mas o estrago já havia sido feito. Os professores ficaram indignados – os que eram contrários ao Bolsonaro. O clima ficou muito ruim esses dias. Mas de forma alguma teve prejuízo pedagógico.

Os pais dos alunos que aparecem no vídeo deram autorização para as imagens dos menores?

– Em relação aos menores, eu até fiz imagens que os expunham mais, mas resolvi não publicar, pois poderia ficar mais ofensivo e eu poderia responder alguma espécie de processo”

Por que o senhor se apresenta com a alcunha de “professor opressor”? Desde quando ela é utilizada?

– De uns três anos para cá, quem se declarou eleitor do Bolsonaro acabou apelidado de opressor, ciclista, bicicletista, eletricista (risos). Para impactar as ideias do meu canal, eu resolvi colocar Emerson, ‘o professor opressor’. Meu canal tem dez anos, mas, de dois meses para cá, depois do ataque ao Bolsonaro, resolvi postar mais coisas a favor dele, ajudando na campanha. Tive vídeos com muitas visualizações. Alguns com 130 mil, uns com 35 mil e 25 mil. Eu me empenhei bastante para que ele ganhasse as eleições.

Qual o posicionamento do senhor em relação a manifestações políticas, seja qual for a ideia que se apoia, em um ambiente escolar?

– De uns anos para cá, tenho me posicionado mais à direita. Isso depois de conhecer boa parte do mundo – 32 países ao todo. Mudei radicalmente minha forma de pensar. Eu era um pouco socialista. Tinha simpatia com o Lula e até foto com ele. A decepção com o governo petista foi grande e isso aí passou a virar ódio. Desde então, sempre que posso tento adequar o que tem acontecido na sociedade às minhas aulas de matemática.

Há quanto tempo o senhor leciona nesta escola e na Secretaria de Educação? Qual a importância que o senhor dá para a educação na formação educacional dos jovens?

– São três anos nessa escola do Guará. Acho que é dever do professor, de certa forma, não fazer campanha, mas alertar os alunos. Citar coisas do cotidiano. Tentar relacionar com as disciplinas e o conteúdo dado.

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