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Brasília

Produção do DF cai há sete trimestres e pode piorar

Arquivo Geral

22/12/2016 7h00

Foto: Myke Sena

Francisco Dutra
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A crise econômica brasiliense tornou-se mais amarga em 2016, na comparação com 2015. E a tendência para 2017 não é acalentadora. Muito pelo contrário. O disgnóstico preocupante foi traçado pelo Índice de Desempenho Econômico do Distrito Federal (Idecon/DF), divulgado pela Companhia de Planejamento do DF. O indicador aponta justamente as tendências da economia. No 3º trimestre deste ano, foi registrada uma retração total de 1,6% na comparação com o do mesmo período do ano passado. Em 2015, o mesmo índice encolheu menos, só 1%. Pelo 7º trimestres consecutivo, o Idecon apontou queda da economia local.

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  • O Idecon retrada a aceleração da economia, tal qual o velocímetro mede a velocidade de um carro. O PIB representa o que a economia atingiu de fato. Seguindo com a comparação automobilística, equivale aos quilômetros percorridos pelo veículo. São indicadores diferentes, mas possuem bases em comum, o que justifica uma comparação.
    No setor da indústria, o último Idecon registrou retração de 2,6%. Ficando próximo do índice de 2015, de 2,7%. Considerando que a construção civil está apresentando tímidos sinais de melhora. A retração da agropecuária teria aumentado de 3,2% de 2015, para 3,7% neste ano. O setor responde por 0,4% da atividade econômica local.

A crise se materializa em números inquietantes. Aproximadamente, 300 mil pessoas estão desempregadas. Conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), entre janeiro e setembro desde ano, o total de demissões e desligamentos superou as contratações em 18.943 vagas. Destrinchando o Idecon por áreas, o quadro mais delicado é o do segmento dos serviços. O setor responde por mais de 90% da economia local e registrou uma queda de 1,5%. Na ponderação entre 2015 e 2014, a desaceleração foi de 0,8%.

Dentro dos serviços, o golpe tem sido mais severo no comércio. A retração foi de 7,1%, acompanhada pela perda de 7.670 postos de trabalho. Nos últimos 12 meses, o segmento dos móveis sofreu a maior queda no volume de vendas, sofrendo um encolhimento de 26,2%. “Os dados apontam uma continuação da nossa situação de crise. O ano 2016, como todos nós sabemos, foi muito duro. As expectativas, dada a tendência de uma certa piora do índice de desemprego da economia nesses últimos dois trimestres, não são otimistas para 2017”, alertou o presidente da Codeplan, Lucio Rennó.

A crise econômica local nasceu do caos nacional deflagrado pelo descontrole das finanças públicas da União. Um labirinto financeiro erguido com tropeços na política de juros, crédito, programas sociais, impostos e burocracia. “O mercado esperava um final de ano melhor em decorrência da troca do Governo Federal. Mas a confiança não se transformou em números por que as reformas necessárias na economia não aconteceram”, comentou o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), Adelmir Santana.

Para superar a crise, o comércio local busca reduzir custos e quando não pode fugir, corta na folha. No entanto, Santana é categórico: o Governo do Distrito Federal também precisa fazer o dever de casa. Com proporções monstruosas, o estado não cabe no orçamento. Cortes precisam ser feitos. Segundo Santana, o GDF também continua perdendo forças com a gestão de atividades que deveriam estar com o setor produtivo, a exemplos do Estádio Mané Garrincha, Zoológico e restaurantes comunitários.

Lojas sofrem perdas de até 40% na venda

A empresária Valdenice Pereira luta contra a crise todos os dias. Dona de uma loja de móveis na W3 Sul, a empreendedora diminuiu os preços dos produtos e começou a procurar novos clientes. Apesar dos esforços, os danos financeiros continuam a torpedear o caixa do negócio. Na comparação entre julho e dezembro de 2016, com o mesmo período do ano passado, as vendas despencaram 40%.

“Tem sido muito difícil. Ainda mais para nós que estamos na W3. Na realidade, estamos abandonados”, desabafou a comerciante. Além de sofrer com a crise, a avenida tornou-se reflexo do descaso e ineficiência dos últimos governos do DF. Apesar das promessas de revitalização dos governantes, a região sofre com falta de manutenção e incentivos. A loja de Valdenice emprega quatro pessoas. Por enquanto, ela não pensa em demissões. Mas será difícil manter o quadro se a crise continuar.

Surpreendentemente, o drama do DF poderia ser pior. Segundo o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Júlio Miragaya, a economia do DF costuma seguir o desempenho da economia brasileira. No entanto, a retração local foi menos intensa que a queda nacional. Enquanto o Idecon/DF caiu 1,6%, o Produto Interno Bruto Nacional (PIB) despencou 2,9%.

Na opinião de Miragaya, o crescimento vegetativo das folhas de pagamentos dos servidores pode ser uma das explicações para a situação do DF. Mesmo sem conseguir reajustes no DF e na União, as categorias incorporam naturalmente benefícios e funções. Este dinheiro extra foi injetado na economia.

Para Miragaya, a crise do DF também nasce da falta de programa sério de desenvolvimento econômico. “O governo está travado pelo imediatismo”, criticou. Enquanto outros estados, como Goiás, investem em projetos de infraestrutura e incentivos fiscais, o GDF fica só nas promessas. O economista lembrou que a superação de um ciclo negativo depende um “pontapé” do estado, pois dificilmente a setor privado faz este investimento.

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