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Brasília

Postos comunitários da PM agora abrigam desde aulas de música a biblioteca

Arquivo Geral

22/02/2017 7h00

Atualizada 21/02/2017 22h09

Abandonadas ao longo dos últimos anos, unidades são revitalizadas. Só que população reclama da volta da violência em suas áreas. Foto: Kléber Lima

João Paulo Mariano
Especial para o Jornal de Brasília

No espaço de 24 m² de chão metálico que antes servia de alojamento para homens uniformizados da Polícia Militar agora é utilizado para aprendizado na Escola de Música de Brasília (EMB). A mudança de função dos postos comunitários começou em 2015, com instalação no ano passado. Se para os alunos foi algo bom, para os moradores de regiões que perderam proximidade com a PM, o posto faz falta e a criminalidade aumenta. Trinta e quatro unidades foram queimadas, danificadas ou depredadas. A última na noite de segunda-feira.

A instalação dos postos comunitários tinha a função de deixar a polícia mais próxima da população. Servia como um braço dos batalhões e traria mais sensação de segurança à vizinhança. O primeiro foi instalado em 2008 e, ao longo dos anos, foram 131. Porém, com o tempo os moradores de Brasília viram os postos ficando vazios e danificados. O jeito foi a desativação de alguns deles para intensificar o policiamento ostensivo.

De acordo com a PM, somente serão mantidas algumas unidades, consideradas estratégicas para a corporação. Todas as que apresentem bom desempenho e atendam de forma satisfatória serão mantidas. Além dos postos fixos, a PM informa que tem trabalhado com 40 postos móveis (vans), aumentando o alcance da ação com a mobilidade dos veículos.

Dados da corporação mostram que, com a progressiva desativação, o vandalismo tomou conta. Na noite de segunda-feira passada, houve a queima total do posto que ficava na Rua 10 do Lago Oeste. O local estava desocupado e não houve vítimas. Haverá uma perícia para saber o que causou o fogo. Dos 34 postos queimados, danificados ou vandalizados, foram 14 em 2014, dez em 2015, oito em 2016 e dois neste ano. Cada unidade custou R$ 110 mil aos cofres públicos.

Órgãos públicos

O meio encontrado pelo governo para não deixar as unidades vazias foi a transferência de utilização. Elas deixaram de fazer parte somente dos trabalhos da PM e foram entregues para algumas secretarias. Vários desses postos foram transferidos para o Detran, Secretaria de Segurança e para as administrações regionais, como a do Gama, São Sebastião, Riacho fundo I e Riacho fundo II – que foi transformado em biblioteca comunitária, a ser inaugurada no início de março.

Cerca de 20 unidades foram direcionadas para a Escola de Música de Brasília. O processo de transferência delas começou em 2015 e as primeiras chegaram à instituição no fim do ano passado. Quinze já estão reformadas, instaladas e são utilizadas para as aulas tanto teóricas quanto práticas.

A capacidade da EMB aumentou em 24% após a obtenção dos postos. As 83 salas não comportavam os cerca de 3 mil alunos, que a partir de sete anos recebem educação musical. Antes, quando não havia as unidades novas, as aulas eram dadas embaixo de árvores para evitar o sol.

Professora teve a ideia e a executou

Professora de canto erudito da EBM, Denise Tavares foi a idealizadora do projeto. A ideia veio quando ela soube que a PM cogitava transferir a utilização para outras pastas. Docente há mais de 20 anos, ela via a necessidade diária de seus estudantes. Correu atrás das informações, conversou com engenheiro e com a direção da escola e, ao perceber que daria certo, foi atrás de doações da comunidade e de parlamentares para a reforma. Depois de alguns meses, 15 unidades já estão pintadas e em uso, três delas até com energia elétrica.

“A música, assim como o esporte, é agregadora. Há muitos valores envolvidos. Ensina a ter metas, moral e disciplina. A música traz a pessoa para a vida”, Denise Tavares, professora de canto

Se para a professora o projeto é bom, para os alunos foi ainda melhor. Thércio Menezes é saxofonista e estuda há um ano na EMB. Ele afirma que as unidades aumentam bastante o ambiente e deixam melhor o espaço para estudo. O jovem começou a tocar aos 12 anos e não parou mais. Atualmente, ele faz som onde antes era um espaço para o serviço de segurança.
“Agora, este é um posto musical e não mais policial”, comenta o saxofonista José Fernando da Silva.

Sem segurança

Mas se quem recebeu os postos fica feliz, quem os perdeu reclama. O médico Maurício Brás lembra do dia em que precisou utilizar o serviço do posto comunitário que funcionava na 308 Sul. Um ano atrás, o morador da 310 tinha ido ao mercado na 308 logo cedo, quando uma mulher pediu carona. Ele percebeu que a mulher insistia muito e viu que havia dois homens espreitando a senhora. Ele deu uma desculpa qualquer, foi ao posto policial e conversou com servidores, que foram conferir a situação. Foi descoberto que eles já tinham cometido outros delitos.

Depois disso, Maurício passou a valorizar ainda mais a proximidade com a corporação. Para ele, mesmo que a transferência das unidades seja para fins interessantes, a população local fica “totalmente insegura”. A bióloga Mônica Nitta, moradora da 307, afirma que até vê viaturas rondando, mas também sente falta da unidade fixa.

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