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Brasília

Polícia apura ação de militares em desvio de munições para facção do Rio

Arquivo Geral

05/12/2018 11h56

Divulgação/PCDF

Jéssica Antunes
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A Polícia Civil do Distrito Federal apura atuação de militares no desvio de munições de fuzil de uso restrito para abastecer uma facção criminosa do Rio de Janeiro. A Operação Fogo Amigo cumpre mandados de prisão contra sete suspeitos de compor uma organização criminosa que levava carregamentos usados por corporações da capital até integrantes do Comando Vermelho. Ainda não se sabe como a carga era retirada, mas um bombeiro militar foi preso suspeito de centralizar as ações.

As investigações começaram a partir da prisão dos dois homens no Rio de Janeiro, pela Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) da Polícia Civil fluminense. Eduardo Vinícius Brandão foi flagrado em fevereiro tentando retirar 1.529 munições de fuzil de uma transportadora de cargas em solo carioca. Em junho, William Sebastião Pessoa teve o mesmo destino ao ser flagrado na BR-040 com 1.390 projéteis escondidos em um carro de passeio.

Divulgação/PRF

A origem das munições acendeu o sinal de alerta. Elas tinham sido compradas pela Polícia Militar do DF e pelo Comando do Exército. A informação foi repassada aos investigadores a empresa fabricante, que marca todos os projéteis vendidos a órgãos de segurança pública conforme determinação do Estatuto do Desarmamento. A partir isso, a polícia do Rio encaminhou detalhes à corporação no DF, que aprofundou as apurações, chegando aos demais suspeitos.

Sete integrantes da organização criminosa foram identificados. Além do Eduardo e William, que continuam presos no Rio de Janeiro, outros cinco com atuação específica no DF. Mandados foram cumpridos em Taguatinga, Arniqueiras, em Águas Claras, e Candangolândia. A maioria tinha passagens anteriores por crimes de receptação, mas as identidades são mantidas em sigilo para não prejudicar as investigações, segundo a PCDF.

O esquema, que ocorria pelo menos desde 2017, contava com a participação de um bombeiro militar que seria o centralizador do grupo criminoso, responsável por viabilizar os desvios com ajuda de outros envolvidos. Funcionário de carreira na capital federal, ele está cedido a outro órgão, mas a identidade e a lotação não foram informadas pela polícia.

Ele teria mantido contatos telefônicos contínuos com outro investigado, apontado como intermediador das vendas. Na casa dele, foram localizadas munições calibre .556, 9 mm e diversos caixotes usados para levar munições para estandes de tiro. “Nos caixotes tem os números dos lotes, que usaremos para rastrear e verificar se tem compatibilidade com as apreensões do Rio de Janeiro”, diz Thiago Boeing, da Coordenação Especial de Combate à Corrupção (Cecor) da PCDF.

Delegado Thiago Boeing. Foto: Matheus Albanez/Cedoc/Jornal de Brasília

“Sabemos que receptavam as munições de alguma forma, mas não sabemos como eram desviadas. Se for identificada a participação de algum militar no exercício da função, essa informação será compartilhada com o Ministério Público Militar. Alguém facilitou ou furtou, mas não temos notícia de furto”, explica o delegado.

Após os desvios, a ação seguia com atravessadores, que planejavam e transportavam as munições até os morros do Rio, especialmente para integrantes do Comando Vermelho. Segundo Thiago Boeing, as prisões têm duração de 30 dias, podendo ser renovadas por igual período, por se tratar de crime hediondo.

Versão oficial
Em nota, a Polícia Militar do Distrito Federal informou que possui “extremo controle” sobre o arsenal de armas e munições da corporação. “Não há histórico de desaparecimento de munições das instalações da PMDF, como não parece plausível ter acontecido desta vez. Se realmente houve desvio, este ocorreu antes de as munições haverem sido recebidas”, diz o texto.

A instituição nega ter sido notificada oficialmente sobre o caso e destaca que não há policiais militares presos por envolvimento. “É preciso esperar que o Comando tome ciência dos fatos para que haja um posicionamento por parte da Corporação”, finaliza. Procurado, o Exército não respondeu à reportagem até a última atualização da matéria.

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