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Brasília

Pipoca vira prato principal nas escolas públicas do DF

Arquivo Geral

31/05/2017 7h00

Suco e fruta complementam o “prato principal”

João Paulo Mariano
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Não é só no escurinho do cinema que a pipoca é parte do cardápio. Nas escolas públicas do Distrito Federal, o milho é integrante oficial. Segundo a Secretaria de Educação, a intenção é melhorar a variedade e qualidade nutricional. Para os pais, no entanto, o lanche composto por pipoca e suco não seria suficiente para satisfazer os alunos.

Uma preocupação da comunidade é o fato de que muitos alunos só têm acesso às refeições no colégio, devido às dificuldades financeiras em casa. Por isso, a pipoca não seria o suficiente para sanar a necessidade alimentar.

O diretor do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), Samuel Fernandes, relata que recebeu reclamações sobre a “novidade” por parte de vários educadores e pais. Ele defende que o lanche deveria ser de qualidade todos os dias e menciona que, até mesmo quando é oferecido suco com biscoito, isso não seria o suficiente. Fernandes lembra que, desde o primeiro dia que esse produto foi servido em algumas escolas, na semana passada, ele foi perguntado sobre o porquê da situação.

Escolas no Guará, Ceilândia, Taguatinga e Samambaia, entre outras, já serviram o produto. Foto: Kleber Lima

Escolas no Guará, Ceilândia, Taguatinga e Samambaia, entre outras, já serviram o produto. Foto: Kleber Lima

Escolas no Guará, Ceilândia, Taguatinga e Samambaia, entre outras, já serviram o produto. Ontem, pela primeira vez, a Escola Classe 419 em Samambaia ofereceu às suas 1.105 crianças dos períodos matutino e vespertino um “combo”: 15 g de pipoca, suco de tangerina e uma maçã para complementar. Os estudantes não poderiam repetir. O colégio tem alunos do primeiro ao quinto ano, na faixa etária de quatro a dez anos.

Uma professora da EC 419, que preferiu não se identificar, afirma que o lanche servido ontem não incomodou os alunos nesse primeiro momento, porque “são crianças e elas se divertem com o que é diferente”. Mas, para a docente, a quantidade servida foi completamente errada. Ela diz que os alunos pediam mais, mas não podiam ser atendidos. “É um absurdo. Isso não deveria acontecer de novo”, ressalta a professora, que tem mais de 20 anos na rede pública de ensino.

Para os pais, a situação toda foi uma grande surpresa. O motorista José do vale, 40, define o caso como péssimo e inadequado. “A criança aceita porque tudo para ela festa, mas não é bom”, diz o motorista. O filho de José, Vinícius do Vale, 4, não reclamou em nada da pipoca, mas queria em maior quantidade.

A atendente Mayara Lima, 25, ficou sabendo pela manhã do lanche na Escola Classe 419 e acredita que pipoca nunca deveria ser considerada uma refeição. A filha dela, Beatriz Lima, 7, do primeiro ano, diz que achou pouca comida, mas gostou da maçã.

Até óleo e sal estão escassos

A supervisora administrativa da Escola Classe 419, Nílvia Aparecida Moura, explica que a instituição tentou preparar o lanche da melhor forma possível. As 15 g servidas por aluno fizeram parte da recomendação da Secretaria de Educação. O colégio utilizou os 40 sacos de 500 g de pipoca recebidos e acrescentou a maçã, assim como pedido pela secretaria.

A supervisora conta ainda que a quantidade de óleo que havia na reserva era pequena, e precisará comprar mais para aguentar até o fim do mês. O sal, por sua vez, foi comprado com dinheiro do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (Pdaf) – uma reserva financeira gerida por cada escola –, pois não havia o suficiente na despensa.

Verba federal e local

A previsão orçamentária para 2017 com a merenda escolar é de R$ 61 milhões. Parte do montante vem do Governo Federal, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) – R$ 35 milhões, e o restante do executivo local – R$ 25 milhões. Os gastos mensais de todas os colégios do Distrito Federal devem ser pensados levando em consideração esses números.

Versão oficial

A Secretaria de Estado de Educação do DF informa que a pipoca foi inserida nos cardápios da alimentação escolar deste ano a fim de melhorar a variedade e a qualidade nutricional da alimentação ofertada aos estudantes beneficiados pelo Programa de Alimentação Escolar do Distrito Federal – PAE/DF.

O cereal é um alimento energético de alto valor nutricional, fonte de fibras, vitaminas do complexo B, vitamina E e antioxidantes. A pasta destaca que, segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar, cerca de 80% das crianças em idade escolar possuem consumo inadequado de fibras. Por isso, é importante servir alimentos com esse reforço, como a pipoca. “Ressalte-se que as coordenações regionais de ensino possuem nutricionistas que, de acordo com a necessidade e a aceitação dos cardápios, podem fazer alterações na alimentação escolar oferecida”, conclui a pasta.

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