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Brasília

Piloto boliviano que se envolveu em acidente aéreo segue em estado grave

Arquivo Geral

14/08/2017 7h00

Atualizada 13/08/2017 22h33

Foto: Myke Sena

Jéssica Antunes
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O ultraleve que caiu no Aeroclube de Luziânia (GO), na Região Metropolitana do DF, era pilotado por um ex-senador boliviano que pediu asilo no Brasil. Por coincidência, Roger Pinto Molina, 57 anos, também é sogro do comandante da aeronave que levava a delegação da Chapecoense e caiu na Colômbia, matando 71 pessoas em novembro passado. Enquanto a Força Aérea Brasileira investiga as causas, o homem segue em estado grave no Hospital de Base. Amigos e família acreditam em fatalidade, já que a vítima tinha habilitação de piloto.

De acordo com o boletim médico divulgado ontem pela Secretaria de Saúde, Molina, que está internado na ala vermelha, segue instável, com traumatismo cranioencefálico e respira a partir de ventilação mecânica. No sábado, quando chegou à unidade, ele passou por uma traqueostomia de urgência (quando um orifício é aberto na traqueia para permitir a passagem de ar) e drenagem no tórax, mas não tem indicação de cirurgia.

O paciente não tem família em Brasília, onde vive desde 2013. De Pernambuco, a sobrinha Sarita Priest, de 33 anos, chegou na manhã de ontem. Ela diz que se sentiu aliviada e confiante, mesmo com o rosto dele inchado e cicatrizes abaixo dos olhos. “Dentro do quadro, que é grave, ele teve pequenas melhorias. A família é muito unida, estamos todos em oração. Acreditamos que ele esteja vivo por milagre”, afirma. Outros parentes devem desembarcar vindos do norte do país e da Bolívia.

A sobrinha Sarita Priest, 33 anos, acompanha o caso. Foto: Myke Sena

A sobrinha Sarita Priest, 33 anos, acompanha o caso. Foto: Myke Sena

Roger Pinto Molina tem brevê de piloto de helicóptero na Agência Nacional de Aviação Civil. Instrutor de voo e amigo, Marcelo De Marco de Marchi, 44, revela que, como de costume, eles haviam combinado de voar juntos no fim de semana. Um imprevisto, porém, teria impedido o encontro.

“Ninguém sabe ainda o que aconteceu. O que sabemos é que Roger tem experiência, a máquina estava revisada e tinha combustível”, afirma Marcelo, que considera Molina como fissurado em aviação. “Não foi falta de experiência. Ele dá aula, ama o que faz. Já era piloto na Bolívia”, reafirma Noemia Bispo, 33, estudante e amiga.

O acidente

O avião com Molina caiu minutos após decolar. Apesar do impacto, não houve explosão. Segundo o Corpo de Bombeiros de Goiás, Molina foi resgatado com lesões pelo corpo, mas estava consciente. Ele foi transportado de helicóptero.

O Jornal de Brasília flagrou investigadores do Sexto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa 6) que estiveram na manhã de ontem no local de acidente. Segundo a Força Aérea, a ação inicial dos trabalhos consiste em registros fotográficos, coleta de documentos e entrevistas. Segundo o órgão, as investigações são realizadas para prevenir que casos semelhantes aconteçam. Agentes também estiveram no Hospital de Base.

Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Saiba Mais

  • Roger Pinto Molina é sogro de Miguel Quiroga, piloto e dono do avião que caiu com a delegação da Chapecoense em novembro do ano passado, na região de Medellín, na Colômbia, quando o time partia para a final da Copa Sulamericana.
  • Quiroga era casado com Daniela Quiroga, filha de Molina, e tinha três filhos. Na época do acidente, o ex-senador chegou a pedir perdão às famílias das vítimas da tragédia.

Refúgio Brasileiro

Molina foi senador na Bolívia pelo Plano de Progresso para a Bolívia e fazia oposição ao governo de Evo Morales. Em 2012, foi acusado por corrupção e, alegando perseguição política, conseguiu asilo na Embaixada brasileira na Bolívia. Ali, ficou por mais de um ano.

O parlamentar entrou no Brasil em 2013, quando atravessou de carro a fronteira sul-mato grossense com apoio de fuzileiros navais em uma operação sem autorização do Itamaraty. A vinda dele foi chamada de equivocada pelo governo boliviano e culminou na demissão do ex-ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota.

Em agosto de 2015, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) aprovou a concessão de refúgio a Molina, quando ele conseguiu o registro nacional de estrangeiro e pode ficar legalmente no País. Ele foi ajudado por Eduardo Saboia, diplomata que esteve no hospital na tarde de ontem, mas não quis comentar sobre a segurança do ex-senador: “O desafio é estabilizar o quadro, que ainda é grave”, resumiu. Policiais federais também estiveram na unidade de saúde.

Na Bolívia, Molina foi condenado a um ano de prisão por “abandono do dever” e por “dano econômico ao Estado”. Segundo a denúncia, ele foi responsável por prejuízo de mais de 1,6 milhão de dólares aos cofres públicos em 2000, concedendo recursos de maneira irregular à Universidade Amazônica de Pando. Ele responde a cerca de 20 processos por desacato, venda de bens do Estado e corrupção.

Histórico em Luziânia

Em janeiro de 2015, um avião monomotor caiu sobre uma casa no mesmo município goiano. A aeronave havia decolado com quatro pessoas para um voo panorâmico e caiu minutos depois. O corretor de imóveis João Henrique Baeta, 40, que pilotava o avião, morreu na queda. A namorada dele, a nutricionista Maysa Paula dos Santos, 33, também não resistiu. As causas do acidente não foram esclarecidas.

Com a casa novamente erguida, a aposentada Cornelita Meireles, 72, lembra que tinha ido conversar com uma vizinha e escapou por pouco do acidente. A família fez acordo e não recebeu indenização. Em vez disso, o imóvel foi reconstruído e, da data, restam as memórias. “O aeroclube deveria ser mais longe das casas. Graças a Deus não caiu sobre a casa de ninguém”, diz. Em 2013, outro avião caiu, deixando dois feridos.

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