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Brasília

Pesquisa da Codeplan abre debate sobre visibilidade da população LGBT

Arquivo Geral

18/10/2017 7h00

“Mesmo em registros a gente sabe que em muitas ocorrências não se anota que a vítima é LGBT, não se pergunta identidade de gênero e orientação sexual”, Ana Maria Nogales, diretora da Codeplan. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Raphaella Sconetto
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“A população LGBT ainda é reconhecida apenas nas páginas policiais”. Essas são as palavras da diretora de Estudos e Políticas Sociais da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), Ana Maria Nogales. Ontem a companhia lançou um compilado inédito de informações sobre a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Os dados existentes acerca desse público, em sua maioria, são referentes à violência.

No Distrito Federal, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), de 2014, 3.659 pessoas estão em um relacionamento homoafetivo. Mas, para Nogales, esses dados são frágeis. “Quando a pergunta é feita na pesquisa por amostragem, é para apenas uma pessoa do domicílio, só que as questões de identidade e orientação sexual são muito íntimas. Como responder algo tão íntimo por outra pessoa?”, questiona.

Nogales alega que a pesquisa poderá abrir portas para novos estudos. “Levantamos as informações mais recentes e disponíveis. A população LGBT é encoberta, invisível, então ter um perfil é muito difícil. Trouxemos para mostrar a necessidade de ter pesquisas maiores, mais abrangentes”, acredita. As fontes analisadas foram o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Polícia Civil e Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

A vendedora transsexual Nicole Abreu Silva, 23 anos, trabalhou por cinco meses em uma franquia de alimentação saudável. No local, ela relata que sofria preconceito diariamente. “Um rapaz me olhava com outros olhos, fazia piada, era discriminação desde o momento que entrei. Mas, como precisava do emprego, fui relevando”, conta.

Em dezembro passado, ela estava atendendo um cliente quando o outro funcionário entrou na frente. “Ele me empurrou e eu quase caí. Como estava com uma cesta na mão, a reação que tive foi empurrá- la contra ele. Nisso, ele começou a me agredir, me chutar, na frente de todos”, relembra.

Ela não chegou a fazer boletim de ocorrência. “No outro dia eu iria vê-lo novamente na empresa. Então fiquei com medo de ele fazer mais alguma coisa”, relata. A empresa logo demitiu Nicole e o rapaz continua a trabalhar ali.

Como Nicole, muitas vítimas se sentem inseguras ao denunciar os delitos. Dados da Polícia Civil apontam que de 2015 a 2016 foram contabilizadas 408 ocorrências. Além disso, de 2011 a 2016, o DF registrou 436 denúncias de homossexuais recebidas pelo Disque 100, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos. Em sua maioria, as vítimas foram homens. A violência psicológica e a discriminação lideram o ranking. “Certamente o número de vítimas é muito maior”, alega Ana Maria Nogales, representante da Codeplan.

Nicole, por sua vez, acredita que falta uma lei para proteger a comunidade LGBT e que esse compilado de dados da companhia vai estimular novas pesquisas. “Todo estudo ou alguma forma de informação é válido. Não temos informações da comunidade trans”, alega.

A representante do movimento TransBrasil, Paula Benetti, esteve no lançamento da pesquisa e afirmou que o movimento LGBT tem muito a comemorar. “Como mulher trans, posso dizer que é um momento histórico. Com esses dados, podemos conseguir mais políticas públicas”, conclui.

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