Aos oito anos de idade, ele foi vendedor de bananas. Um ano depois, vendia picolé nas ruas. Também foi flanelinha e trabalhou como empacotador de supermercado. Mas, somente aos 13 anos, conseguiu realizar seu grande sonho de infância. “Juntei o dinheiro que ganhei durante o dia todo para comprar uma lata de leite condensado. Nunca tinha provado. Levei pra casa e só fui abrir na hora de dormir, já na cama. Aquela noite, acordei pelo menos umas cinco vezes para repetir.”
A declaração é de quem teve inúmeros motivos para desistir de seus sonhos depois de uma infância difícil, marcada pela perda do pai aos dois anos. Mas o apoio da mãe, a fé e a vontade de estudar fizeram com que um jovem de classe baixa do Gama ocupasse uma importante cadeira no Poder Judiciário. Hoje com 44 anos, o juiz de direito da Vara de Falências, Recuperações Judiciais, Insolvência Civil e Litígios Empresariais do DF, Edilson Enedino das Chagas, tem um motivo óbvio para despachar com rapidez os processos que chegam à sua mesa.
“Esperei por muita coisa quando era criança. Sempre quis as coisas e não podia ter. Foi de esperar que vi minha infância passar rápido, de forma sofrida. Não quero que os outros esperem. Queria uma mochila para ir à escola e não tinha condições, lembro que levava meu material escolar em um saquinho de açúcar”, contou o magistrado.
Por conta disso, ele e a equipe – 12 servidores e dois estagiários – mantêm uma rotina diferente de trabalho. Todo processo que chega é despachado, em média, em até 24 horas. “Não deixamos o processo engordar. Quando uma parte interessada vem ao balcão para saber como está o andamento, ela já sai com a sentença em mãos. A satisfação do usuário fala por si só. Isso reflete em economia de tempo e decisões rápidas. Não levo serviço para casa há pelo menos cinco anos”, explica o juiz.
Estudante tornou-se professor
Por dia, ao menos 40 processos de falência de empresas e pessoas físicas, tentativa de recuperações judiciais e dissoluções de sociedade chegam para análise do magistrado. “Cerca de 75% deles são resolvidos em audiência. Sou professor de direito empresarial, e isso facilita muito intermediar as negociações com as partes, que já saem daqui com tudo sanado”, diz Edilson.
Mesmo com uma adolescência difícil, os livros sempre foram parceiros inseparáveis. “Uma professora da 6ª série me deu um livro de gramática, porque sentia necessidade de melhorar minha escrita. Ela disse que via potencial em mim, que eu era esforçado. Passei no concurso da PM, virei soldado e num dia em que estava num protesto na Esplanada, essa professora me viu e veio correndo me abraçar. Foi um momento marcante”.