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Brasília

Perseverança e superação na história do rapaz que foi até flanelinha

Arquivo Geral

03/06/2014 8h00

Aos oito anos de idade, ele foi vendedor de bananas. Um ano depois, vendia picolé nas ruas. Também foi flanelinha e trabalhou como empacotador de supermercado. Mas, somente aos 13 anos, conseguiu realizar seu grande sonho de infância. “Juntei o dinheiro que ganhei durante o dia todo para comprar uma lata de leite condensado. Nunca tinha provado. Levei pra casa e só fui abrir na hora de dormir, já na cama. Aquela noite, acordei pelo menos umas cinco vezes para repetir.”

A declaração é de quem teve inúmeros motivos para desistir de seus sonhos depois de uma  infância difícil, marcada pela perda do pai aos dois anos. Mas  o apoio da mãe, a fé e a vontade de estudar  fizeram com que um jovem de classe baixa do Gama ocupasse uma importante cadeira no Poder Judiciário. Hoje com 44 anos, o juiz de direito da Vara de Falências, Recuperações Judiciais, Insolvência Civil e Litígios Empresariais do DF, Edilson Enedino das Chagas, tem um motivo óbvio para despachar com rapidez os processos que chegam à sua mesa. 

“Esperei por muita coisa quando era criança. Sempre quis as coisas e não podia ter. Foi de esperar que vi minha infância passar rápido, de forma sofrida. Não quero que os outros esperem. Queria uma mochila para ir à escola e não tinha condições, lembro que levava meu material escolar em um saquinho de açúcar”, contou o magistrado.

Por conta disso, ele e a equipe –  12 servidores e dois estagiários – mantêm uma rotina diferente de trabalho. Todo processo que chega   é despachado, em média, em até 24 horas. “Não deixamos o processo engordar. Quando uma parte interessada vem ao balcão para saber como está o andamento, ela já sai com a sentença em mãos. A satisfação do usuário fala por si só. Isso reflete em economia de tempo e decisões rápidas. Não levo serviço para casa há pelo menos cinco anos”, explica o juiz.

Estudante tornou-se professor

 Por dia, ao menos 40  processos de falência de empresas e pessoas físicas, tentativa de recuperações judiciais e dissoluções de sociedade chegam para análise do magistrado. “Cerca de 75% deles são resolvidos em audiência. Sou professor de direito empresarial, e isso facilita muito intermediar as negociações com as partes, que já saem daqui com tudo sanado”, diz Edilson.

Mesmo com uma adolescência difícil, os livros sempre foram parceiros inseparáveis. “Uma professora da 6ª série me deu um livro de gramática, porque sentia necessidade de melhorar minha escrita. Ela disse que via potencial em mim, que eu era esforçado. Passei no concurso da PM, virei soldado e num dia em que estava num protesto na Esplanada, essa professora me viu e veio correndo me abraçar. Foi um momento marcante”.

Faxineiro no TST
 
Quando ainda era policial, a   rotina de Chagas não permitia estudar o suficiente para passar em um concurso melhor. Foi quando decidiu prestar uma prova para faxineiro do Tribunal Superior do Trabalho. “O salário era quase o mesmo, mas   tinha como estudar à noite. O dinheiro  ia praticamente todo para pagar a faculdade de direito.”
Em 1994, aos 24 anos, ele se formou. Dentro do TST, conseguiu uma promoção a segurança. Naquele mesmo ano, prestou três concursos: para oficial de Justiça, para a Defensoria Pública  e para fiscal do  Ministério do Trabalho. Passou nos três, e optou pelo último. Após três anos de formado e de prática forense, foi convidado por um amigo a prestar o concurso da magistratura. A concorrência era grande, e ele só tinha três meses para estudar.
 
Conquista
 
“Tinha amigos que estavam estudando há mais de três anos. Perguntei a Deus qual era a minha chance de passar, tínhamos mais de 20 candidatos por vaga. Fiz a prova, passei para a segunda fase e fui para a prova oral com 16 candidatos. Lembro que pediram para eu ligar ao meio-dia do dia seguinte. Liguei, e para minha surpresa, a moça respondeu: você passou, e prepare-se   porque o primeiro colocado é quem faz o discurso de posse”, relembra emocionado.
 
Pai de três filhos e casado, o juiz não esconde a alegria de poder proporcionar uma vida melhor à família. “A preocupação é  em alertá-los para os percalços da vida e manter o ímpeto deles de lutar  pelo que querem. Hoje quem faz todas as compras de mercado  sou eu. Um prazer que não tinha até virar adulto”.
 

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