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Brasília

O Auto da Camisinha: peça aborda educação sexual nas escolas públicas

Arquivo Geral

10/05/2018 19h43

Foto: Kleber Lima

Rafaella Panceri
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Apresentada em escolas públicas do Distrito Federal neste ano, a peça teatral O Auto da Camisinha aborda o tema sexo e doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, de maneira divertida e direta a adolescentes com idade a partir de 14 anos. Escrito em linguagem de cordel, o espetáculo conta a história de um casal sertanejo que se prepara para ter a primeira relação sexual. Os atores se comunicam com o público com linguajar popular para se referir às genitálias do homem e da mulher. O assunto, porém, causou polêmica na internet. Internautas classificam a linguagem e a abordagem como inadequadas.

Alunos do Centro de Ensino Fundamental 5 de Sobradinho assistiram ao Auto da Camisinha nessa quarta-feira, no auditório da escola. Segundo a coordenadora da escola, Marina Pereira, a peça demonstra de maneira adulta um assunto cada vez mais cotidiano na vida dos adolescentes. “Eles sabem como fazer e fazem sexo, mas não têm noção das consequências. É uma atividade muito importante dentro da escola”, avalia.

Foto: Kleber Lima

Reações do público
Diretor da peça e ator da Companhia Hierofante, Anderson Floriano reconhece que o número já despertou reações negativas. “Já apresentei a peça 640 vezes em 23 anos. Já vi espectadores pedindo para parar. Há quem se divirta e quem ache absurdo, mas nosso papel é provocar a reflexão”, define.
“Cuidamos para que não seja vulgar, mas temos uma linguagem direta. Ensinamos o uso da camisinha com um pênis inflável gigante. Muito diferente das aulas de educação sexual que utilizam uma banana para exemplificar”, compara Floriano.

O pênis gigante, utilizado ao final da peça para ensinar aos alunos como usar a camisinha, causou polêmica na internet. Em páginas do Facebook como Paranoá News, há um vídeo de uma das apresentações em uma escola de Planaltina. “Quando os pais acham que os filhos estão na escola aprendendo geografia, história, inglês e língua portuguesa, estão assistindo à peça teatral ‘pega, pega na minha rôla'”, diz o texto da publicação, ao se referir a uma música do espetáculo.

“Me admira a postura da direção em contratar e não analisar se é conveniente para os alunos. A equipe de teatro talvez não tenha a pedagogia necessária para trabalhar com alunos. Sem noção é a direção!”, comentou uma mulher. “Misericórdia! Que absurdo é esse: Meu Deus! Onde iremos parar num país desse?”, escreveu outra.

Foto: Kleber Lima

Palavreado juvenil
Na internet também houve comentários positivos sobre o conteúdo da peça: “Educação sexual é feita assim, gente. Vocês têm o quê na genitália? Banana e anéis de cebola? Não! É pênis e vagina mesmo”, contra-atacou uma mulher. Um homem endossou: “Infelizmente sabemos que o conservadorismo e a falta de informação sobre o assunto não permitem aos pais versar sobre o assunto”.

A psicóloga e sexóloga Bruna Cella defende que não existe idade ideal, mas sim linguagem adequada para abordar o tema com adolescentes. “A peça poderia ser menos expressiva, mas os adolescentes não teriam interesse. Com 14 anos, estão extremamente preparados para ouvir isso”, opina. “Se os pais observarem em casa, na televisão, nos celulares e tablets, descobrirão coisas que tornarão a peça irrelevante”, complementa.

Sobre a linguagem do Auto da Camisinha, que utiliza apelidos dados à genitália, a sexóloga considera natural, com base nos atendimentos em consultório e literatura relacionada. “Mais difícil é você ouvir alguém dizendo pênis e vagina. Os apelidos são muitos e fazem parte do palavreado dos adolescentes”, explica. “Pais e mães acabam se chocando porque não observam o comportamento deles. Muitas vezes, eles já tiveram um acesso muito mais profundo a essas informações”, pontua.

Foto: Kleber Lima

Convite do Unicef
O Auto da Camisinha é apresentado pela Companhia Hierofante e percorre escolas públicas do Distrito Federal neste ano com apoio do Fundo de Apoio à Cultura do DF. O investimento no projeto, segundo a Secretaria de Cultura, é de R$ 80 mil. O espetáculo está em cartaz desde 1999 e já esteve em sete estados brasileiros, nos Estados Unidos — durante o Brazilian Day — e em São Tomé e Príncipe, a convite do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

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