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Brasília

Para levantar bandeira da superação, ex-usuário de drogas corre até São Paulo

Arquivo Geral

29/11/2017 7h00

Carlos Edson Medeiros chegou a correr com uma mochila de 15kg nas costas. Foto: João Stangherlin

Pedro Marra
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A cada passada de Carlos Edson Medeiros, 36 anos, pela BR-050, caía um pingo de suor nos mais de 1000 km de distância entre Brasília e a Cracolândia, área central da capital paulista. A aventura do ex-dependente químico começou no último dia 21 de outubro, em Santa Maria, onde o ex-vigilante nasceu.

Nas costas, uma mochila de 15kg cheia de suprimentos e roupas para realizar a maratona com um único objetivo: combater as drogas. Após suar a camisa por seis horas diárias durante 18 dias, o agora corredor comemora o feito de ter superado os mais de 20 anos como usuário de entorpecentes. “Me tornei um novo homem e reconheci a minha real capacidade como ser humano”, orgulha-se Carlos Edson.

O corredor arrecadou em torno de R$ 600 de voluntários ao longo do percurso e gastou aproximadamente R$ 2 mil com estadias. “Quando chegamos no estado de São Paulo, ninguém dava um copo d’água. Um dia estávamos em um hotel, no outro em uma barraca, mas felizes pelo feito”, recorda.

O empresário Fábio de Oliveira, 32 anos, acompanhou, de carro, o amigo no percurso – ele também foi usuário de drogas por 10 anos.

O corredor ficou mais de 20 horas sem comer, nos 75km de distância entre duas cidades goianas. “De Luziânia (GO) até Cristalina (GO), eu só tomei água”, lembra o atleta. Após Cristalina, Fábio mergulhou na aventura. “Foi prazeroso, mas cansativo. Eu não passava da terceira marcha e ainda dividíamos espaço com os caminhões”, afirma. Os dois chegaram à capital paulista em 9 de novembro.

Família

A rotina de ver o filho em casa vez ou outra afligia Joaquina Rosa, 68 anos, mãe de Carlos. Aliviada, ela comemora a mudança na vida do filho. “Me orgulha ouvir das pessoas que me veem agora como sendo a mãe do corredor Carlos”, vibra. Mesmo enquanto ele usou entorpecentes, o filho Rubens Medeiros, 11 anos, não se distanciou do pai. “Achei muito legal de saber que ele voltou a viver uma vida saudável e sem drogas”, celebra o garoto.

Desde o início do ano, Carlos Edson participa do grupo Corredores de rua de Santa Maria (Corsam-DF). E sua presença já tem influenciado bons resultados nos companheiros de corrida, como a instrutora de autoescola Daniela Oliveira, 33 anos. Ela corre três vezes por semana e comemora. “É um orgulho ter ele como exemplo, tanto que saí do sedentarismo. Após um mês, perdi 6,5 kg.”

A gerente do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Santa Maria, Adriana Câmara, auxiliou Carlos por sete anos, o que rendeu dele uma atitude voluntária. “Precisávamos enviar um relatório dos pacientes para a Secretaria de Saúde e ele correu os 34km até a Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs), na Asa Sul, só para fazer a entrega”, recorda.

Saúde x vício

Especialistas na área da saúde condenam a aventura de Carlos Edson. Na avaliação do psicólogo esportivo e que também atende pacientes usuários de drogas, Rafael Sfreddo, isso não é saudável. “Ele poderia ter desmaiado e vomitado. Chega uma hora em que o corpo pede para parar”, comenta. Para ele, o dependente químico tende a ser compulsivo. “Eles (usuários) têm lapsos, como masturbação, repetição de ideias e no caso dele, a prática de esporte intensa. E ele achou um prazer diferente da droga”, analisa.

O preparador físico de alto rendimento, Carlos Carvalho, reconhece a motivação do atleta, mas alerta sobre os cuidados com o corpo diante de um trajeto longo. “Sem estar preparado, ele teve sérios riscos de lesionar as articulações e a musculatura. Não o aconselharia a correr essa distância sem estar bem treinado e sem uma avaliação médica”, pondera.

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