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Brasília

Pane expõe falhas do Hospital de Base

Arquivo Geral

27/03/2018 7h00

Reprodução

Raphaella Sconetto
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Há 17 dias com problemas no ar-condicionado do Instituto Hospital de Base (IHBDF), as cirurgias eletivas precisaram ser suspensas até que o transtorno seja resolvido. A expectativa é de que ainda leve 15 dias para que o serviço esteja finalizado. Sindicatos denunciam a falta de manutenção e afirmam que pacientes e servidores estão sofrendo com a ausência da refrigeração. A própria gerência da Unidade Cirúrgica vai além nas queixas, e aponta que só o setor precisa de mais 184 funcionários.

Quem depende do serviço relata que o pronto-socorro e a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) são os locais mais abafados. A mãe da operadora de caixa Selma Maria de Carvalho, 38 anos, passou pelos dois espaços. A senhora de 73 anos está com anemia e cirrose. Ontem, conseguiu uma vaga na UTI. “Estava dando falta de ar com aquele tanto de gente no pronto-socorro. Na UTI está a mesma coisa: muito quente, minha mãe chegou suando. O que dá para fazer é abanar com um pano”, detalha.

Selma denuncia ainda a falta de material para alguns procedimentos. “Minha mãe precisa fazer lavagem intestinal. Eu disse que poderia comprar, mas falaram que o hospital não recebe materiais de outras farmácias. Depois de muita insistência, liberaram. Só assim para ela receber o tratamento”, critica. “Está um descaso, está insuportável”, acrescenta.

A estudante Fabíola da Silva Pinto, 25 anos, acompanha a mãe que está com anemia e problemas renais. A mulher de 52 anos está no pronto-socorro. “Os rins pararam de funcionar. Ela está esperando cirurgia, mas a máquina não está funcionando”, conta. A jovem relata o calor, principalmente à tarde. “Fica tudo abafado. Para piorar, minha mãe está do lado do banheiro. O cheiro fica horrível”, destaca.

Sindicatos denunciam

O vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem (Sindate), Jorge Vianna, confirma que os dois locais são os mais sofrem com a falta do ar-condicionado. “No centro cirúrgico é fundamental tê-lo, porque é um local que tem bactéria e, se estiver em ambiente quente, ela se prolifera mais rápido”, indica.

Ainda segundo Vianna, as cirurgias podem ter complicações. “Dependendo do procedimento, as equipes passam seis horas ou mais. Sem o ar-condicionado, os médicos e enfermeiros começam a transpirar, por conta do foco da luz, e esse suor, que é contaminado, pode pingar e cair na cavidade da cirurgia. Aí um paciente que está fazendo uma cirurgia eletiva, sem risco, pode desenvolver infecção”, alerta.

O Sindate esteve no local na semana passada para verificar a situação. Ali, recebeu a informação de que um médico passou mal por conta das altas temperaturas. “Nos reunimos com o diretor e ele disse que a rede é antiga. Para mim, não interessa se é antigo ou não. O centro cirúrgico está operando sem ar-condicionado e oferecendo risco de contaminação. A gente esperava que a criação do Instituto desburocratizaria processos de manutenção, mas não adiantou nada”, critica.

Alternativas

Para amenizar o calor, servidores e pacientes estão levando ventiladores. É o que alega o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde (SindSaúde). “Está um caos”, resume a presidente do sindicato, Marli Rodrigues. “Pacientes que precisam ser operados, em caráter emergencial, ficam submetidos às dificuldades”, completa. Ela alega que o mau cheiro é forte nos corredores.

Conforme Marli, o que pode ter causado o estrago no ar-condicionado foi um erro. “Foram aumentar a intensidade, ou reconectar algo, e acabaram estragando”, alega a sindicalista.

Versão oficial

Segundo o gerente da Unidade Cirúrgica do Instituto Hospital de Base, José Gebrim, os problemas do ar-condicionado estão sendo solucionados. A expectativa da equipe de manutenção e da engenharia clínica do hospital é de que em até 15 dias o ar-condicionado esteja funcionando. “Estão trabalhando desde sexta-feira para solucionar“, garante. Aquele dia, conforme Gebrim, foi a data em que houve mais cancelamentos de cirurgias eletivas.

“Dezesseis cirurgias foram suspensas na sexta. Mas eram pacientes que estavam em casa, e nós ligamos pedindo para não virem. No hospital, havia 14 pacientes internados esperando pela cirurgia, e nós fizemos os procedimentos”, alega. “Já adotamos o plano de contingência várias vezes, quanto tivemos outros problemas pontuais. As eletivas são aquelas que podem ser postergadas que não vão oferecer risco aos pacientes, então eles podem aguardar alguns dias. Se fizéssemos os procedimentos, seria colocar os pacientes em um risco que não é cabível”, afirma. O gerente da Unidade Cirúrgica dimensiona o problema: “Não é só ar-condicionado. Falta pessoal. Em uma semana após a criação do Instituto, quando chegamos aqui notamos um déficit de funcionários. Só o centro cirúrgico precisa de 184 funcionários para que funcione bem do jeito que está hoje. As 708 vagas previstas no processo seletivo (que está suspenso) fazem falta. Não adianta instalar ar-condicionado se não tiver recursos humanos”, conclui.

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