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Brasília

Pais recorrem a guarda-costas para filhos nas baladas

Arquivo Geral

17/02/2017 7h00

Atualizada 16/02/2017 22h33

Karoline ingressou no serviço por acaso e agora aposta na novidade. O namorado, Hélio, também entrou nesse mercado e agora eles trabalham juntos. Foto: Myke Sena

Daniel Cardozo
Especial para o Jornal de Brasília

Imagine contratar alguém para vigiar e proteger seus filhos adolescentes em festas e eventos sociais. Ter alguém que observe os hábitos e controle a hora de saída e chegada em casa. Parece absurdo? Não para famílias de classe média que já contratam esse serviço e se dizem mais tranquilas com a precaução extra.

Postagens em grupos de mães nas redes sociais recomendam profissionais desse tipo. De saídas para resolver questões escolares até festas à noite, os seguranças acompanham adolescentes nem sempre para vigiar, mas para principalmente evitar violência e imprevistos.

Os seguranças os acompanham nem sempre para vigiar, mas para principalmente evitar violência e imprevistos.

A ideia de oferecer esse serviço surgiu sem querer. Depois de seis anos como brigadista e vigilante patrimonial, Karoline Christos, 34 anos, ficou desempregada. Após muitas portas fechadas, veio uma oportunidade. “Uma amiga me ofereceu dinheiro para cuidar dos filhos em um passeio. Deu certo. Resolvi expandir o serviço e espalhei a notícia”, contou.

Já se foram dois anos atendendo crianças, adolescentes e idosos, respaldada pelo curso de primeiros socorros. Recentemente, Karoline recebeu a ajuda do namorado, o técnico de informática Hélio Lacerda, 37, que já está envolvido com a área e pretende se especializar.

O trabalho varia de acordo com o tipo de evento, o perfil do protegido e o combinado com os pais. O meio de transporte pode ser o carro de Karoline, o do cliente ou Uber. “Temos horário determinado e o cliente arca com o ingresso”, contou. As intervenções da segurança são escolhidas pelos pais e podem ser desde uma observação mais próxima até uma presença discreta. Mas ainda assim, a vigilante nunca trabalhou em segredo.

“Os adolescentes sabem que estou lá por eles. Nunca me pediram para atuar sem que a pessoa soubesse, mas, se surgir, posso fazer”, garantiu. Ainda assim, a vestimenta é geralmente preta, para não chamar atenção. Os preços variam de R$ 400 a R$ 600, dependendo da periculosidade, do ambiente e transporte.

Perfil

As crianças e os adolescentes atendidos têm perfil variado e o estudo prévio garante uma atuação mais ciente dos riscos. “Conseguimos identificar o perfil de imediato. Ao chegar ao ambiente, com sua turma, já percebemos como eles são. Os pais também passam muita informação”.

Sem nem ao menos anunciar na internet ou possuir material gráfico, Karoline já possui clientela fixa. Alguns pais já têm o costume de contratar os serviços. Karoline garante nunca ter encontrado muita resistência dos adolescentes, mas nem todos gostam da proteção. “Alguns se sentem um pouco incomodados, mas outros já até mostram para os amigos e falam ‘olha, eu tenho uma segurança’. Uma menina tentou fugir de mim uma vez, mas consegui ir atrás e não a perdi de vista”, relembrou.

“Vigiar os passos não é a intenção”

A vida corrida fez a advogada Ana Amélia Oliveira, 36 anos, ter menos tempo para estar com os dois filhos, Ana Vitória, 14 anos, e Vitorino, 11 meses. Com medo da violência, ela sempre teve o costume de acompanhar a filha em eventos sociais. Um dia, sem ter como levá-la em um compromisso, Ana Amélia lembrou de um contato que tinha sido recomendado por amigos, meses atrás. “Recebi a indicação de um grupo de amigos sobre o serviço e, quando o dia chegou, não tive dúvidas. Seria o teste perfeito. De dia e sem grandes riscos. Deu tudo certo”, contou.

A mãe já sabia que chegaria o momento em que não poderia acompanhar Ana Vitória em uma festa. E, dessa vez, combinou a saída novamente e deu tudo certo. Ana Amélia não encara o serviço de proteção como algo invasivo nem pretende vigiar os passos da filha. “Construí uma relação de confiança com ela. Agora que tenho menos tempo, achei importante ter alguém para me ajudar em relação a isso. Nela eu confio. É dos fatores externos que quero protegê-la”, explicou.

A ida à festa deixou Ana Vitória tranquila e ela até apelidou sua segurança de secret girl. Para uma jovem de 14 anos, a estudante parece despreocupada em relação à privacidade. “Ela é muito discreta e eu me senti muito mais segura com ela por perto. Nós definimos gestos e, caso eu esteja incomodada com alguma coisa ou queira ir embora, ela está atenta e já sabe o que fazer”, contou.

Ana Amélia se diz segura em relação ao serviço e pretende contratá-lo até sentir que a filha está pronta para sair desacompanhada.

Ponto de vista

A preocupação com segurança e o medo do envolvimento com drogas devem ser avaliados pelos pais, de acordo com especialistas. A psicóloga Gabriela Barros, da União Terapêutica Domiciliar em Saúde Mental, explica que a confiança entre pai e filho deve ser maior do que qualquer outra precaução e vê com ressalvas a contratação de seguranças. “Existe uma linha tênue entre proteção e invasão de privacidade. É preciso desenvolver uma relação sólida desde a infância. A adolescência é um período de mudança de identidade. Será que um profissional acompanhando vai contribuir positivamente para a formação desse adolescente?”, questiona. Para a psicóloga, cada caso precisa ser avaliado individualmente, mas também pode haver prejuízos. “Em uma relação onde já não existe muito diálogo, a contratação de um segurança pode provocar ainda mais desgaste”, ponderou.

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