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Brasília

Operação Paiol: policial da reserva era principal fornecedor de armas para criminosos

Arquivo Geral

12/04/2018 9h32

Jéssica Antunes

Jéssica Antunes
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O principal fornecedor de armas e munições a criminosos do Distrito Federal é um policial militar da reserva. Preso na manhã desta quinta-feira (12) em Vicente Pires, durante a segunda fase da Operação Paiol, o subtenente Décio Antônio Gonçalves mantinha um arsenal em própria casa, onde recarregava e vendia munições para pessoas envolvidas em crimes, especialmente para suspeitos de Ceilândia e Samambaia. Em duas fases, 22 pessoas já foram presas por supostamente integrarem a organização criminosa especializada na venda e aluguel de armamentos e cartuchos.

“Chegamos à principal fonte de abastecimento. O militar realizava comércio ilegal de munições e era fonte de outros integrantes da organização que repassavam para criminosos que cometiam crimes por todo o DF e Entorno. Ele recarregava a munição e vendia em sua própria residência”, conta Victor Dan, delegado-chefe da 23ª Delegacia de Polícia, no Setor P Sul, em Ceilândia, que conduz as investigações. De acordo com ele, o suspeito poderia recarregar munições em estandes de tiros, mas jamais vendê-las. “A comercialização ilegal abastece a criminalidade”, diz.

Décio Antônio Gonçalves foi surpreendido em sua casa de alto padrão ainda na madrugada de ontem, em Vicente Pires. O militar foi transferido para a reserva em abril de 2016, após mais de 30 anos de serviço. Na casa dele, foram encontradas 16 armas e mais de dez mil munições, muitas de uso restrito das forças armadas. Além disso, foram encontrados dinamites, prensas de recarga e máquinas para montagem de munições. O policial vendia munições recarregadas de todos os calibres e a comercialização era feito por trocas de mensagens no WhatsApp e no boca a boca com os criminosos.

Mais de 200 investigadores foram às ruas ainda na madrugada para o cumprimento de 18 mandados de prisão e de busca e apreensão em regiões administrativas da capital e em três cidades goianas. Outros dois militares envolvidos também foram alvos, sendo um ativo da Força Aérea e outro reformado do Exército, que já havia sido recluso na primeira fase da operação. Juntos, eles são acusados de intermediar a venda de fuzis para bandidos.

A ação ocorreu simultaneamente nas cidades de Ceilândia, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires, além dos municípios goianos de Anápolis, Aparecida de Goiânia e Jaraguá. No Estado vizinho, dois suspeitos são agentes penitenciários. Conforme as investigações, os envolvidos no esquema teriam atuado nos últimos três anos com negociação de armas curtas e de grosso calibre para quadrilhas especializadas em crimes como roubos, tráfico de drogas e homicídios.

A Polícia Civil deve investigar individualmente os armamentos apreendidos para identificar a origem. Segundo o titular da 23ª DP, as investigações continuam e existem mais suspeitos na mira. Ainda não se sabe, porém, como o grupo tinha acesso às munições.

PRISÕES

A operação foi deflagrada com seis mandados de prisão, quatro temporárias e duas preventivas, outros 11 mandados de condução coercitiva e 17 de busca e apreensão. Dos seis mandados de prisão, cinco foram cumpridos na manhã de ontem. Além do subtenente, foram presos Diego Henrique, Lucas de Araújo, Mickey Dandiny Alves da Silva, Vilmon Rodrigues de Souza e Thiago ngelo Machado. Todos eram investigados há um ano.

Segundo as apurações, o militar ativo da Aeronáutica Thiago ngelo é um dos integrantes do grupo criminoso que comprava as armas para revender. Mickey e Vilmon são apontados como criminosos que adquiriam o armamento da quadrilha. Um terceiro militar, aposentado do Exército, já havia sido preso na primeira fase da operação e novamente foi alvo. Além disso, ocorreram três prisões em flagrante durante os cumprimentos dos mandados, da mulher de Décio, que tentou esconder uma arma na bolsa, um homem com moeda falsa e um terceiro com mandado aberto por tráfico.

SAIBA MAIS
A Polícia Militar do Distrito Federal informou que o subtenente responderá na Justiça comum pelo crime, não na militar. Além disso, será procedimento apuratório para analisar as circunstancias do fato. Procurada, a Força Aérea Brasileira informou que um processo administrativo será aberto e, após a conclusão da apuração, o militar poderá ser punido com o licenciamento do serviço ativo, o que significaria sua exclusão das fileiras aeronáutica. Em nota, a FAB diz repudiar as atitudes dessa natureza, que atua para coibir desvios de conduta e que colabora nas investigações.

MEMÓRIA
As investigações começaram após um assalto com reféns em uma casa de Ceilândia. Na ocasião, a polícia identificou que armas de uso exclusivo do Exército foram utilizadas. Em 7 de março, 17 pessoas foram presas na operação que apreendeu armas, munições, drogas e dinamites usadas na explosão de caixas eletrônicos. O principal alvo da operação foi o ex-militar do Exército Brasileiro e ex-policial militar de Goiás Pedro Henrique Freire de Santana. O esquema era alimentado por cerca de 30 pessoas e cada munição, dependendo do calibre, chegava a ser vendida por R$ 10. As duas fases da operação somam 22 presos e 24 armas apreendidas.

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