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Brasília

ONG ensina pessoas que se recuperam do vício em drogas a trabalhar com agronomia

Arquivo Geral

19/01/2017 7h00

Fábio passou a maior parte da vida no vício de diferentes drogas. Tratado, espera se reinserir no mercado de trabalho. Foto Angelo Miguel

Jéssica Antunes
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Contribuir para a ressocialização de dependentes químicos por meio de capacitação profissional é o mais novo programa terapêutico da Salve a Si, comunidade que acolhe e trata quem resolveu mudar de vida há quase dez anos. Com as mãos literalmente na terra, os recuperandos aprendem a trabalhar com agronomia e conceitos de produção de mudas, agrofloresta e horticultura. Com diploma debaixo do braço, podem buscar inserção no mercado de trabalho.

Saiba mais

  • O tratamento na Salve a Si é gratuito e, em dez anos, já acolheu mais de três mil homens em situação de vulnerabilidade causada por dependência de substâncias psicoativas, como álcool e drogas. A capacidade é de 120 pessoas e há convênio com o Governo de Brasília.
  • O acolhimento é voluntário e preza pela participação da família e acompanhamento semanal terapêutico aos parentes em reuniões externas semanais. O tratamento vai de seis meses a um ano.

O projeto ainda engatinha e ganha força. Cerca de 20 rapazes que se recuperam do vício em drogas escolheram participar da ação, que deve durar três meses. “Caminhamos juntos para enfrentar os problemas pós-tratamento. Queremos quebrar o paradigma de que a maioria dos que saem da reabilitação recaem e oferecer qualidade de vida pós-recuperação”, explicou o engenheiro agrônomo Alan Costa, um dos idealizadores e voluntários do projeto chamado Integrare.

Terapia

Concluído o processo, eles podem trabalhar na própria fazenda na Cidade Ocidental (GO), sede da comunidade terapêutica, ou receber oportunidades de parceiros. “O interesse dos acolhidos não é pelo trabalho, mas pela terapia. Melhora a relação com os outros e com eles mesmos. Depositamos neles a fé de que podem não só trabalhar sustentavelmente, mas se tornar empreendedores de fato”, ressalta Costa.

Por enquanto, o que é plantado é dividido entre o consumo na comunidade e a produção do sopão entregue há um ano às pessoas em situação de rua na Rodoviária do Plano Piloto. No futuro, a intenção é que a produção seja suficiente para venda e torne a comunidade independente, e até mesmo amplie a participação com outras instituições.

Dignidade

Aos recuperandos, há palestra e orientações sobre produção de mudários, agricultura orgânica e ecologia. “Desenvolvemos a questão do meio ambiente e bens renováveis e certificamos o acolhido para que ele possa procurar um trabalho depois de recuperado, capacitado e com as mãos cheias de calos. Oferecemos a oportunidade de dignidade para evitar que volte às ruas ou à criminalidade”, explica Henrique França, presidente da entidade.

Esperança de dias melhores

Fábio Rodrigues, 38 anos, passou mais tempo de vida sob efeito de drogas do que limpo. A inserção foi aos nove anos. Morador de Planaltina, ele busca a recuperação pela segunda vez. Após a primeira, a dificuldade foi justamente conseguir emprego. “Vou atrás, sou comunicador, esforçado, enfrento qualquer tipo de trabalho, mas tem preconceito demais”, diz.

Ele vê no programa terapêutico um caminho para a vida. “Tenho uma visão de esperança. Vou me dedicar e dar o sangue por isso”.

“Retomar a vida”, objetiva Leandro da Silva, que chegou a Brasília há pouco mais de um mês para se tratar. Nascido em Campo Alegre (GO), ele conheceu o vício há dois anos. “Não cheguei fisicamente ao fundo do poço, mas emocionalmente. Tinha vergonha”, lembra. O rapaz cresceu em fazenda e, com a vivência, o interesse em participar do projeto surgiu. Quer voltar para casa e trabalhar com a terra.

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