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Brasília

Obra que matou técnico em edificação era tragédia anunciada

Arquivo Geral

23/10/2017 7h37

Myke Sena/Jornal de Brasília

Jéssica Antunes
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Embargada, interditada, intimada a ser demolida e multada a mais de R$ 13 mil, a obra do prédio em Vicente Pires que desabou e matou um homem de 55 anos, era tragédia anunciada. Segundo a Agência de Fiscalização (Agefis), o prédio sofreu autuações desde dezembro de 2016, quando ainda estava no segundo pavimento. Na sexta-feira passada, sete andares ruíram sobre Agmar Silva. Desde o início do ano, 1.152 obras irregulares e ilegais foram autuadas na região e mais de 700 construções estão em andamento, conforme a administração.

Desta vez, o descumprimento da lei tirou a vida do mineiro de Patos de Minas, que sequer trabalhava no local. Familiares ouvidos pela reportagem preferem o anonimato. Empresário e técnico em edificações, o homem era sócio de um escritório que prestava serviços à obra. “Ele foi chamado para opinar quando a estrutura começou a dar problema”, conta uma dos quatro filhos, aos prantos.

No dia do acidente, havia nove pessoas no interior do prédio. Oito trabalhavam ali e saíram ilesas. À Defesa Civil e ao Corpo de Bombeiros, o mestre de obras garantiu que todos haviam saído. Agmar, porém, não conseguiu escapar e teria sido prensado entre lajes próximo a uma escada na rota de saída. Cães farejadores indicaram o possível local da morte, onde foram identificados sangue, fezes e tecido.

Versões prejudicam resgate

Para a família, houve omissão por parte dos responsáveis pela obra. “Eles mentiram. Se tivessem avisado, ele poderia ter sido resgatado antes”, desabafou uma sobrinha.

Lourival Correia, major do CBMDF, garante que desde o início trabalhou-se com a possibilidade de vítimas, com ou sem vida. “No início, como informaram que todos conseguiram sair, não fizemos a retirada imediata de escombros. Deixamos assentar e diminuir a poeira porque o outro prédio poderia cair”, explica.

Monitoramento

  • Das 1.152 obras autuadas em Vicente Pires pela Agefis, 227 tiveram autos de intimação demolitória, de embargo e de infração. “Grande parte das obras foi multada por estar fora dos parâmetros de diretriz urbanística estabelecidos no projeto de regularização”, explicou a pasta, em nota. Segundo a agência, a região tem programação fiscal ininterrupta e monitoramento constante.
  • Sem plano urbanístico, obras estão suspensas em Vicente Pires, mas a proibição não é suficiente para inibir ações. Em maio, a administração regional identificou 706 construções, 310 comerciais. Na cidade, sequer é possível conceder a licença de execução de obras.

Responsáveis pela obra “desaparecem”

Após a queda, os responsáveis pelo prédio e pela obra não foram encontrados. Eles não retornaram ao local do acidente. “Sem eles, não tivemos certeza se havia vítima nem o possível local onde poderia estar. A indicação daqueles que estavam no momento seria chave para nós”, revela o major Lourival Correia.

A estrutura que cedeu fazia parte de uma construção de dois blocos que seria destinada a uma faculdade. Com a queda, a estrutura do bloco ao lado foi comprometida na base e há risco de nova queda. Equipes de engenharia foram contratadas para fazer o escoramento do prédio.

“Tudo foi interditado. Os donos do edifício terão que apresentar laudos de segurança e testes de corpo de prova, que indicarão se respeitaram as regras da engenharia”, informou Sérgio Bezerra, subsecretário de Defesa Civil.

Segundo apurou a reportagem, o proprietário da edificação foi orientado a manter-se distante do acontecimento. Procurado ainda na sexta-feira, Lucas Vilela desligou o telefone quando a reportagem do Jornal de Brasília se identificou. Em outras tentativas, negou que o imóvel pertencesse a ele.

Apesar disso, o engenheiro contratado para escorar o local confirmou que foi acionado por ele, no dia do acidente. No entanto, o homem não atendeu mais às ligações. (Colaborou João Paulo Mariano)

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