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Brasília

“O socorro demorou”, queixa-se testemunha do assalto que matou mulher no DF

Arquivo Geral

07/09/2018 19h06

Atualizada 08/09/2018 10h32

Lanchonete onde mulher foi morta, no Assentamento 26 de Setembro. Foto: Francisco Nero/Jornal de Brasília

Francisco Dutra
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A morte da líder comunitária Elaine Monteiro, 37 anos, escancara o abandono do Assentamento 26 de Setembro, localizado nas vizinhanças de Taguatinga e Vicente Pires. “Escutei o tiro. Quando cheguei, ela estava viva. Tinha pulso e respirava. Ligamos para o socorro, mas demorou. Ela foi fechando os olhos. Demoraram meia hora para chegar. Não tinha mais jeito. Colocaram um pano branco sobre o rosto dela”, conta, emocionada, uma testemunha do crime. Com medo na criminalidade na região, a pessoa pede para o nome ser preservado.

O relógio marcava 3h50 de sexta-feira (7). Elaine outros moradores estavam no bar Kabana, na Rua 4. Eles foram surpreendidos por dois adultos e uma adolescente armados que invadiram o estabelecimento anunciando assalto. Quando o trio estava deixando o local, as vítimas reagiram e detiveram a adolescente, agredindo-a. Mas o comparsa reagiu disparando. Uma bala feriu Elaine. Outra mulher foi alvejada no braço e um homem no queixo. Ambos foram socorridos para hospitais.

Na avaliação do presidente da Associação de Moradores do 26 de Setembro, Miguel Rodrigues, a região está abandonada. “Máquinas da Agefis para derrubadas não faltam, mas segurança, saúde e educação não chegam aqui. Nosso assentamento tem 22 anos de existência. Somos 12 mil moradores e 7 mil famílias em situação de abandono. Até quando? Quantos ainda vão morrer até as autoridades abrirem os olhos? Aqui não tem nada. Não tem policiamento, escola nem creche”, desabafa. Para moradores, o tráfico de drogas também é um problema crescente.

Mãe fez adolescente se entregar

O que chocou mais ainda a população é o fato de pelo menos dois envolvidos no crime serem moradores da própria região. Segundo relato dos moradores, após o assalto, a adolescente voltou para as casas aos prantos. “A mãe dela percebeu que algo estava errado. E quando descobriu tudo fez a própria filha ligar para o 190”, relata Rodrigues. A Polícia Militar apreendeu a menor. “Minha filha estudou com ela até pouco tempo. Ela desistiu dos estudos”, conta uma moradora da região, pedindo para o nome ser mantido em segredo.

A PM prendeu ainda o comparsa Samuel Fernandes, 25 anos. O rapaz também vive na vizinhança. E segundo a PM, tem uma longa ficha com sete passagens criminais quando maior, sete inquéritos, quatro termos circunstanciados e oito Mandados. “As pessoas diziam que ele era o terror da região. Mas de que adianta? Prende, solta, prende, solta”, diz um morador em conversa reservada. Até o fechamento desta reportagem, as autoridades estavam atrás do paradeiro terceiro elemento do crime. O caso será conduzido pela 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires).

Marcas de sangue perto do local onde mulher foi morta. Foto: Francisco Nero/Jornal de Brasília

Vítima resistia a ações da Agefis

Elaine deixa um marido e duas filhas, uma com 11 e outra com 7 anos. O viúvo viajou com as crianças para uma cidade de Minas Gerais. Conforme o relato de vizinhos, Elaine pelejava para comunidade. “Ela levou spray de pimenta da Agefis contra derrubadas. Sempre batia de frente pelo povo”, conta um amigo de cinco anos da família. Na noite desta sexta (7), a vizinhança pretende fazer uma oração em homenagem para Elaine.

O assentamento é um dos palcos do drama da ocupação desordenada no Distrito Federal. Moradores enfrentam o conflito entre a regularização das casas já construídas e a pressão de novas ocupações.

Versão oficial

Leia, na íntegra, a nota das autoridades de segurança enviada ao JBr.:

A Polícia Militar informa que dois suspeitos por este crime foram presos e um terceiro se encontra foragido, porém já tem a identidade conhecida. A PMDF realiza o patrulhamento diário na região por meio de viaturas. Quando demandados, os grupos especializados como Patamo e Rotam, além do GTOP, auxiliam no policiamento. Vicente Pires conta com um posto policial, localizado na Vila São José.

A Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social informa que o latrocínio é um dos três crimes contra a vida monitorado de forma prioritária pelo programa Viva Brasília – Nosso Pacto pela Vida. O crime tem apresentado redução em todo o Distrito Federal: foram 15 casos entre janeiro e agosto deste ano contra 24 no mesmo período do ano passado.

A SSP/DF esclarece que, para coibir este e outros crimes, tem trabalhado na identificação dos locais mais vulneráveis para que, tanto a Polícia Militar quanto a Polícia Civil, elaborem seus planejamentos operacionais, melhorando o patrulhamento ostensivo, a investigação de crimes e a desarticulação de quadrilhas.

A Secretaria de Saúde também se manifestou informando que não há previsão de construção de Unidade Básica de Saúde no Assentamento 26 de Setembro, “mas a comunidade da região conta com assistência nas UBS de Vicente Pires e de Taguatinga”. Sobre a suposta demora da equipe do Samu, o serviço estaria verificando o ocorrido.

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