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Brasília

“Não podia imaginar que fosse a minha esposa”, diz marido de mulher atropelada por ônibus

Arquivo Geral

14/03/2018 11h56

Claudineia Oliveira Teixeira. Foto: Reprodução

Raphaella Sconetto
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O medo de um assalto vitimou uma mulher no P Sul. Ao fugir do roubo em um ônibus , Claudineia de Oliveira Teixeira, 37 anos, acabou atropelada pelo motorista do coletivo, por volta das 5h30 desta segunda-feira. Ela pegava a linha todos os dias para ir até o trabalho, que fica na L2 Sul. Moradores da região relatam que sofrem constantemente com assaltos, principalmente no início da manhã. À noite, a Polícia Civil apreendeu um adolescente envolvido no caso, mas um comparsa seguia foragido. O enterro da vítima vai ser nesta quarta-feira (14), às 15h30, no cemitério Campo da Esperança de Taguatinga.

O marido da auxiliar de serviços gerais estava incrédulo com a notícia que recebeu. “Eu até soube que tinha um corpo na via do P Sul, mas nunca podia imaginar que seria da minha esposa”, lamenta o mecânico Elton Oliveira Machado, 52 anos.

Ele tinha o costume de deixar a mulher todos os dias no Terminal do P Sul, onde ela pegava um ônibus para ir ao trabalho. “Com essa onda de assalto nas paradas, comecei a levá-la para a parada todo dia para evitar. Mas hoje (ontem) não teve jeito. Aconteceu”, desabafa.

Elton conta que nessa terça-feira ele deixou a esposa no ponto do ônibus por volta das 5h30. A notícia da morte veio às 7h. “Revoltar-se não adianta. O sentimento que fica é de tristeza. Esse é o país que vivemos, onde as coisas não funcionam, onde as pessoas saem para trabalhar e podem ser roubadas. Fica só a tristeza”, conclui. Claudineia deixa também um filho de 19 anos. O velório está marcado para hoje, a partir de 12h, no cemitério de Taguatinga.

 

Dinâmica do crime

Segundo informações da Polícia Civil, dois homens entraram no ônibus da empresa Marechal anunciando o assalto e exigindo que todos entregassem os aparelhos. Nas imagens da câmera interna do veículo é possível ver que os passageiros se desesperaram e correram para a frente do ônibus, onde fica a saída, pressionando para que o motorista parasse.

Em meio aos momentos de tensão, Claudineia saltou do veículo antes mesmo que ele terminasse de parar, e logo os passageiros ouviram um barulho do ônibus passar por cima de algo. Uma testemunha, que estava atrás da mulher, viu Claudineia descer do ônibus e percebeu que ela se desequilibrou, caindo. A auxiliar de serviços gerais foi atropelada com as rodas da parte do meio da composição articulada.

Por outro lado, as informações divulgadas pela Polícia Militar dão conta de que, ao descer, Claudineia também foi atingida por um Fiat Siena que passava. Só então ela teria caído por baixo do ônibus e, sem ver, o motorista acelerou e a atropelou. O caso é investigado pela 23ª Delegacia de Polícia (P Sul).

Em fevereiro, a média foi de seis assaltos por dia em transporte coletivo no Distrito Federal, totalizando 173 crimes dessa natureza no mês passado. Se comparado com o mesmo mês em 2017, a capital registrou uma queda de 39,5% nos assaltos em ônibus: foram 286 em fevereiro do ano passado. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública.

 

Versão Oficial

De acordo com a Polícia Militar, o posto da corporação, que fica próximo às paradas do final da Elmo Serejo, serve apenas como ponto de apoio às viaturas. “A PMDF tem implantado, desde 2016, a Operação Anjo da Guarda, que consiste em abordagens e buscas pessoais a coletivos e paradas de ônibus em todo o DF. As abordagens são realizadas pelos grupamentos táticos (Gtop) dos batalhões de cada região administrativa, pelo Batalhão de Motopatrulhamento Tático, Patamo, Rotam e pelo CPTran”, alega, em nota. No ano passado, mais de 22 mil coletivos foram abordados.

Além disso, a corporação indicou que só o 10º Batalhão da PM (Ceilândia) prendeu e apreendeu, nos dois primeiros meses do ano, 336 pessoas, enquanto o 8º Batalhão (também em Ceilândia) fez 607 prisões e apreensões. “ Além disso, o 8º e 10º BPM já retiraram de circulação 44 armas de fogo apenas nesses dois primeiros meses do ano, o que resulta consideravelmente na redução de crimes graves como o homicídio e o latrocínio. Esses números são o resultado do constante policiamento feito nas ruas da cidade”, conclui.

 

Roubos frequentes na região

Quem mora na região onde ocorreu o assalto reclama da falta de segurança. Rubens José Ferreira, 38 anos, tem um quiosque de lanche e bebidas próximo à última parada da Elmo Serejo – a cerca de 500 metros do local onde Claudineia foi atropelada. Em frente ao seu comércio há um posto da Polícia Militar, mas, mesmo assim, Rubens relata que é comum ouvir que pessoas são assaltadas ali.

“No ano passado nos roubaram. Fui até o postinho, mas eles falaram que não podiam fazer nada, que eu tinha que registrar boletim de ocorrência na Polícia Civil. A impressão que passa é de que aquilo é fachada. Os bandidos não respeitam nem a polícia mais”, ataca.

No dia 6 deste mês, o comerciante teve o seu quiosque arrombado. “Levaram várias caixas de cigarro, cerveja e outras bebidas alcoólicas. Desses dias para cá, tive que fazer grade, porque a segurança estava pouca. Aqui é perigoso”, afirma.

A estudante Mariana do Nascimento, 24 anos, evita ao máximo pegar ônibus por conta do medo de ser assaltada. “Sempre tem alguém contando que foi assaltado, principalmente de manhã. O perigo não é nem nas ruas, é justamente nas paradas”, relata. Segundo a estudante, as reclamações aumentam ainda mais no horário de verão. “Quando ainda estava escuro, tinha muito arrastão”, conta.

Assim como ela, a dona de casa Irismar de Lima Neves, 54 anos, nunca foi assaltada nas paradas de ônibus. “Mas minha filha e meu genro, sim. Eles saem de manhã para trabalhar”, diz. Para Irismar, o problema não é só falta de policiamento. “Parece que os bandidos sabem quando a polícia vai estar ou não”, critica. “Quando a gente vai pegar ônibus não pode trazer nada. Deixo o celular em casa, só ando com o necessário”, conclui.

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