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Brasília

Muros da Vila São José, em Brazlândia, ganham o colorido do grafite

Arquivo Geral

24/06/2018 15h26

Raphaella Sconetto
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As cores pálidas e os muros sujos deram espaço ao colorido do grafite. A comunidade da Vila São José, em Brazlândia, recebeu neste domingo (24) a segunda edição do Fest Povos – encontro nacional de grafiteiros e grafiteiras. Pelo menos cem artistas, locais e nacionais, participaram da ação que tem como objetivo transformar a paisagem cinza das comunidades carentes da capital em grandes galerias a céu aberto.

As pinturas começaram a ser feitas ainda na sexta-feira passada (22), onde foi pintado um painel em comemoração ao aniversário de 85 anos da região administrativa. No sábado, também houve atividade. Ao todo, até o final deste domingo, a expectativa é de receber cem grafiteiros de Brasília, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo.

Em Brazlândia, os artistas optaram por grafitar os muros que ficam na Quadra 36/37, onde há uma quadra de esportes. De acordo com o organizador da ação e morador da região, Davi Marcos, a Vila São José é um espaço representativo para a comunidade. Conforme ele, o local passa por problemas de infraestrutura, por isso, uma das intenções é chamar a atenção do poder público.

“A Vila São José está interligada com todos os conflitos da comunidade. Aqui a gente viveu emoções, tristezas, alegrias, vimos colegas morrerem, vimos colegas viraram jogador de futebol. Esse ponto é onde a juventude mais velha vinha e tem uma representatividade muito forte para Brazlândia. Aqui é a periferia da cidade, então as coisas são mais emergentes”, pontua.

A escolha dos locais que vão receber os grafites não é à toa. Ainda conforme Davi, o projeto estará somente nas comunidades mais carentes do Distrito Federal. “Temos uma vasta galeria a céu aberto no DF, mas queremos levar uma ação em conjunto e que tenha grandes proporções nas periferias.

Juntos: população e grafiteiros

Pelas ruas, a comunidade olhava atentamente a cada manifestação artística. A parceria entre população e grafiteiros deu certo. O vendedor Gilson das Neves Sousa, 41 anos recebeu seis grafites no muro de sua residência. Para ele, a intervenção deixará sua casa mais bonita.

“Sempre gostei da cultura do hip hop desde moleque. Alguns grafiteiros já conheço, sou amigo. Então deixei virem grafitar minha casa. Com certeza ela ficará mais bonita, mais colorida”, afirma.

Gilson das Neves Sousa, 41 anos recebeu seis grafiteiros no muro de sua residência. Raphaella Sconetto/Jornal de Brasília

Um dos que coloriu a residência de Gilson foi o tatuador e grafiteiro Deusvandes Araújo. Enquanto a reportagem esteve no local, ele fazia os traços e rabiscos do que, mais tarde, se transformaria em um robô. “É um crítica à sociedade. Estamos todos virando robôs: é trabalho, casa, trabalho. Temos que viver mais a vida, curtir”, alega.

De acordo com o organizador da ação, pelo menos 40 moradores pediram para receber o grafite. “É gratificante ver que a aceitação do nosso trabalho é grande. Os moradores estão junto da gente. Quem sabe não teremos que estender o grafite por mais alguns dias aqui em Brazlândia”, completa Davi Marcos.

Artistas locais e nacionais

Bianca Vieira, 32 anos, – ou Bia Vieira como é conhecida no meio – veio de Cabo Frio (RJ). Ela é uma dos cem artistas urbanos que participaram da ação. Pela primeira vez em Brasília, Bia afirma que, mais que reencontrar colegas, o grafite a permite conhecer novas culturas. “Costumo pintar dentro da minha comunidade. Lá sempre vejo os mesmos grafiteiros, os mesmos estilos do grafite. Quando viajamos assim conheço novas culturas, além de rever algumas amizades”, aponta.

Suas pinturas representam, principalmente, a mulher brasileira. “Gosto de mostrar o contraste da força e delicadeza. As pessoas embalam as mulheres no frasco da delicadeza. Então coloco tudo que uma mulher gosta e tudo que ela pode vir a ser”, admite.

Bianca Vieira veio de Cabo Frio (RJ) grafitar em Brazlândia.

O grafiteiro Gilmar Satão está há 25 anos trabalhando com as manifestações artísticas, principalmente em Ceilândia. Na capital, ajudou a fundar o instituição DF Zulu que promove e incentiva a cultura hip hop. Para ele, o grafite ajuda a levar informações da periferia e representar os que moram ali.

“O objetivo do grafite é expandir, abrir os horizontes. A partir disso, a gente consegue colorir, passar informações pelo olhar de quem mora na periferia. E isso faz com que a própria comunidade adote o grafite como uma forma de expressão artística”, afirma.

Além disso, ele conta ainda que há um retorno através da revitalização dos espaços. “Tem a questão de embelezar um muro. Então, muitos moradores vêm nos elogiar, agradecer por estarmos grafitando.  Conseguimos conversar com todos, dialogar com quem mora perto, de forma bem clara. É bom saber que trazemos uma alegria”, finaliza.

A primeira edição do encontro nacional aconteceu na Chácara Santa Luzia, na Estrutural. Uma terceira edição acontecerá em novembro, mas a  organização do Fest Povos ainda não definiu uma região administrativa.

 

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