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Brasília

Mulher agredida no Itapoã já tinha sido vítima do marido

Arquivo Geral

23/01/2018 7h00

Homem estava no portão, bêbado, quando a vítima chegou do trabalho. Foto: João Stangherlin

Jéssica Antunes
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As marcas estão pelo corpo, nas mãos inchadas, nas unhas escuras, no galo na cabeça. Mas também são internas e expostas na fala acuada, no olhar baixo e nas meias-palavras. Mais uma mulher foi vítima do companheiro e quase perdeu a vida no Distrito Federal, dessa vez no Itapoã. Era domingo à noite: dia da semana e período com maior número de ocorrências de agressões contra mulheres, conforme estimativa da Secretaria de Segurança. No caso, o homem havia bebido e estaria transtornado, mas não era a primeira vez.

“Já aconteceu outras vezes”, desabafou com voz baixa, quase inaudível, a mulher de 36 anos ao Jornal de Brasília. Balconista, ela havia chegado em casa do trabalho por volta das 22h quando se deparou com o companheiro bêbado na frente do portão, com uma garrafa de bebida em mãos. A primeira ameaça teria sido logo após, quando ele começou a amolar uma faca. Ao registrar o boletim de ocorrência na 6ª DP (Paranoá), ela relatou à polícia as palavras ditas pelo agressor: “Hoje vou te matar”.

A vítima foi agarrada pelos cabelos e, apesar das súplicas para que fosse libertada, foi jogada no chão. Foi quando ela bateu o rosto no solo, gerando um hematoma. Do chão, ela saiu correndo em busca de socorro e foi perseguida. Com uma régua para puxar concreto, o homem, que trabalha como pedreiro, a agrediu na cabeça e pelo corpo. Ela foi amparada por vizinhos, que garantiram à reportagem que nunca viram discussões.

Choro e arrependimento

O objeto, banhado de sangue, foi levado à delegacia. O homem, também. No caminho, segundo a Polícia Militar, ele demonstrou arrependimento, chorou e disse que não tinha motivo para a agressão. A mulher também chorou – de dor, raiva e desespero. Na casa humilde no Itapoã, a mulher diz que tem medo e garante que está bem, apesar de não parecer. Ontem, ela não conseguiu trabalhar. No Tribunal de Justiça, foi feito o pedido de medida protetiva de urgência. O homem foi autuado por tentativa de feminicídio.

Perto dali, a menos de um quilômetro, outra família passava por algo parecido no mesmo horário. Um homem de 38 anos foi levado pela PMDF à delegacia após agredir a esposa e uma filha adolescente. Ele também estava alcoolizado e sujo. Segundo informações da Polícia Civil, o homem teria se alterado após a filha mandá-lo tomar banho. “O autor teria puxado o cabelo da jovem, xingando a ela e a esposa”, diz o boletim de ocorrência.

Dia, lugar e hora mais frequentes

Major Michello Bueno, porta-voz da Polícia Militar, explica que o maior número de casos de violência doméstica acontece aos fins de semana e feriados. “Há ocorrências todos os dias, mas o volume é maior nesses dias. Primeiro porque os casais estão juntos, mas também porque costuma haver consumo de bebidas alcoólicas”, explica. No último domingo, diz, foi “um chamado atrás do outro”.

A fala é comprovada por números. Uma média de 40 mulheres é vítima de violência doméstica diariamente no DF. A maioria dos casos ocorre entre sexta e domingo, sendo este último o dia com maior incidência, geralmente entre 18h e 0h. Até setembro do ano passado, último mês disponibilizado pela Secretaria de Segurança, 10.810 mulheres foram vítimas. Somente no Itapoã, onde os dois casos aconteceram, foram 231.

A maior consequência da violência é a morte e, nesse caso, o homicídio é qualificado como feminicídio. No ano passado, o crime cresceu mais de 200%, passando de 15 ocorrências para 49. No Itapoã, foram três casos de mulheres que quase perderam a vida nas mãos de companheiros. A maior parte das agressões acontece dentro das próprias residências.

Memória

No sábado anterior, um homem esfaqueou a ex-companheira em uma festa no Recanto das Emas por ciúme. A mulher, de 37 anos, sofreu perfurações no pescoço, ombro e cabeça e está internada no Hospital Regional de Taguatinga. A vítima teria virado as costas quando ele tentava falar com ela. A mulher está em outro relacionamento há um mês e tem cinco filhos, sendo dois com o homem que a esfaqueou.

Uma semana atrás, Anne Mickaelly, 22 anos, foi vítima de feminicídio. Ela foi morta a golpes de faca em Samambaia Sul por um vizinho, um homem de 46 anos, que alegou estado de fúria. O acusado se apresentou à polícia quatro dias depois e foi liberado após prestar depoimento. Ao confessar o crime, ele contou que partiu para cima da jovem com a faca usada para cortar carnes dos churrasquinhos que vende.

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