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Brasília

Morte em delegacia: família apresenta fotografias de lesões e confronta laudo

Arquivo Geral

20/07/2017 6h30

Foto: Divulgação/Família

Manuela Rolim e Raphaella Sconetto
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Os familiares do motorista Luís Cláudio Rodrigues Figueiredo, 48 anos, encontrado morto dentro de uma cela da 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), na semana passada, contestam a versão preliminar apontada pela Polícia Civil. No domingo, dia do enterro do funcionário terceirizado da Caixa Econômica Federal (CEF), a corporação afirmou que “os peritos de local não visualizaram em Luís qualquer lesão externa, que não aquela proveniente do próprio enforcamento”. No entanto, ontem, imagens do corpo da vítima, feitas após a necropsia do Instituto Médico Legal (IML) e divulgadas pelos próprios parentes, rebatem a versão da PCDF.

Conforme mostram as fotografias, segundo a família, o motorista apresenta pelo menos nove hematomas espalhados pelo corpo. É possível ver lesões nas costas, no pescoço, no cotovelo, no tornozelo, no quadril e nos pulsos. As marcas, em sua maioria, são roxas.
De acordo com o cunhado do homem, Marcos Eustáquio, 48 anos, o restante da família não sabia da existência das imagens por motivos de segurança. “Somente eu e os advogados sabíamos. As fotos foram feitas na funerária, após o corpo ter saído do IML, onde nos disseram que só uma pessoa poderia entrar e fazer o reconhecimento por uma janelinha do caixão”, conta.

Marcos ressalta que a decisão de divulgar os arquivos veio depois que eles tiveram conhecimento, pela imprensa, de que a Polícia Civil não apontou nenhuma lesão externa inicialmente. “Agora tudo veio à tona. Tanto o IML como o Instituto de Criminalística dizem que não houve nenhuma lesão. Se tivesse sido mencionada a presença de algum ferimento no laudo, sem número exato mesmo, era uma coisa, mas não tem”, argumenta.

Boletim de ocorrência

Além de terem o acesso negado ao IML, os parentes questionam a demora para ter acesso ao boletim de ocorrência. “Não temos nem o número dela. Fomos pegar e disseram que está bloqueado”, alega o cunhado. Ele também informou que o Ministério Público vai exigir o documento. Enquanto o resultado da perícia não é divulgado, os familiares clamam por resposta. “Ninguém entrou em contato com a gente, nem a Polícia Militar nem a Civil. Eu quero a ‘verdade verdadeira’ do caso, porque a ‘verdade falsa’ a gente já tem”, critica Marcos.

Mais uma vez, ele nega a hipótese de suicídio. “A família nunca acreditou nisso. O Luís era uma pessoa alto astral, alegre. Ele foi encontrado morto ajoelhado, eu vi a posição que ele estava. Cade o sangue que não tem no nariz? Cadê a urina no chão?”, questiona. Após a divulgação das imagens, o JBr. voltou a procurar o sargento da Rotam, envolvido na ocorrência antes de o motorista ser levado à delegacia. Ele disse não ter visto as fotos e garantiu que soube da reprodução pela mídia. “Mais uma vez, digo que entreguei o Luís intacto e sem nenhum arranhão na delegacia. O que aconteceu lá dentro eu não sei”, reafirmou.

Saiba mais

Questionada sobre os hematomas evidenciados nas imagens; o fato de a família não ter acesso ao boletim de ocorrência; e se já foi feito um novo pedido de perícia no corpo, a comunicação da Polícia Civil se limitou a dizer que as ocorrências passam por homologações internas. Logo, ficam disponíveis para a retirada um dia útil após o registro. O restante das perguntas não foi respondido. Já a Secretaria de Segurança, quando procurada, disse para questionar a PCDF, que “está respondendo sobre o assunto”, ainda que o JBr. tenha explicado que contestaria o papel do Estado no caso. O Ministério Público aguarda o fim das investigações para se pronunciar.

Foto: Arquivo pessoal

Foto: Arquivo pessoal

Perito avalia elementos

Segundo o presidente do Sindicato da Categoria dos Peritos Oficiais Criminais do DF, Bruno Telles, o suicídio de presos não é novidade. “No entanto, normalmente acontece nos presídios, simplesmente pelo fato de que eles não chegam a passar nem um dia completo na DP. Logo, a probabilidade é infinitamente menor”, informa.

Telles explica ainda que a forma como o Luís foi encontrado na cela, de joelhos flexionados, é muito comum. “É a suspensão incompleta. Na verdade, nada tem a ver com os enforcamentos mostrados em filmes. Dessa forma, a pessoa interrompe a circulação para o cérebro e perde a consciência em segundos, ou seja, desmaia primeiro. Em seguida, morre por falta de oxigenação. O processo é bem rápido, entre três e seis minutos presenciamos o óbito”, detalha.

O especialista, que não está trabalhando no caso e fez uma análise geral da situação, ressalta a fragilidade do corpo humano. “Às vezes, um puxão forte no pescoço com uma camiseta ou qualquer outro objeto já é suficiente. Algumas pesquisas mostram que uma pressão de apenas seis quilos nessa região pode ser fatal”, acrescenta.

Telles completa que o processo é silencioso. “Ninguém fica se debatendo ou emite algum tipo de barulho. O desmaio acontece imediatamente. Não estamos falando de uma luta corporal. Portanto, é possível que nenhum policial tenha escutado nada”, afirma. Questionado sobre a possibilidade da vítima urinar, sangrar e apresentar marcas após o ato, Telles declara que “cada caso é singular”.

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