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Brasília

Morte em delegacia do DF sob investigação

Arquivo Geral

15/08/2017 7h00

Atualizada 14/08/2017 22h42

Giovânio chegou a ser agredido por populares depois de fazer manobras perigosas. Foto: Reprodução/Facebook

Raphaella Sconetto
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Exatamente um mês depois, um caso semelhante. Um homem de 43 anos foi encontrado morto dentro de uma cela da 27ª Delegacia de Polícia, no Recanto das Emas, às 4h35 de ontem. Giovânio Alves da Silva teria cometido suicídio com a própria calça. O homem havia sido preso por dirigir sob influência de álcool pela Polícia Militar na noite de domingo, na Quadra 403 da região administrativa. O caso remete ao de Luís Cláudio Rodrigues, encontrado morto na cela da 13ª DP (Sobradinho).

Segundo a PM, a abordagem aconteceu por volta das 21h30, após populares ligarem informando que a vítima dirigia de maneira perigosa. As pessoas, inclusive, teriam agredido Giovânio, que foi encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região por conta de escoriações. O próprio homem teria relatado à Polícia Civil que foi ferido por populares. De acordo com a PCDF, os militares também fizeram o teste do bafômetro, que constatou 1,11 mg/l.

Ao chegar à delegacia, a família dele foi informada de que teria de pagar fiança, mas não fez o pagamento. Mais tarde, às 4h35, os policiais civis encontraram Giovânio enforcado com a calça que usava dentro da cela. Relatos apontam que havia outro homem preso, que presenciou o suposto suicídio. Segundo a PCDF, imediatamente foi solicitado o socorro ao Corpo de Bombeiros. Mas, quando a equipe chegou ao local, o homem não apresentava sinais de vida.

A Polícia Civil informou que foi instaurado um procedimento para apurar os fatos e a perícia foi realizada pelo Instituto de Criminalística, que divulgará o laudo em 30 dias. O Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial (NCAP), do Ministério Público do DF, tomou ciência do caso e está procedendo às pesquisas sobre o assunto. “Se for o caso, será instaurado um procedimento interno para fins de acompanhamento das investigações”, alega, em nota. Nem a família nem o delegado da DP quiseram falar sobre o caso.

Procedimento polêmico

O presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol), Rodrigo Franco, questiona a recomendação do Ministério Público sobre manter os presos com suas roupas. “Esse procedimento tem favorecido que esses casos acabem acontecendo. Antes da recomendação, os policiais faziam a avaliação de cada caso. Algumas pessoas chegavam a ficar com o mínimo de roupa, de sunga e camiseta, por exemplo, para evitar esse problema”, aponta.

Franco alega que desde a morte do Luís Cláudio, no mês passado numa cela da 13ª Delegacia de Polícia, o sindicato pediu providências para garantir a integridade dos presos. “Pedimos, por exemplo, para alterar a arquitetura da cela, para não ter um ponto onde a pessoa pudesse amarrar uma roupa, e, no lugar das janelas, colocar uma chapa. Mas nenhuma dessas medidas foi tomada”, afirma.

Ainda de acordo com o presidente do Sinpol, os últimos dois casos têm um agravante: o álcool. “Depois da agitação com a bebida, vem a fase da depressão. Aí as pessoas envergonhadas com a situação usam a roupa para pôr fim à vida”, acredita.
Casos de suicídios de detentos, seja em delegacias ou em penitenciárias, são mais comuns do que se imagina. “É que não se fala muito sobre isso, e quando acontece tem a sensação de novidade. Mas sempre aconteceu, principalmente nas penitenciárias”, afirma Bruno Telles, presidente da Associação Brasileira de Criminalística (ABC). “Normalmente, eles se enforcam com peças de roupas, toalhas ou cinto”, completa.

Para Telles, é necessário que a sociedade passe a falar mais sobre o suicídio e, principalmente, mostrar que há tratamento: “É normal ter depressão no mundo de hoje, e para o homem reconhecer que está doente é mais difícil ainda. Está na hora de quebrar o silêncio”.

Relembre

O motorista da Caixa Econômica Federal Luís Cláudio Rodrigues foi encontrado morto há um mês na 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho). Ele também foi preso por dirigir embriagado. O teste do bafômetro apontou 1,35 mg/l. O caso de Luís foi apontado como suicídio, já que o escrivão da unidade policial o encontrou enforcado dentro da cela com uma camisa. A versão é rebatida pelos familiares.

De acordo com o cunhado de Luís, Marcos Eustáquio, a hipótese de suicídio é descartada por eles. “A gente sempre bateu na tecla, desde a saída da delegacia, de que é impossível o suicídio. Ele foi encontrado ajoelhado. Não tinha sangue no nariz, nem marca de urina no chão”, apontou Eustáquio, na época.

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