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Brasília

Morte em delegacia: depoimentos sobre “gravata” dada em motorista preso divergem

Arquivo Geral

21/07/2017 6h30

Missa de setimo dia luis claudio Rodrigues Foto: Myke Sena

Manuela Rolim e Raphaella Sconetto
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As primeiras testemunhas do caso do motorista Luís Cláudio Rodrigues Figueiredo, encontrado morto dentro de uma delegacia há uma semana, começaram a ser ouvidas ontem, na Corregedoria da Polícia Civil. Entre elas, segundo a família de Luís, está um homem que confirmou ter visto um escrivão dar um golpe conhecido como “gravata” no detido.

De acordo com o advogado da família do motorista, Paulo César Machado Feitosa, a oitiva foi convocada com base em nomes que constam no boletim de ocorrência. Um dos interrogados é um parente de Luis, que se apresenta apenas como “compadre” dele, e não teve o nome revelado pela defesa.

Ainda de acordo com o advogado da família, no dia do incidente, a testemunha, logo após saber que Luis Cláudio teria se envolvido em uma confusão com um policial militar, foi à delegacia para ajudar o parente. “Ele foi à 35ª primeiro, por volta das 15h20, e lá informaram que não tinha nenhum Luis Cláudio. Aí ele foi correndo pra 13ª. Chegando lá, eles confirmaram que o Luis estava”, detalha.

Ao chegar ao balcão da delegacia, a testemunha teria perguntado sobre Luís e se poderia vê-lo. Porém, os policiais não autorizaram. “[A testemunha] não conseguiu ver nem ouvir o Luís Cláudio”, relata Feitosa.

Trecho contestado

“Um fato importante que uma testemunha veio dizer é que ela viu o policial militar – que abordou o motorista – dizendo para a família que o escrivão da delegacia tinha dado uma ‘gravatada’ no Luís e jogado ele longe. O sargento disse ainda que o policial era alto e forte”, conta o advogado, que confirmou o porte físico do escrivão. Entretanto, na quarta-feira passada, o Jornal de Brasília entrou em contato com o militar em questão e ele negou participação no diálogo apontado.

Além desse assunto, o policial da Rotam teria também conversado com os familiares alegando que a batida do carro foi pequena e que ele mesmo faria o conserto do veículo. Esse trecho, sim, o PM confirmou ao JBr..”A testemunha viu o sargento mostrando o carro para a família, que insistiu em pagar pelo dano”, diz Feitosa.

Questionada sobre os depoimentos de ontem, a assessoria de comunicação da Polícia Civil não repassou nenhuma informação, alegando que todo o processo da Corregedoria corre em sigilo.

Saiba mais

No dia 14 deste mês, Luís Cláudio Rodrigues foi encontrado morto dentro de uma cela na 13ª DP (Sobradinho). Ele havia sido detido horas antes, após ser flagrado dirigindo embriagado e se envolver em uma colisão na rua onde morava. Na ocasião, Luís encostou em um GM Cobalt preto, veículo que pertence a um sargento da Rotam. O militar, então, acionou uma equipe e encaminhou o motorista à delegacia. Horas depois, ele apareceu morto.
Preliminarmente, a Polícia Civil afirmou que os peritos não detectaram nenhuma lesão no corpo de Luís e afirmou que se tratava de um caso de suicídio. No entanto, imagens do motorista morto indicam a existência de hematomas.

“Nossa dor aumentou”

Mais tarde, às 19h30, a família de Luís Cláudio Rodrigues Figueiredo se encontrou na Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Sobradinho. Alguns parentes, inclusive o filho, o brigadista Kaio Vinícius Figueiredo, 27, vestiam uma camiseta em homenagem ao motorista. “Continuamos muito abalados. Na verdade, até mais, depois da divulgação das fotos do meu pai machucado. Nossa dor foi aumentada. Hoje (ontem), espero sair dessa igreja um pouco melhor”, declarou o brigadista.

Já a irmã da vítima, a estudante Marta Rodrigues Figueiredo, 54, ressalta que a família segue inconformada. “Desde o início, sempre soube que meu irmão jamais cometeria suicídio. As imagens dele ferido só confirmaram o que a gente já sabia. No dia do ocorrido, os policiais chegaram a dizer para a gente que meu irmão estava dormindo e perguntaram se não estávamos ouvindo o ronco. Fomos unânimes na resposta: ninguém está ouvindo nada”, completou.

Também na igreja, o cunhado de Luís Cláudio, o autônomo Marcos Eustáquio, 48 anos, que esteve na Corregedoria mais cedo, fez um apelo para que novas testemunhas procurem o Ministério Público. “Precisamos dessa ajuda. Depois de tudo o que vimos na mídia, ou seja, testemunhas garantindo terem visto o policial bater nele, acreditamos que o Luís já tenha chegado machucado na delegacia. Dizer que o Luís estava exaltado não justifica a agressão. Ele tinha que estar revoltado mesmo, era um cidadão de bem”, afirmou.Neste fim de semana, a família pretende fazer uma passeata pelas ruas de Sobradinho até a 13ª DP. “A ideia é cobrar respostas e Justiça”, concluiu o primo Eduardo Feitoza.

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