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Brasília

Metroviários mantêm greve e sindicato acusa risco em estratégia de operação

Arquivo Geral

16/11/2017 7h00

Foto: Myke Sena

Jéssica Antunes
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A greve dos funcionários da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô- DF) prejudica mais de 170 mil passageiros e completa uma semana. A Justiça do Trabalho determinou circulação de 90% em horário de pico e 60% nos demais horários. Na prática, a empresa realoca profissionais para garantir o funcionamento ao menos nos horários mais movimentados. A medida causa conflitos e o sindicato da categoria fala em risco à população.

O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários (Sindmetrô-DF) acusa a companhia de colocar empregados sem qualificação para realizar atividades operacionais sem treinamento nem acesso direto ao sistema. A entidade diz que, durante greves, o Metrô “exige e/ou anui, muitas vezes de forma velada, que empregados que exercem funções de chefia, sem o treinamento adequado, pilotem trens, o que coloca em risco a operação”.

Os grevistas acusam a companhia de colocar servidores com cargo de função para trabalhar e, consequentemente, assumir o controle dos trens. Em alguns casos, são pessoas que não pilotam há anos. Uma fonte ouvida pela reportagem garante que, apesar disso, não há risco aos passageiros, já que o serviço é automatizado. “No máximo, o que pode ocorrer é a pessoa colocada ali não saber o que fazer diante de uma falha e todos os trens precisarem parar”.

O Metrô garante que o funcionamento do o sistema é cumprido em sua totalidade e sem anormalidades. “Os profissionais que estão atuando na linha, tanto nas estações quanto nos trens, são empregados da empresa, contratados e qualificados para essas atividades”, assegura.

Elo mais fraco dessa queda de braço, a população é quem sofre. Há uma semana, o pintor Ailton Moreira, 24 anos, chega atrasado ao trabalho. “As estações abrem mais tarde, fecham mais cedo. Atrapalha a rotina”, diz. Caio Santana, fotógrafo de 23 anos, usa o transporte diariamente nos horários de pico. Ele garante que os trens estão mais cheios e acredita que funcionários, ainda que realocados, têm de ser preparados para a função para não provocar risco aos passageiros.

Nesta semana, um trem lotado circulou entre as estações Águas Claras e Arniqueiras com a porta aberta. Segundo o Metrô, o operador foi contratado e treinado como piloto. “Não há ninguém pilotando trem sem a devida atribuição contratual”, garante a empresa. O episódio, para a companhia, não foi falha no sistema, e tenta-se identificar o responsável pelo ato.

Memória

  • Há um ano, o Jornal de Brasília havia denunciado que o Distrito Federal deixava de arrecadar, todos os meses, de R$ 300 mil a R$ 400 mil com a falta de pessoal para vender bilhetes nas 24 estações do metrô. Na época, em vez de contratar os aprovados, o Metrô-DF abriu pregão eletrônico para locar, por um período de cinco anos, 38 terminais de autoatendimento para venda dos bilhetes, ao custo de R$ 327 mil mensais.
  • De acordo com a empresa, o valor da operação não poderia ser destinado para contratação de pessoal.

Sistema opera abaixo do exigido

Em decisão judicial, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT10) determinou a circulação de 90% dos trens em horários de pico e 60% nos demais horários. Apesar disso, durante a última semana, o metrô operou em 75% nos horários de pico – com 18 dos 24 trens -, parou completamente no sábado e funcionou, de forma especial, no domingo de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e no feriado de ontem.

“O Sindmetrô, até então, não forneceu o efetivo de empregados mínimo para o cumprimento da decisão judicial. Ou seja, há flagrante descumprimento da decisão judicial por parte do sindicato”, acusa a empresa. Do outro lado, a entidade diz que o Metrô “se nega” a construir a organização da operação de comum acordo.

Em virtude da falta de profissionais, as catracas tiveram de ser liberadas, mais de uma vez, somente na última semana. A medida é comum e gera perda diária. Nas contas do sindicato que representa a categoria, a estimativa de perda supera R$ 10 milhões em três anos. No ano passado, o prejuízo foi de cerca de R$ 1,7 milhão. Ontem, Metrô não tinha esse dado.

Reivindicações

Os funcionários pedem reajuste salarial de 8,4% e a contratação de 631 pessoas aprovadas no último concurso – 331 de forma imediata e 300 de cadastro reserva. Em 2015, após a última paralisação, o Executivo se comprometeu a cumprir as medidas.

O Metrô afirma que não há dotação orçamentária para reajustes. Em relação à nomeação, já tomaram posse 120 pessoas e o cronograma atenderá outros 126, que deverão ser empossados em fevereiro e maio de 2018.

“Durante a audiência de conciliação, realizada pelo Tribunal Regional do Trabalho, na sexta-feira, a Procuradoria Geral do DF sugeriu adiantar o cronograma. No entanto, não houve manifestação do sindicato”, afirma a companhia.

As negociações acontecem desde o início do movimento grevista, no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

Saiba mais

Desde a inauguração, muita coisa mudou no Metrô. Os agentes de estação que vistoriavam os terminais sumiram. Terceirizados, eles eram responsáveis por não deixar os usuários descumprirem normas como sentar no chão e ultrapassar a linha amarela da plataforma.

Em dias normais, o serviço funciona entre 6h e 23h30 de segunda a sábado, e das 7h às 19h aos domingos e feriados. O metrô circula na área sul do DF e abrange as regiões mais populosas, como Ceilândia, Taguatinga e Samambaia. O sistema tem 42,3 km de extensão. A estação com maior fluxo é a da Rodoviária: 20 mil pessoas por dia.

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